Obras. Ir à praia do Malhão? Neste mês, só se for a pé
Odemira. No Litoral Alentejano, zona está vedada e interdita ao trânsito devido a trabalhos ainda em curso para melhorar acessibilidade. Em todo o país, há mais 25 praias em obras
Neste verão José e Ana Ramalho já não voltam à praia do Malhão. “Com tanto tempo para fazerem as obras, tinha de ser logo agora?”, lamentavam ontem estes habitués da praia no concelho de Odemira, que fica entre Milfontes e Porto Covo. Há mais de 20 anos que o casal de Lisboa escolhe este extenso areal como “paraíso de férias”, assim lhe chama, mas desta vez foi ao engano. O acesso à praia está vedado ao trânsito, com gradeamentos que delimitam a zona de intervenção, dotada de um estaleiro, com retroescavadoras, onde as terraplanagens já estão em marcha. Aliás, logo quando os carros passam do alcatrão para a terra batida surge o aviso de trânsito proibido a 1600 metros.
“Hoje deixámos o carro a mais de 500 metros da praia e ainda fomos a pé, mas amanhã já vamos para a praia em frente à ilha do Pessegueiro. Isto é insuportável”, lamentava Ana, que se limitou a deixar o carro na falésia, descendo por um difícil acesso ( bastante íngreme) até ao areal. Aliás, como os restantes vera- neantes – cerca de 50 – que ontem passaram a tarde na praia do Malhão.
Já Otília Neves, que teve de carregar com os brinquedos dos dois netos pela falésia acima, também não aceita as obras nesta época do ano. “Antes da intervenção dava para levar o carro mais uns 300 metros e havia estacionamento à farta”, dizia esta frequentadora do parque de campismo, ali ao lado, que conhece o caminho alternativo pela praia dos Aivados, mas garante que “ainda é mais longe”. Por isso, prefere antes corroborar da opinião transmitida ao DN pelo casal Ramalho: “Se o Malhão é uma praia selvagem, para que estão a fazer obras? Oxalá não estraguem.”
A intervenção avança pela mão da Sociedade Polis, mas contou com a aprovação da autarquia de Odemira. “A época é a pior, sabemos disso, mas ficámos entre a espada e a parede e decidimos que o melhor era mesmo avançar”, explica o presidente da câmara, José Guerreiro, justificando que o quadro comunitário está no fim, pelo que havia o risco de se perder o financiamento de 798 mil euros.
O projeto contempla, afinal, a melhoria de acessos, permitindo mesmo que deficientes motores cheguem ao areal, a par da construção de estacionamento e a criação de condições para erguer um apoio de praia. Além do combate às plantas invasoras que por aqui proliferam, caso do chorão. “A austeridade obrigou a adiar obras no país, teve de ser feita a reavaliação do Polis durante mais de um ano e não restou alternativa”, admite o edil, tendo sido o mesmo critério aplicado a Almograve e nos portinhos de pesca, também em Odemira. “Percebemos que as pessoas estejam chateadas, mas vai ser por uma boa causa”, disse o autarca.
O Malhão junta- se a outras 25 praias que começam o verão em obras, juntando zonas balneares que se estendem de norte a sul do país, entre Caminha e Lagos, segun- do dados da Agência Portuguesa do Ambiente ( APA), que exibe uma lista na qual se conta, por exemplo, a execução das infraestruturas associadas à utilização da praia da Gelfa, aquela que está situada mais a norte ( Caminha).
Segue- se, entre outros, a intervenção nas infraestruturas de apoio ao uso balnear na praia da Ramalha, em Esposende, proteção da foz do rio do Esteiro e da marginal marítima de A Ver- o- mar ( Póvoa do Varzim), mas também a arriba da praia de São Bernardino ( Peniche) ou o reforço de proteção costeira para minimização do risco da Praia Grande ( Sintra). Diz também o caderno da APA que durante este mês deverá estar concluída a estabilização das praias da Rainha, Carcavelos, Poça e Parede ( Cascais) e também a alimentação artificial da praia de D. Ana, em Lagos, que foi iniciada em abril, para duplicar o seu areal, após ter sido considerada a “praia mais bonita do mundo”, pela revista Condé Nast Traveller e a “melhor praia de Portugal”, pela TripAdvisor.
“Talvez esteja concluída antes de dia 15”, admite o vereador Paulo Jorge, que também alega a necessidade de se aproveitarem os fundos comunitários dentro dos timings, lamentando os prejuízos para veraneantes e comércio. “Não podíamos adiar esta obra mesmo por uma questão de segurança. Além de quase não haver praia na maré cheia, a falésia precisa de ser consolidada. Isso só é possível com o enchimento de areia”, justifica o autarca, revelando que os banhistas que têm frequentado a praia – a parte norte do areal está disponível – não deverão preocupar- se com a cor mais escura da areia dragada.