Portugal desistiu da compra do navio francês Siroco
Limitações do navio polivalente logístico para operar helicópteros pesados EH101 são as razões oficiais para fundamentar a decisão
Portugal desistiu ontem da compra do navio polivalente logístico francês Siroco, oficialmente devido a limitações operacionais relativas ao emprego dos helicópteros pesados EH101, soube o DN.
Essas limitações são basicamente três. A primeira diz respeito ao peso de um EH101 com carga máxima à descolagem ( 14,6 toneladas), que é superior ao que a estrutura do convés do navio francês aguenta ( 11,5 toneladas). Além de poder implicar a remoção de três toneladas de combustível do helicóptero, o Siroco não tem capacidade para o remover “por aspiração”, assinalou uma das fontes.
Outra limitação diz respeito à estrutura do navio. Segundo “sublinha fortemente” um estudo francês, diz o relatório, nem o convés nem a plataforma “têm resistência” para suportar aquela aeronave em caso de acidente ou aterragem forçada – o que corresponde a causar “danos significativos” no Siroco.
Outra limitação envolve o hangar do navio francês: a sua dimensão “não cumpre os requisitos mí- nimos necessários” para certas operações de manutenção dos EH101. Daí resultaria a impossibilidade de conseguir elevar o helicóptero “em segurança” com recurso a macacos, bem como detirar certos componentes com recurso a uma grua – que teria de ser adquirida e instalada para esse efeito, adiantou uma das fontes.
A decisão – que tinha de ser comunicada às autoridades francesas até hoje – consta de despacho assinado ontem pelo ministro da Defesa, José Pedro Aguiar- Branco.
Segundo uma das fontes, estas limitações já estavam identificadas quando Aguiar- Branco decidiu abrir o processo negocial com o Ministério da Defesa francês. De acordo com outra fonte, entrou- se nessa fase porque estavam a ser equacionadas soluções alternativas para minimizar essas situações.
“É pena que Portugal perca esta oportunidade de adquirir um navio como o Siroco”, até porque o seu custo é significativamente inferior à da aquisição de um novo ( estimado entre os quase 300 milhões de euros, segundo fontes do setor, e os 400 milhões de euros indicados pelo ministério).
Note- se que o Siroco é visto como uma necessidade das Forças Armadas, quer para projetar forças militares – colocando o país num patamar superior de cooperação com os aliados – como para apoiar as regiões autónomas em caso de catástrofes naturais ( pela capacidade de transporte logístico e do hospital existente a bordo).
A França colocou o Siroco no mercado por 80 milhões de euros. Além da necessidade de Portugal ter verbas necessárias para manter e operar o navio ao longo do seu tempo de vida útil, a sua compra – para a qual não faltavam algumas dezenas de milçhões de euros – deveria implicar a venda de duas das cinco fragatas da Marinha, a sua desativação ou, em alternativa, deixar de as modernizar até ao seu abate ao serviço.
Quanto à compra, foi admitido pagá- lo ao longo de sete anos com um período “de carência nos primeiros quatro” ( em que se pagavam apenas juros), disse uma das fontes.
Acresce outro problema, relacionado com o pessoal: como é que a Marinha, sem poder aumentar os efetivos, conseguiria formar nova guarnição para o Siroco?