Ministro da propaganda do PC Chinês faz ofensiva em Portugal
Diplomacia. A dois meses de ficar fechada a venda do Novo Banco, Passos Coelho e António Costa reuniram- se com o homem que controla a comunicação do Politburo
O ministro da propaganda do Partido Comunista Chinês fez nesta semana uma ofensiva política em Portugal ao mais alto nível. À cabeça de uma delegação de 21 pessoas, Liu Qibao, dirigente máximo da propaganda e da comunicação do Politburo, reuniu- se com o primeiro- ministro e com o secretário- geral do PS. A visita acontece a dois meses da venda do Novo Banco, processo em que a China apresen- ta dois dos três potenciais compradores. Em São Bento e no Largo do Rato o tom é de prudência e reserva. Em Pequim atribui- se grande importância a esta visita. Os chineses, em Portugal, já são donos da EDP, da companhia de seguros Fidelidade e da Espírito Santo Saúde. São também dos maiores investidores em imobiliário e os que mais aproveitaram o programa dos vistos gold.
O ministro da propaganda do Partido Comunista Chinês ( PCC) fez nesta semana uma ofensiva política em Portugal ao mais alto nível. À cabeça de uma delegação de 21 pessoas, Liu Qibao, dirigente máximo da propaganda e da comunicação do Politburo, reuniu- se com o primeiro- ministro e com o secretário- geral do PS. A visita acontece a dois meses da venda do Novo Banco, processo em que a China apresenta dois dos três potenciais compradores ( ver texto ao lado).
Nem o gabinete de Passos Coelho nem o de António Costa tinham divulgado publicamente o encontro com Qibao, mas a China deu- lhe destaque. São Bento não quis adiantar pormenores da reunião realizada dia 1 de julho, em que participou também o embaixador da China em Portugal. “Tratou- se de uma audiência de cortesia solicitada pela Embaixada da República Popular da China em Lisboa, por ocasião da visita a Portugal do senhor Liu Qibao”, disse fonte oficial. No entanto, do lado chinês não foi essa a versão. De acordo com a agência de notícias Xinhua, “a visita de três dias a Portugal”( para inaugurar oficialmente um núcleo de comunicações em Portugal, com a comunidade local) foi “a convite do partido do governo, o PSD”.
O porta- voz oficial de António Costa também não quis entrar em detalhes sobre o conteúdo da agenda. “Fez parte das reuniões habituais que o secretário- geral tem com dirigentes de outros partidos, para assinalar o relacionamento entre partidos e países.” Com António Costa estiveram o presidente do PS, Carlos César, Sérgio Sousa Pinto e Francisco André, do gabinete de relações internacionais do partido.
Em fevereiro passado, Costa tinha elogiado o contributo do investimento chinês em Portugal nos últimos quatro anos, reconhecendo que a situação económica do país estava “muito diferente”. PSD e CDS aproveitaram para “agradecer” ao líder da oposição o reconhecimento de que o país estava melhor. No entanto, ontem, um dia depois de ter estado com Liu Qibao, numa entrevista ao Negócios, as palavras foram críticas: “Não tenho nada contra o investimento estrangeiro nem preconceito em relação à sua origem. Achamos que a China tem sido inteligente a perceber a oportunidade para tomar posição em vários setores estratégicos pela primeira vez na Europa. Aquilo que não nos deixa satisfeitos é verificar que até agora nenhum desses investimentos diretos estrangeiros serviu para criar ativos, novos projetos empresariais ou novos empregos”, salientou.
Ao contrário da reserva em Portugal, na China a visita de Liu Qibao foi divulgada com entusiasmo. A agência de notícias Xinhua escreve que Qibao salientou que “os laços entre Portugal e a China nunca foram tão fortes” e que o seu país “está disposto a reforçar ainda mais a confiança política mútua, aprofundar a cooperação, promover o intercâmbio pessoal, cultural e de meios de comunicação ”. Liu Qibao, 62 anos, militante do Partido Comunista Chinês desde os 18, inaugurou, durante a sua desl ocação um centro de multimédia, em língua portuguesa, com “informações sobre política, economia, cultura e desenvolvimento social” chineses. Um i nvestimento que vem ampliar as capacidades de difusão de conteúdos da já existente estação da Rádio Internacional da China e significa, segundo f ontes que estão a acompanhar este processo, “uma primeira fase da consolidação dos meios de comunicação chineses em países de língua oficial portuguesa, para divulgar uma imagem de modernidade da China como um parceiro para o desenvolvimento internacional”.
A diretora política da Embaixada em Lisboa, Guo Zongrui, sublinhou ao DN a “importância” da visita e dos “intercâmbios ao mais alto nível”, avançando que os países seguintes na rota de Qibao são a Rússia e a Espanha.