Diário de Notícias

Um “10” vale sempre o seu peso em ouro. E Bernardo não é exceção

Brilhou no Europeu de sub- 21, depois de uma grande época no Mónaco. Quem o conhece aponta- lhe um futuro promissor

- NUNO COELHO

Um metro e 73 centímetro­s de altura e um pé esquerdo mágico. Esta é uma conjugação que costuma dar bom resultado no mundo do futebol e Bernardo Silva tem tudo para dar seguimento a uma linhagem que inclui alguns dos melhores nomes da história da modalidade – não será por acaso que já lhe chamaram o “Messizinho do Seixal”.

Nascido em Lisboa, a 10 de agosto, o médio está à beira de cumprir 21 anos e por pouco não regressou da República Checa como campeão europeu de sub- 21, numa prova em que foi considerad­o um dos melhores jogadores. A revista francesa France Football apontou- o como um dos “cinco portuguese­s a seguir de ( muito) perto”, lembrando que, apesar de ter chegado com “pezinhos de lã” ao Mónaco, convenceu os dirigentes do clube a i nvestirem mais de 15 milhões de euros no seu passe.

“Desde Rui Costa que Portugal não tinha um distribuid­or de jogo tão elegante”, escreveu a publicação gaulesa, num elogio que terá certamente agradado a Bernardo Silva. Afinal, o antigo 10 é o seu ídolo de sempre, conforme confirmou ao site da UEFA: “Foi um símbolo do Benfica e da seleção nacional durante muitos anos. Por isso, sim, é o meu jogador português favorito. A nível internacio­nal tenho de escolher o Zidane, era o melhor jogador do mundo quando eu estava a crescer e jogava mais ou menos na minha posição.” Técnica inigualáve­l Claro que, apesar de até já ser internacio­nal A, Bernardo Silva não é um jogador completo. E é Leonardo Jardim, o seu treinador no Principado, quem o diz. “Ainda não está totalmente amadurecid­o para perceber que o rigor e a intensidad­e é que vão suportar a carreira dele”, referiu o técnico madeirense numa reportagem feita pela SportTV. Algo que não o impediu de apostar no jovem reforço, porque o talento, esse, não engana.

“É um grande futebolist­a que nasceu para jogar futebol. Quem lhe tira a bola, tira- lhe tudo. Para mim, é o jogador português mais brilhante e com maior potencial desta geração. Tem uma técnica inigualáve­l, parece que usa cola naquele pé esquerdo. É um grande orgulho ser colega dele”, refere ao DN Ricardo Horta, atualmente a representa­r o Málaga .

Colega de Bernardo desde as escolas até aos juvenis do Benfica, o extremo elogia a prestação do amigo no Europeu de sub21, onde também esteve. “Foi um dos melhores jogadores do torneio, ficou na equipa ideal e tanto ele como o William podiam ganhar o prémio de melhor j ogador. É um jogador que dá vivacidade e qualidade a qualquer equipa”, acrescenta, antes de salientar também o lado mais íntimo do jovem craque: “Como pessoa é um excelente amigo, extroverti­do. Nunca está triste e estamos sempre na brincadeir­a. Depois temos alguns despiques no pingue- pongue, no snooker e na PlayStatio­n, mas são sempre duelos amigáveis, nunca nos zangamos por causa disso [ risos].”

Manuel Ribeiro, que foi diretor da formação do Benfica até 2012, também lhe traça um futuro brilhante: “Tem valor para chegar a um clube de outro nível. Com o tempo os jogadores vão ganhando outro encaixe físico e maturidade e ele já tem todas as condições para dar o salto para uma formação de outro gabarito. Vai depender dos treinadore­s, mas acredito que dentro de pouco tempo vai afirmar- se como o número 10 da seleção principal. Não será bem um novo Rui Costa, até porque joga com o pé esquerdo, mas pode vir a ser esse tal 10 que tem faltado às seleções.” Arranque complicado Bernardo chegou ao Benfica com 7 anos, depois de muito “treino” no futebol de rua – fosse no quintal dos avós ou no recreio da escola com os amigos –, mas nunca teve a vida facilitada, por culpa da genética. Manuel Ribeiro confirmou- o ao DN. “Quando chegou aos juvenis não era opção para os treinadore­s, devido à sua estatura, pois na altura ainda não tinha dado o ‘ salto’, e só acabou por se afirmar primeiro nos juniores e depois na equipa B. Às vezes tem de se dar tempo para que os miúdos ganhem corpo”, assinalou, recordando que por esses tempos “só jogava na equipa B dos juvenis, porque precisava de o fazer assiduamen­te e na A tinha outros à sua frente, como o Rony Lopes ou o Diego Lopes, que davam mais garantias. Mas era um jogador que tinha valor, faltava- lhe só ganhar físico. Tinha muito potencial mas precisava de crescer e verificou- se que essa foi uma opção certa”.

Curiosamen­te, Ricardo Horta também viveu a mesma situação: “Tivemos os dois o mesmo proble- ma, tanto nos iniciados como nos juvenis do Benfica não jogámos tanto como queríamos, talvez o mister Bruno Lage achasse que não tínhamos a capacidade física necessária. Íamos muitas vezes jogar na equipa B ou mesmo na C. Ainda assim, a qualidade estava lá e mais tarde chegou a recompensa.”

Mas Bernardo nunca desistiu até compreende­r a situação. “Quando não jogava ficava aborrecido. Ainda por cima ele é um benfiquist­a ferrenho, mas reagiu sempre da melhor maneira, trabalhand­o no duro para mostrar que merecia lá estar”, diz o antigo colega, enquanto Manuel Ribeiro assinala: “Era um miúdo excelente e um grande benfiquist­a e compreende­u a situação. E verificou- se que deu resultado.”

Mesmo assim, as provas de qua-

lidade que mostrou no conjunto secundário não foram suficiente­s para lhe garantir a passagem à primeira equipa do Benfica. Foi falar com Jorge Jesus e percebeu que não teria espaço no plantel principal, pelo que optou por aceitar a proposta do Mónaco ( saiu por empréstimo e no início do ano o clube do Principado comprou o passe do jogador por 15,75 milhões). “O problema é que o Benfica tinha um treinador que não lhe deu nenhuma oportunida­de [ Jesus]. Depois surgiu a hipótese de ir para a França e o Benfica fez as suas opções, tendo em conta os dados na altura”, conta Manuel Ribeiro, lembrando que, apesar de não ter tirado proveito desportivo do médio, o clube da Luz vai continuar a receber dinheiro com as suas transferên­cias.

E, se continuar a progredir como na época passada em França, elas não devem tardar. “Desde que me lembro, o futebol sempre fez parte da minha vida. Muitas coisas desses dias continuam comigo, tento jogar da mesma forma que aprendi quando era miúdo. Os futebolist­as devem jogar com a mesma alegria dos tempos em que éramos nós, uma bola e a rua”, disse Bernardo ao site da UEFA. Os elogios que recebeu de nomes como Deco, Ricardinho ( melhor jogador de futsal do mundo) e Nuno Gomes, que ainda espera voltar a vê- lo jogar no “seu” Benfica, mostram que fez a opção certa.

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Bernardo Silva festeja um golo apontado na goleada por 5- 0 à Alemanha no Europeu de sub- 21
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Revista France Football comparou Bernardo Silva ao seu grande ídolo Rui Costa
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