Diário de Notícias

Terror nos céus. Acidente da AirAsia em documentár­io

Em Desastres Aéreos, Alastair Rosenschei­n explica o que aconteceu com o voo da AirAsia que se despenhou em dezembro. Ao DN, o ex- piloto fala sobre este e outros acidentes

- ANA FILIPE SILVEIRA

“A minha primeira reação foi pensar que não era verdade, que não estava a acontecer novamente”, recorda Alastair Rosenschei­n. Este ex- piloto da companhia inglesa de aviação British Airways é um dos intervenie­ntes de Desastres Aéreos, que se estreia hoje à noite, às 21.00, no Discovery Channel. Este episódio especial da série de documentár­ios sobre acidentes de aviação faz uma retrospeti­va do acidente ocorrido a 28 de dezembro do ano passado, quando o avião 8501 da AirAsia se despenhou.

Após uns escassos 40 minutos de viagem entre a Indonésia e Singapura, a torre de controlo perdeu contacto com o avião. Morreram 155 passageiro­s e sete membros da tripulação. Já em março de 2014, o voo 370 da Malaysia Airlines desaparece­u dos radares aproximada­mente uma hora depois de ter levantado. Sobrevoava o Golfo da Tailândia, no mar da China. Morreram 227 passageiro­s e 12 tripulante­s. O avião nunca foi encontrado. Em março deste ano, um novo acidente. Desta vez, foi com um Airbus A320 da companhia aérea alemã Germanwing­s. Nos Alpes, o copiloto Andres Lubitz, de 28 anos, iniciou propositad­amente a descida do avião. Estava sozinho no cockpit, tendo impedido o comandante de regressar à cabina. Soube- se, mais tarde, que estava de baixa médica devido a uma depressão. “Quando um candidato a piloto começa os seus treinos de voo, é submetido a exames de saúde, mas eu não diria que estes são aprofundad­os. Depois, os jovens pilotos fazem também exames anuais e o médico encarregad­o de os fazer conversa regularmen­te com os seus pacientes para ir percebendo se eles estão estáveis. É um exame psicológic­o muito superficia­l”, explicou Alastair Rosenschei­n ao DN, referindo ainda que “não há testes psicológic­os formais em nenhum momento da carreira de um piloto”. “As companhias confiam no relato dado pelo próprio piloto ou, ocasionalm­ente, pelos testemunho­s dos colegas que o conhecem”, acrescenta.

Esta não é a primeira vez que Rosenschei­n fala sobre este acidente aéreo. Na altura em que ocorreu, o ex- piloto da British Airways foi convidado por vários canais de televisão, especialme­nte nos Estados Unidos, para tentar explicar o que aconteceu. Fá- lo agora novamente à série documental do Discovery Channel, que revela as tentativas fa- lhadas de contacto com o avião, faz comparaçõe­s com um acidente da Air France em 2009 e aborda as novas tecnologia­s que permitem com que acontecime­ntos como estes não voltem a acontecer.

Tecnologia­s que, apesar de extremamen­te avançadas, não dão segurança aos passageiro­s. E é por isso, porque estes ainda confiam mais no homem do que na máquina, afirma Alastair Rosenschei­n, que os pilotos ainda existem. “A maioria das pessoas não gostaria de entrar dentro de um avião que não fosse operado por mãos humanas. Uma das coisas importante­s sobre ter pilotos a voar é que as vidas deles estão tão em risco quanto as dos passageiro­s e, à partida, eles vão fazer de tudo para evitar um acidente”, frisa o britânico. “Tudo o que é automático pode falhar e, se isso acontecer, tem de lá estar alguém para salvar o dia. Agora, acredito que chegará a altura em que as aeronaves serão totalmente autónomas, mas ainda assim acho provável que exista sempre um piloto de segurança a bordo”, sublinhou ao nosso jornal.

Se há alguma lição a tirar de casos como estes – todos eles abordados em Desastres Aéreos através de entrevista­s, não só a Rosenschei­n mas também a outros peritos mundiais – é que todos podiam ser prevenidos. “Vou ser o mais sincero possível. Os pilotos passam a vida a tentar não ter acidentes, já que isto é extremamen­te fácil de acontecer. Se eles quiserem, podem provocar um destes desastres a qualquer momento. É relativame­nte fácil de fazer, especialme­nte durante a descolagem ou durante a aterragem. Não há absolutame­nte nada que se possa fazer para impedir”, observou, para depois voltar a Andres Lubitz da Germanwing­s: “Se ele tinha um distúrbio psiquiátri­co grave, ter duas pessoas na cabina de pilotagem teria reduzido as hipóteses de ter sido bem- sucedido. É bem possível que Lubitz tenha planeado com antecedênc­ia as suas ações e, desta forma, a oportunida­de de falhar foi menor.”

Apesar de parecer alarmante, o piloto garante que andar de avião comercial é seguro e que este tipo de programas pode servir para desmistifi­car o medo que muitos têm de voar. “Vou dar um exemplo rápido. Se eu perguntar a alguém qual é o desporto mais perigoso, muitas pessoas respondem que é andar a cavalo, boxe ou as corridas de automóveis. A verdade é que os dois desportos mais perigosos são ciclismo e natação. Muitas vezes, a perceção e a realidade diferem”, terminou.

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O especial da série de documentár­ios sobre acidentes de aviação faz uma retrospeti­va do acidente ocorrido a 28 de dezembro do ano passado, quando o avião 8501 da AirAsia se despenhou
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Alastair Rosenschei­n é um dos intervenie­ntes do documentár­io

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