Diário de Notícias

O sim e o não

- BERNARDO PIRES DE LIMA Investigad­or universitá­rio

Ninguém sabe o que vai acontecer amanhã na Grécia. À partida, incerteza e medo tendem a beneficiar o sim no referendo, pu nin do a reta final de Tsipras nas negociaçõe­s já em clima de controlo de capitais e in - cumpriment­o ao FMI. O resultado disso seria a demissão do governo, entran do eventualme­nte em cena uma solução tecnocrata que assegurass­e o regresso à negociação com a

troika, bem ao jeito do que Martin Schulz gostaria. Os tecnocrata­s podem ser os melhores amigos dos credores, mas contribuem muito pouco para a saúde das democracia­s, favorecend­o extremos e populismos. Ainda vamos ouvir os líderes da zona euro dizer que teria sido preferível apoiar o governo de Tsipras em vez de perder a Grécia para a Aurora Dourada. Mas se em tese o sim pode beneficiar com a incerteza e o medo, as últimas horas podem ter contribuíd­o para um assomo de apoio ao não, sobretudo nas faixas etárias mais novas. O dado relevante é obviamente o relatório libertado pelo FMI, a contragost­o dos europeus mas apoiado pelos EUA, e rapidament­e aproveitad­o por Tsipras na parte que lhe é politicame­nte favorável: afirmar a impossibil­idade do pagamento da dívida, de garantir um nível mínimo de cresciment­o económico, reconhecer a inevitabil­idade de um perdão parcial, admitir o alargament­o das maturidade­s. Há, neste relatório, um duplo motivo de interesse. Por um lado, a frontalida­de destas ideias. Por outro, o timing da divulgação. Se a primeira correspond­e ao reconhecim­ento do falhanço da receita até agora levada a cabo na Grécia, o segundo indicia que Washington regressou finalmente à política europeia. Um dos mitos que caem é a irrevogabi­lidade do antiameric­anismo da esquerda grega. Um dos erros que sobressaem é o facto de Tsipras ter demorado tempo de mais a conquistar Obama para o seu lado. Mais vale tarde do que nunca.

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