Spas e termas exigem mais oferta turística em seu redor
Estratégia. Tornar Portugal um país- destino de turismo de saúde e bem- estar implica mais promoção e oferta complementar atrativa
Uma rede de infraestruturas e cuidados médicos de primeira qualidade, ligações aéreas para o mundo inteiro e preços mais baixos do que a maioria da hotelaria e termalismo internacionais: Portugal tem todas as condições para ser um grande protagonista no turismo de saúde e bem- estar, mas não é. Porquê? Na conferência da Covilhã das Jornadas Empreendedorismo no Turismo – Visitar o Futuro, que decorreu na terça- feira na Pousada da Serra da Estrela, os especialistas apontaram o dedo à falta de promoção, dentro e fora de Portugal, e de uma oferta de lazer atraente nas zonas em torno das termas, spas e hotéis virados para este ramo do turismo.
Andreia Rodrigues, diretora de Hotelaria e Restauração do Grupo Visabeira Turismo, foi a primeira a enumerar todas as facilidades que Portugal tem no terreno para responder aos desafios do turismo de saúde e bem- estar. Mas, na sua perspetiva, elas existem isoladamente. “Existem as termas, os spas, os ho- téis. Falta criar um produto coeso, criar um embrulho atrativo, porque nós temos todas as facilidades.”
O comentário surgiu depois de Pedro da Mata, alergologista, investigador e consultor da Turistrela para assuntos médicos e bioclimatismo, ter criticado o termo “turismo médico” ou “turismo de saúde”. “Não se pode juntar médico, que é doença, com turismo, que é prazer. Este conceito não vende”, defendeu. “Inventem nomes, façam brainstorming e inventem um novo conceito.”
Também para Vera Gonçalves, responsável pelo departamento de Guest Relations do Vidago Palace Hotel, “é no marketing que tudo falha”. E deu o exemplo da medicina tradicional chinesa, que está na moda por ser holística e não usar medicamentos: “Esquecemo- nos de que no Ocidente também existiam tratamentos holísticos, que são as nossas águas, e que na Europa isso sempre esteve instituído”, disse.
Pedro da Mata lembrou também o desaparecimento inexplicável dos sanatórios – como o do emblemático edifício onde decorria a conferência – que continuam a ser válidos na prevenção e tratamento de doenças respiratórias. E o facto de, numa iniciativa e num sítio como estes – na montanha – só se falar em spas e termas e não se falar em tratamentos em altitude, por exemplo.
Portanto, para Pedro da Mata, na promoção deste ramo de turismo tudo está errado, até a abordagem feita na própria conferência da Covilhã. Referindo- se a todos os dados positivos e de crescimento nela divulgados, Pedro da Mata disse que esperava ouvir falar sobre o que não funciona e que soluções existem para isso. “Eu gostava de só ouvir as coisas boas para explicar de que maneira é que vamos corrigir as coisas más, porque as há”, disse.
Outra vertente que reuniu a opinião mais ou menos unânime dos especialistas que participaram não apenas no debate mas em toda a conferência é a falta de coesão entre os parceiros para investir na envol- vente dos estabelecimentos de turismo de saúde e bem- estar.
Até porque, por regra, as termas e spas são instalados em lugares ermos e afastados, para garantir o sossego. Se em torno crescer a oferta de lazer, cultura, desporto, restauração e outras iniciativas, estes empreendimentos podem ser um fator de desenvolvimento regional e tornar Portugal um destino mais atrativo.
Algo que acontece, concluiu- se, em parte por falta de hábito de apostar neste segmento e, em parte, por falta de informação, apesar dos esforços recentes. Andreia Vieira referiu o caso do Grupo Visabeira, que só agora despertou para este nicho de mercado, instigado pelo Turismo de Portugal e pela Agência de Promoção Turística do Centro, e que está agora em contacto com os hospitais de Coimbra para fazer do aldeamento Montebelo Aguieira uma zona residencial onde os turistas- pacientes recebam tratamento e acompanhamento depois das intervenções médicas. Vera Gonçalves lembrou a re- modelação e inauguração, em 2010, do Vidago Palace Hotel e a grande aposta que está a ser feita na recuperação da tradição de procurar as águas terapêuticas de Vidago e de Pedras Salgadas.
Falando do ponto de vista de uma instituição financeira, Miguel Magalhães Duarte, diretor do marketing de empresas do Millennium bcp – entidade parceira do DN, JN e TSF na organização destas jornadas – referiu que o interesse deste banco português não se foca diretamente no nicho da saúde e bem- estar. Mas salientou que o banco está atento e disposto a “apostar num tecido empresarial diferente do dos últimos 15 ou 20 anos”. É função da banca mudar o seu enfoque para setores que sejam produtivos e que acrescentem valor à economia”, afirmou.
Próxima conferência: 14 de julho, no Yeatman Hotel, no Porto. Encerramento com o ministro da Economia, António Pires de Lima