Diário de Notícias

Caixa reduz lucros e não paga ajuda antes do prazo

CGD tem até final de junho de 2017 para pagar 900 milhões de obrigações de capital contingent­e, que custam 100 milhões ao ano

- BÁRBARA BARROSO

CGD não vai fazer reembolso antecipado da ajuda pública. Atingiu 47,1 milhões de lucro no primeiro semestre, menos 57,2 % do que no ano passado.

A Caixa Geral de Depósitos ( CGD) não deverá reembolsar as obrigações convertíve­is de capital contingent­e ( conhecidos como CoCos) antes de 2017. O DN/ Dinheiro Vivo sabe que, para já, não está nos planos do banco público fazer um reembolso antecipado desta ajuda pública, até porque não faz parte do plano acordado com Bruxelas fazê- lo antes desse prazo.

A Caixa beneficiou de injeção de fundos públicos, num total de 1650 milhões de euros, dos quais 900 milhões em CoCos. Este montante terá de ser devolvido até ao final de junho de 2017. Caso não o seja, os títulos são convertido­s em capital. “Na prática, trata- se quase de um aumento de capital já pré- autorizado, embora com um custo elevado”, adiantou fonte do setor.

Com uma taxa de 10%, os CoCos custam à Caixa cerca de 100 milhões de euros. Isto significa que, faltando cerca de dois anos até ao fim do prazo, caso não haja reembolso antecipado, a CGD deverá desembolsa­r aproximada­mente mais 200 milhões em juros.

Ao contrário dos outros bancos que tiveram ajuda pública – BCP, BPI e Banif –, a Caixa não teve nenhum aumento de capital, pelo que a margem para reembolso antecipado torna- se mais pequena.

“É importante salientar que os CoCos contam para capital, ou seja, o reembolso ao Estado iria significar uma descida dos rácios de capital. Assim, para reembolsar estes instrument­os, a CGD teria de fazer um aumento de capital ou arranjar outra forma de compensar os CoCos”, explicou outra fonte.

Embora o primeiro- ministro, Pedro Passos Coelho, tenha demonstrad­o “preocupaçã­o” com a CGD, por esta não ter reembolsad­o os CoCos , não há qualquer indicação do Estado – acionista da Caixa – sobre a possibilid­ade de vir a fazer um aumento de capital.

A CGD tem mantido contacto regular com a Direção- Geral da Concorrênc­ia Europeia ( DGCom) e o Ministério das Finanças sobre os desenvolvi­mentos do plano de reestrutur­ação, assim como todas as questões de capital.

Desde que a Caixa emitiu os CoCos, o plano de reestrutur­ação – que tem de cumprir no âmbito da ajuda pública – já foi revisto mais de dez vezes com Bruxelas. E a última versão não prevê reembolso enquanto não estiverem cumpridos alguns pré- requisitos.

O DN/ Dinheiro Vivo sabe que está prevista uma reunião, por altura do outono, entre a administra­ção da Caixa e as autoridade­s europeias, para reavaliar novamente o plano do banco público. Será nessa reunião que poderão ser definidas novas diretrizes, ou seja, o plano de reestrutur­ação da Caixa poderá ser revisto e, inclusivam­ente, ser estipulada uma nova data de reembolso dos CoCos.

Mas mesmo que a Caixa tivesse a intenção de reembolsar antes do final do prazo, teria sempre de ter autorizaçã­o da DGCom para o fazer. Exemplo disso mesmo é o caso do Banif, que embora já tenha pedido para reembolsar a última tranche de 125 milhões de euros de CoCos, ainda não obteve luz verde para o fazer. E isso, muito possivelme­nte, porque a DGCom apenas dará autorizaçã­o para que seja feito depois de cumprido um conjunto de requisitos.

No caso da Caixa, além da venda das participaç­ões financeira­s ou Caixa Seguros, há outras exigências de Bruxelas. Apesar de não serem públicos quais os requisitos, no setor acredita- se que, à semelhança dos outros bancos, passem também por reduções de trabalhado­res e balcões – um plano que a Caixa já está a levar a cabo ( ler texto ao lado) – assim como atingir al- gumas metas em termos de rácios.

Só quando forem cumpridos todos esses itens é que a Caixa poderá estar em condições de reembolsar o Estado. Caixa lucra 47,1 milhões A CGD lucrou 47,1 milhões de euros no primeiro semestre, o que representa uma quebra de 57,2% face aos 110,1 milhões do primeiro semestre de 2014, numa altura em que o banco ainda detinha 100% da Caixa Seguros, que inclui Fidelidade, Cares e Multicare. Ajustando o valor do ano passado à participaç­ão de 15% da Fidelidade e 20% da Cares e Multicare que a CGD detém atualmente das seguradora­s, teria tido, numa base comparável, um prejuízo de 169,3 milhões.

A margem financeira cresceu 14,3%, para 582,1 milhões e o produto bancário aumentou 25,8%, para 1154 milhões de euros.

O lucro da atividade internacio­nal passou de 5,5 milhões de euros para 44,7 milhões. Sem o contributo do estrangeir­o, o banco público teria um resultado positivo de cerca de dois milhões de euros na atividade doméstica.

Em termos de solvabilid­ade, o rácio common equity tier I phased in ( nas regras transitóri­as) situou- se em 10,8%, abaixo do rácio de 11,1% de dezembro de 2014.

 ??  ?? A Caixa Geral de Depósitos ( CGD) vai fazer um renaming do banco que detém em Angola. A Caixa detinha, juntamente com o Santander Totta, o Banco Caixa Geral Totta de Angola. No entanto, no início do mês, a CGD comprou a participaç­ão do Totta e está a...
A Caixa Geral de Depósitos ( CGD) vai fazer um renaming do banco que detém em Angola. A Caixa detinha, juntamente com o Santander Totta, o Banco Caixa Geral Totta de Angola. No entanto, no início do mês, a CGD comprou a participaç­ão do Totta e está a...

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal