Diário de Notícias

Camionista­s portuguese­s no meio do caos da imigração ilegal

GREVE Imigrantes tentam tudo para chegar a solo britânico e greve dos trabalhado­res do porto de Calais só piorou a situação

- E. N.

A greve dos trabalhado­res do porto de Calais, na semana passada, pôs a nu uma realidade que já é bem conhecida dos camionista­s portuguese­s. Durante as horas em que o porto esteve bloqueado, instalou- se o caos com centenas de imigrantes ilegais e refugiados a tentarem aproveitar a confusão para entrar em camiões com destino a Inglaterra. Entre os motoristas portuguese­s que fazem a rota de Inglaterra, serão poucos os que passaram pela fronteira francesa sem que o seu camião tenha sido alvo de tentativa de intrusão.

Uma área de ser viço da A16, em direção a Paris e a apenas 20 quilómetro­s de Calais, é um dos locais de paragem preferidos dos camionista­s após entrarem em França. Aqui descansam, tomam um café e partilham uns com os outros os pormenores de mais uma viagem a Inglaterra. Foi aqui que encontrámo­s João Marques que, apesar andar na estrada há apenas dois anos e meio, já tem muitas histórias pa - ra contar. Chegou a Calais no au - ge da crise provocada pela greve e não esperou muito para testemunha­r o que não queria.

Ao DN explicou que viu “muita gente, uns a subir para cima dos reboques e dos frigorífic­os e irem pendurados, outros a tentar cortar as lonas, sempre a tentarem mil e uma maneiras para entrar.” Este motorista conta ainda que ele próprio não escapou ao desespero dos imigrantes. “Atiraram- me pedras ao para- brisas porque eu estava a tentar avisar o da frente. E também me arrombaram o cadeado. Quando vim ver deste lado, eles entraram lá por cima e cortaram a lona do teto.”

Já Paulo Silva é camionista há 15 anos e já muitas vezes atravessou Calais. Para ele, a situação na fronteira francesa vai de mal a pior. Antigament­e até parava para dormir mesmo às portas do porto. Agora, só dorme a mais de 300 quilómetro­s, mas mesmo assim, não l he faltam histórias para contar. “Já me chegaram a entrar no camião em pleno andamento.”

João Marques explicou ao DN que os cadeados das portas dos camiões são normalment­e rebentados com o “ferro que segura o pneu suplente. Arrancam- nos e é com isso que conseguem arrancar os cadeados e os cabos que estão às vezes selados com um selo de chumbo. Eles rebentam com isso tudo. E é quando tentam entrar por aqui [ pela porta traseira]. Quando nós nos apercebemo­s vimos ver, quando não nos apercebemo­s, eles entram lá para dentro. Quatro e cinco... é quantos eles quiserem.”

São também cada vez mais os casos de agressões a camionista­s. Paulo Silva nunca esteve numa situação tão grave, mas já viu coisas que não esperava ver. “Facas nunca vi mas vi armas semelhante­s. Ferros pontiagudo­s e outros bocados de paus e tábuas que eles apanham. Tudo que lhes apareça e que lhes possa servir de arma eles utilizam.”

As operações policiais são ca - da vez mais frequentes e intensas mas há sempre quem consiga esconder- se nos camiões. Normalment­e, em sítios estranhos e perigosos como malas laterais, mas não só. Paulo Silva já encontrou um refugiado escondido no eixo do reboque. “É extremamen­te perigoso porque a suspensão oscila e alguns são mesmo esmagados.”

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há 15 anos
Paulo Silva é camionista há 15 anos

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