Diário de Notícias

Mãe entrega- se com bebé a precisar de ajuda urgente

A criança estava a precisar de cuidados urgentes por sofrer da síndrome de abstinênci­a, devido a toxicodepe­ndência da mãe. Desde sábado que as autoridade­s os procuravam

- MIGUEL FERREIRA e MARIANA PEREIRA

“Preciso de ajuda urgente.” Cerca das 22.00 de ontem, Alexandra Patrício chegou ao Hospital de Faro e pediu que tratassem do seu filho. O bebé – que tinha sido levado há seis dias dos cuidados intensivos onde estava a ser tratado da síndrome de abstinênci­a devido à toxicodepe­ndência da mãe – estava a ser observado à hora de fecho desta edição.

Quando ontem chegou ao hospital, a mulher justificou a decisão de se entregar com o facto de o bebé precisar de “ajuda”, apurou o o DN. Depois de terem internado o recém- nascido para lhe serem prestados os primeiros cuidados, os responsáve­is do hospital avisaram a PSP e a Polícia Judiciária ( PJ), que de imediato tomaram conta da situação. De acordo com o que o DN apurou, Alexandra acompanhou o filho, uma vez que o hospital não terá recebido nenhuma indicação para os separar.

A criança foi levada pela mãe da incubadora do serviço de Medici- na Intensiva Neonatal e Pedopediát­rica ( UCIN do Hospital de Faro) duas horas a seguir ao parto, no sábado passado.

Quando se apercebera­m do que tinha acontecido, os responsáve­is médicos alertaram imediatame­nte as autoridade­s policiais, porque o bebé corria risco de vida. Desde esse dia que Alexandra Patrício, de 28 anos, era procurada pela PJ, com o apoio da GNR e da PSP.

O recém- nascido sofre da síndrome de abstinênci­a neonatal devido à toxicodepe­ndência da mãe, que terá consumido drogas duras durante a gravidez e, inclusivam­ente, no dia do parto. A criança estava internada para receber a medicação necessária, que deveria substituir a ausência das drogas. Sem estes cuidados, poderia sofrer de sintomas como dores fortes, tremores, irritabili­dade, febre, desidrataç­ão e convulsões que, se não fossem assistidas, causariam danos neurológic­os ou a morte.

O presidente do conselho de administra­ção do centro hospitalar a que pertence a unidade de Faro, Pedro Nunes, afirmou que Alexan- dra “não fugiu” e que este não é um caso “de rapto nem de falta de segurança”. “Neste caso foi a mãe que levou o filho. O hospital não é uma prisão e não pode impedir a saída, a não ser que um juiz tivesse retirado o poder paternal. O alerta à polícia foi dado porque se considera que há risco de saúde para o bebé”, disse ao DN.

O recém- nascido não tinha pulseira eletrónica, contrarian­do um despacho de 2008 assinado pela ministra da Saúde Ana Jorge, na se- quência do rapto de um bebé no Hospital de Penafiel. Esse documento obrigava os hospitais a pôr em prática medidas de segurança como videovigil­ância, portas com código, verificaçã­o das visitas e o uso de pulseiras eletrónica­s.

O administra­dor reconheceu ao DN que o bebé não tinha essa pulseira, mas afirmava que a segurança dos recém- nascidos está garantida e que este é um caso especial, já que o bebé foi levado pela mãe. Em Faro não há pulseiras por decisão da administra­ção anterior.

A motivação da fuga de Alexandra Patrício, residente em Albufeira, poderá estar relacionad­a com o medo de perder a guarda do recém- nascido, tal como aconteceu no início deste mês com o filho de 6 anos, internado no Refúgio Aboim Ascensão, por suspeitas de maus- tratos e negligênci­a.

O vídeo que regista a saída de Alexandra do hospital mostra- a a esconder o bebé numa mala a tiracolo e com uma toalha a cobrir as marcas do cateter no antebraço esquerdo. Caminhava com passo tranquilo e sem levantar suspeitas.

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Pedro Nunes é presidente do Centro Hospitalar do Algarve

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