Diário de Notícias

É dia de reflexão. Tribunal deu luz verde ao referendo

Decisão. Conselho da Europa disse que a consulta estava aquém dos padrões internacio­nais, mas juízes gregos rejeitaram apelo para a cancelar. Europeus tentaram travar relatório do FMI que Tsipras diz ser uma “desforra” para Atenas

- S USANA S A LVA DOR

Dois cidadãos gregos pediram ao Conselho de Estado, equivalent­e ao Supremo Tribunal Administra­tivo, para se pronunciar sobre a constituci­onalidade do referendo de amanhã. Alegavam no recurso que o plebiscito foi marcado em cima da hora, que a Constituiç­ão grega impede consultas populares sobre políticas fiscais e que a pergunta é muito complexa. Mas os 50 juízes deram luz verde à ida às urnas “Rejeitado. O referendo vai avançar”, disse o juiz presidente, Nikolaos Sakellario­u.

Hoje, uma semana depois de os gregos acordarem com a notícia de que o primeiro- ministro tinha convocado o plebiscito às primeiras horas da madrugada, é dia de reflexão. Amanhã, terão que dizer oxi ( não) ou nai ( sim) à proposta dos credores, que, na realidade, já não está em cima da mesa. Do lado da União Europeia, a mensagem tem sido de que o voto no não é um voto para a saída da zona euro. Em Atenas, o governo de Alexis Tsipras acusa Bruxelas de fazer “chantagem” e impor “ultimatos”.

A pergunta do referendo foi divulgada ao início da semana: “Deverá ser aceite o projeto de acordo que foi apresentad­o pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacio­nal no Eurogrupo de 25.06.2015 e que consiste em duas partes, que constituem a sua proposta unificada? O primeiro documento intitula- se ‘ Reformas para a Conclusão do Presente Programa e Mais Além’ e o segundo ‘ Análise Preliminar à Sustentabi­lidade da Dívida’.” A opção não surge por cima da do sim.

Segundo o Conselho da Europa, organizaçã­o regional de defesa dos direitos humanos, que se pronunciou na quarta- feira, o referendo está aquém dos padrões internacio­nais. Isto porque deveria ter sido convocado com pelo menos duas semanas de antecedênc­ia e ter uma pergunta mais simples. Argumentos que ontem o tribunal grego não teve em conta.

Mas segundo o ministro para as Relações Económicas Internacio­nais e principal negociador com os credores, Euclid Tsakalotos, o go- verno do Syriza convocou o referendo para evitar a sua queda. Em declaraçõe­s à Skai TV, o grego disse que as propostas apresentad­as aos credores “nunca teriam sido ratificada­s pelo Parlamento e teriam resultado na queda do governo”.

Na terceira intervençã­o televisiva no espaço de uma semana, Tsipras defendeu ontem que o que está em causa no referendo “não é a permanênci­a da Grécia na União Europeia”, mas “saber se a chantagem nos levará a aceitar a continuaçã­o de uma política que até os próprios credores reconhecer­am que é um beco sem saída”.

Tsipras referia- se ao relatório sobre a economia grega publicado na véspera pelo Fundo Monetário Internacio­nal ( FMI), que defendia que a dívida da Grécia ( atualmente nos 312 mil milhões de euros) não será sustentáve­l se não houver um perdão da ordem dos 53 mil milhões e um terceiro resgate de 36 mil milhões. Segundo o primeiro- ministro, o relatório é a “desforra” do governo grego, já que constata aquilo que Atenas sempre tem dito e justifica o seu apelo de pedir um referendo para rejeitar as propostas dos credores. Tsipras defendeu um perdão de 30% da dívida e um período de carência de 20 anos. Segundo a agência Reuters, os países da zona euro tentaram travar a divulgação do relatório numa reunião na quarta- feira do FMI em Washington, mas os EUA votaram a favor da sua publicação. Tsipras lamentou ontem que esta posição do FMI não tenha sido apresentad­a antes. “Isto nunca nos disseram a nós os credores [ que têm estado a negociar com Atenas].”.

Numa entrevista à rádio irlandesa RTÉ, o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, assegurou que um acordo com os credores está “mesmo à mão” e que as negociaçõe­s com as instituiçõ­es europeias têm estado a desenrolar­se, apesar da anunciada suspensão das mesmas. Uma declaração prontament­e negada pelo presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselblo­em: “Não foram enviadas novas propostas a Atenas, não estamos próximos de uma solução e não vamos falar com os gregos até que tenhamos um resultado do referendo.”

Tsipras defendeu perdão de 30% da dívida e um período de carência de 20 anos

 ??  ?? Apoiantes do nai ( sim em grego) encerraram ontem a curta campanha frente ao Estádio Panatenaic­o, em Atenas, palco dos primeiros Jogos Olímpicos da era moderna ( 1896). Segundo a contagem da polícia, o comício reuniu 20 mil pessoas
Apoiantes do nai ( sim em grego) encerraram ontem a curta campanha frente ao Estádio Panatenaic­o, em Atenas, palco dos primeiros Jogos Olímpicos da era moderna ( 1896). Segundo a contagem da polícia, o comício reuniu 20 mil pessoas

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