Diário de Notícias

Matilde Campilho encanta na FLIP em luso- carioquês

Portuguesa comparada a Lobo Antunes e Valter Hugo Mãe na Festa Literária de Paraty

- JOÃO ALMEIDA MOREIRA São Paulo

Eao segundo dia da 13. ª Festa Literária Internacio­nal de Paraty, a FLIP, a plateia deixou- se encantar por uma portuguesa. Matilde Campilho, de 33 anos, com um sotaque definido pela imprensa brasileira como “luso- carioquês”, emocionou ao ponto de ser capa do jornal Folha de S. Paulo e classifica­da como “grande destaque do dia”.

“A poesia não salva o mundo mas salva um minuto e isso é suficiente”, disse Matilde, ao lado dos poetas cariocas Mariano Marovatto e Carlito Azevedo, companheir­os de mesa. “A gente está aqui para dançar um pouco sobre os escombros”, prosseguiu, no tal luso- carioquês que seduziu o público. Quando l eu t re chos de obras suas, incluindo um poema inédito sobre a morte, já usou o português de Portugal.

Matilde Campilho, candidata a “musa” desta FLIP, segundo o jornal O Globo, é portuguesa mas viveu de 2010 a 2013 no Rio de Janeiro. Foi a partir daí que decidiu publicar. Tem apenas um livro editado – Jóquei – que foi bem acolhido dos dois lados do Atlântico e beneficia de uma legião de fãs virtuais que seguem os “videopoema­s” que coloca com frequência no canal de vídeo da internet YouTube.

“No meu país”, disse Matilde em luso- carioquês, “ser poeta é difícil, poesia é uma palavra pesada porque há Pessoa, porque há Camões, a gente lá só é criança brincando no play [ o anglicismo usado pelos brasileiro­s para parque infantil]. “Poeta é uma profissão para sempre, nem dormindo a gente tem descanso.”

Os jornais compararam- na aos compatriot­as António Lobo Antunes e Valter Hugo Mãe. O primeiro foi considerad­o a sensação da edição de 2009 e o segundo o “queridinho da plateia” na festa de 2011, que decorre na histórica cidade de Paraty, no litoral do estado do Rio de Janeiro, a cerca de 250 quilómetro­s da Cidade Maravilhos­a.

Carlito Azevedo, que acumulou a função de entrevista­do e moderador, fez três perguntas “fáceis”, segundo o próprio, a Matilde. “O que é a poesia?”, “O que é o amor?” e “O que é o universo?”, para lançar as respostas da portuguesa.

Além de Matilde e dos seus parceiros de mesa, também o poeta Eucanaã Ferraz, o antro- pólogo Antonio Risério e os escritores Diego Vecchio, argentino, e Sasa Stanisic, bósnio, falaram das suas obras ao ávido público da FLIP, que neste ano homenageia Mário de Andrade, um dos pioneiros da poesia moderna brasileira.

A festa deste ano perdeu, à última hora, a sua principal atração. Roberto Saviano, o autor de Gomorra, livro ( que deu filme) sobre a Camorra, máfia napolitana, não viajou por motivos de segurança. A viver desde 2006 sob escolta policial por causa das ameaças de morte da Camorra, foi aconselhad­o pela segurança a não abandonar a Europa. Apesar disso, Gomorra foi o livro mais vendido na livraria oficial do festival.

“A poesia não salva o mundo mas salva um minuto e isso é suficiente”, disse Matilde

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A poetisa com os companheir­os de mesa no festival

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