O sim e o não
Ninguém sabe o que vai acontecer amanhã na Grécia. À partida, incerteza e medo tendem a beneficiar o sim no referendo, pu nin do a reta final de Tsipras nas negociações já em clima de controlo de capitais e in - cumprimento ao FMI. O resultado disso seria a demissão do governo, entran do eventualmente em cena uma solução tecnocrata que assegurasse o regresso à negociação com a
troika, bem ao jeito do que Martin Schulz gostaria. Os tecnocratas podem ser os melhores amigos dos credores, mas contribuem muito pouco para a saúde das democracias, favorecendo extremos e populismos. Ainda vamos ouvir os líderes da zona euro dizer que teria sido preferível apoiar o governo de Tsipras em vez de perder a Grécia para a Aurora Dourada. Mas se em tese o sim pode beneficiar com a incerteza e o medo, as últimas horas podem ter contribuído para um assomo de apoio ao não, sobretudo nas faixas etárias mais novas. O dado relevante é obviamente o relatório libertado pelo FMI, a contragosto dos europeus mas apoiado pelos EUA, e rapidamente aproveitado por Tsipras na parte que lhe é politicamente favorável: afirmar a impossibilidade do pagamento da dívida, de garantir um nível mínimo de crescimento económico, reconhecer a inevitabilidade de um perdão parcial, admitir o alargamento das maturidades. Há, neste relatório, um duplo motivo de interesse. Por um lado, a frontalidade destas ideias. Por outro, o timing da divulgação. Se a primeira corresponde ao reconhecimento do falhanço da receita até agora levada a cabo na Grécia, o segundo indicia que Washington regressou finalmente à política europeia. Um dos mitos que caem é a irrevogabilidade do antiamericanismo da esquerda grega. Um dos erros que sobressaem é o facto de Tsipras ter demorado tempo de mais a conquistar Obama para o seu lado. Mais vale tarde do que nunca.