“Programa do PS é conservador e pouco arrojado”
Quando o governo iniciou funções estava em marcha a reforma dos cuidados de saúde primários, que parece ter estagnado, se olharmos para o número de Unidades de Saúde Familiar ( USF) que abriram nos últimos quatro anos. Porquê este travão quando era um modelo reconhecido pela troika? Não é inteiramente verdadeiro que tenha havido um travão. O número de candidaturas para USF diminuiu nos últimos quatros anos. Desde que iniciámos funções devemos ter aberto 121 novas USF e isso corresponde a uma taxa de abertura em função do número das candidaturas superior a 90%. Depois, há um segundo aspeto que é o facto de as USF B, apesar de terem um conjunto de grandes virtudes, serem desproporcionadamente caras, nomeadamente na faceta dos recursos humanos, para aquilo que é a efetividade ganha. Quando as USF foram criadas, há sete anos, foi assumido que o preço justo era aquele. Não discuto o preço justo, o que discuto é capacidade de pagar do Estado. O que é preciso fazer é olhar para as USF, redefinir a carteira de serviços tendo em vista aquilo que são os ganhos de saúde pretendidos. A lógica será baixar os custos salariais com a integração das 40 horas semanais? Os colegas que entram já vão nas 40 horas. Este é um processo a longo prazo, mas que não pode passar nunca por reduzir os salários de quem já está a trabalhar. O desafio para a próxima governação é valorizar as Unidades de Saúde de Cuidados Personalizados, criar condições para passar o maior número possível a USF, e onde provavelmente temos de ir tirar o dinheiro é aos orçamentos hospitalares. O que teremos de fazer é a reconfiguração da despesa, reduzir a despesa que temos em cuidados hospitalares de agudos e apostar mais nos cuidados continuados e cuidados primários. Como é que se faz essa transferência sem se comprometer o funcionamento dos hospitais? Aliás, esta é também uma das medidas propostas pelo PS... Todos estamos de acordo que durante os próximos anos devemos ter de assistir a um aumento das transferências orçamentais para a saúde. Os hospitais estão seguramente a fazer um esforço e vão ter de continuar a fazer para aumentar a sua eficiência. Aqui, entramos na melhor utilização dos medicamentos e este ano, pela primeira vez, houve redução evidente dos gastos de farmácia dos hospitais. O que não é só com baixa de preços, é também com melhor gestão, prescrição e governação clínica. Ao mesmo tempo que reforçarmos a intervenção em cuidados de saúde primários, reforçarmos a nossa capacidade de acompanhamento domiciliário – se apostarmos em algumas experiências muito interessantes como o Centro Hospitalar de Trás- os- Montes e Alto Douro, que quer iniciar o internamento domiciliário – podemos gerar mais eficiência nos hospitais e tentar, sem onerar excessivamente os portugueses, ter um orçamento mais equilibrado. Não acredito, comentando politicamente, é que seja voltando a apostar numa lógica de estímulo de consumo interno que consigamos sair para a recuperação económica de que precisamos e gerar riqueza suficiente para apostar em serviços públicos, nomeadamente na saúde. Sente- se nas suas palavras uma crítica ao programa socialista... O programa para a saúde do PS tem algumas boas notícias. Uma delas é que de facto grande parte das suas 50 medidas já foi cumprida por este governo. É reconhecer de que governámos bem. O elogio que posso fazer ao programa do PS é dizer que no seu contexto geral eu não teria problema em o subscrever, uma vez que é um programa conservador, sensato, pouco arrojado até. Quando a coligação fala de regresso ao passado percebe- se que se refere a José Sócrates. PSD e CDS vão resistir à tentação de explorar ao máximo o caso Sócrates, quer do ponto de vista político quer do ponto de vista judicial? José Sócrates foi um primeiro- ministro de Portugal que acreditou num determinado projeto, que acabou por não lhe correr bem do ponto de vista político. Fez uma aposta, acreditou num processo da chamada terceira via socialista e depois a História e a sua própria incompetência trocou- lhe as voltas. Isso é a análise que deve ser feita daquilo que foi a política do PS, que por acaso naquela altura era liderado por José Sócrates. Isso não pode nem deve ser confundido com um problema judicial que o cidadão José Sócrates tem a resolver com a justiça, que eu entendo que é da sua esfera privada e sobre a qual os agentes políticos não se devem pronunciar, muito menos em campanha eleitoral.
Onde teremos de tirar dinheiro é aos orçamentos
hospitalares