O império do mal
Otítulo de jornal mais tolo do ano foi publicado nos últimos dias: “Atentado em França. Não há portugueses mortos.” Olhar para o radicalismo islâmico desta maneira, como se fosse o infeliz desastre de um autocarro num sítio longínquo, é como ver a costa tunisina sem pessoas de férias, como acontece por estes dias, e pensar que isso é fantástico para o turismo português. O medo pode realmente desviar clientes para o Algarve, mas é como a maré – acaba sempre por subir e chegar cada vez mais perto. Há dias o primeiro--ministro Matteo Renzi enfureceu--se em Bruxelas por causa deste impasse. Disse que não aceitava perder mais tempo em reuniões intermináveis com outros chefes de governo que só olham para o umbigo. O assunto não era a Grécia, embora inevitavelmente envolva Atenas. Era o problema dos migrantes que chegam todos os dias sem que se compreenda a política europeia para gerir esta catástrofe, exceto que a ideia passa por chutar o problema para o país vizinho – atirando alguns euros na ânsia de maquilhar a vergonha. Acontece que nada se resolverá assim. Nem dentro da Europa, onde a radicalização islâmica de cidadãos da UE é um facto não resolvido e se junta à dos imigrantes radicalizados; como isso também não mudará nada nos limites geográficos europeus, onde a ausência de uma frente coesa, isto é, de uma verdadeira política externa da UE – com serviços secretos a funcionar –,é a chave para travar o êxodo na raiz. Enquanto no Egito, que prende ou expulsa jornalistas, ou na Líbia, que tem dois governos, um reconhecido pela comunidade internacional, em Tobruk, e outro pirata em Trípoli, ou ainda na Síria, devastada por uma guerra brutal, não encontrarem um ponto mínimo de equilíbrio, deste lado do Mediterrâneo continuaremos a meter água ea meter dó. O radicalismo islâmico é o verdadeiro inimigo do Ocidente. Não há meio- termo. Não serve esta política de meias- tintas.