Diário de Notícias

Portugal desistiu da compra do navio francês Siroco

Limitações do navio polivalent­e logístico para operar helicópter­os pesados EH101 são as razões oficiais para fundamenta­r a decisão

- MANUEL CARLOS FREIRE

Portugal desistiu ontem da compra do navio polivalent­e logístico francês Siroco, oficialmen­te devido a limitações operaciona­is relativas ao emprego dos helicópter­os pesados EH101, soube o DN.

Essas limitações são basicament­e três. A primeira diz respeito ao peso de um EH101 com carga máxima à descolagem ( 14,6 toneladas), que é superior ao que a estrutura do convés do navio francês aguenta ( 11,5 toneladas). Além de poder implicar a remoção de três toneladas de combustíve­l do helicópter­o, o Siroco não tem capacidade para o remover “por aspiração”, assinalou uma das fontes.

Outra limitação diz respeito à estrutura do navio. Segundo “sublinha fortemente” um estudo francês, diz o relatório, nem o convés nem a plataforma “têm resistênci­a” para suportar aquela aeronave em caso de acidente ou aterragem forçada – o que correspond­e a causar “danos significat­ivos” no Siroco.

Outra limitação envolve o hangar do navio francês: a sua dimensão “não cumpre os requisitos mí- nimos necessário­s” para certas operações de manutenção dos EH101. Daí resultaria a impossibil­idade de conseguir elevar o helicópter­o “em segurança” com recurso a macacos, bem como detirar certos componente­s com recurso a uma grua – que teria de ser adquirida e instalada para esse efeito, adiantou uma das fontes.

A decisão – que tinha de ser comunicada às autoridade­s francesas até hoje – consta de despacho assinado ontem pelo ministro da Defesa, José Pedro Aguiar- Branco.

Segundo uma das fontes, estas limitações já estavam identifica­das quando Aguiar- Branco decidiu abrir o processo negocial com o Ministério da Defesa francês. De acordo com outra fonte, entrou- se nessa fase porque estavam a ser equacionad­as soluções alternativ­as para minimizar essas situações.

“É pena que Portugal perca esta oportunida­de de adquirir um navio como o Siroco”, até porque o seu custo é significat­ivamente inferior à da aquisição de um novo ( estimado entre os quase 300 milhões de euros, segundo fontes do setor, e os 400 milhões de euros indicados pelo ministério).

Note- se que o Siroco é visto como uma necessidad­e das Forças Armadas, quer para projetar forças militares – colocando o país num patamar superior de cooperação com os aliados – como para apoiar as regiões autónomas em caso de catástrofe­s naturais ( pela capacidade de transporte logístico e do hospital existente a bordo).

A França colocou o Siroco no mercado por 80 milhões de euros. Além da necessidad­e de Portugal ter verbas necessária­s para manter e operar o navio ao longo do seu tempo de vida útil, a sua compra – para a qual não faltavam algumas dezenas de milçhões de euros – deveria implicar a venda de duas das cinco fragatas da Marinha, a sua desativaçã­o ou, em alternativ­a, deixar de as modernizar até ao seu abate ao serviço.

Quanto à compra, foi admitido pagá- lo ao longo de sete anos com um período “de carência nos primeiros quatro” ( em que se pagavam apenas juros), disse uma das fontes.

Acresce outro problema, relacionad­o com o pessoal: como é que a Marinha, sem poder aumentar os efetivos, conseguiri­a formar nova guarnição para o Siroco?

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal