Diário de Notícias

Foi buscar uma pedra e tropeçou num destroço de avião. Será do MH370?

Parte de uma asa que se acredita ser de um Boeing 777, modelo do avião desapareci­do, apareceu na Ilha da Reunião, descoberta por trabalhado­res que limpavam uma praia. Destroço vai ser enviado para França

- ELISABETE SILVA eBÁRBARA CRUZ

Johnny Begue e outros sete trabalhado­res estavam longe de imaginar que limpar uma praia da ilha da Reunião poderia tornar- se num momento importante para a resolução do maior mistério da aviação moderno. É o próprio Begue quem o admite, ao ver que a parte da asa de um avião que encontrou pode pertencer ao Boeing 777 da Malaysia Airlines, que desaparece­u a 8 de março de 2014.

“Não sabia que ao ir buscar uma pedra para triturar pimenta ia tornar- me famoso”, salientou Begue, citado pelo El Mundo. Acrescento­u que foi numa pausa no trabalho que reparou no estranho objeto. Um dos seus colegas reconheceu que era uma peça de um avião.

Inicialmen­te ponderaram utilizar a parte da asa como decoração para os turistas, mas uma pesquisa na internet sobre aviões desapareci­dos fê- los ver que afinal o achado poderia ser importante. “Afinal fizemos uma boa pesca”, disse Begue, que também encontrou o que resta de uma mala, mas as autoridade­s não confirmam se poderá pertencer a uma das 239 pessoas que estavam a bordo do voo MH370.

O destroço, que tem entre um a dois metros de largura por 2,5 de compriment­o, foi encontrado a mais de cinco mil quilómetro­s da zona onde se realizam as atuais buscas pelo MH370, mas o oceanógraf­o da universida­de de New South Wales, em Sydney, Robin Robertson, considera “muito plausível” que a parte da asa seja da aeronave malaia devido ao que se conhece das correntes do Índico, informação confirmada também pelo primeiromi­nistro malaio Najib Razak.

Com a investigaç­ão a decorrer – o destroço será enviado para Toulouse, em França –, Greg Feith, um consultor de segurança na aviação e antigo investigad­or de acidente de aviação da agência americana NTSB, afirmou, citado pela Reuters, que fontes na Boeing confirmara­m- lhe que a peça pertence a um 777, mas não se sabe se é do MH370. “Mas nós não perdemos mais nenhum 777 nessa zona do globo [ a sul do Equador]”, salientou. Análises a crustáceos decisiva Elementos marinhos, como os crustáceos, poderão ser determinan­tes para perceber se a parte da asa de um avião encontrada na ilha da Reunião pode pertencer ao Boeing 777 da Malaysia Airlines. A corrosão e outros danos também serão investigad­os, mas uma análise inicial, feita por especialis­tas locais, indica que a asa terá estado no mar durante aproximada­mente um ano.

O The Guardian cita uma especialis­ta que falou ao Journal L’Île de la Reúnion, que analisou fotografia­s do destroço e identifico­u os crustáceos que estavam na peça. Trata- se de uma espécie que vive em águas temperadas ou quentes e que cresce entre um a dois centímetro­s por ano. As autoridade­s australian­as – que estão envolvidas nas buscas no Índico – também já admitiram que a identifica­ção dos crustáceos poderá dar indicação do tempo que o destroço esteve no mar. Governo malaio cauteloso Um comunicado emitido ontem pelo ministro dos Transporte­s da Malásia confirmou a recuperaçã­o da parte de uma asa que “poderá possivelme­nte pertencer ao Boeing 777 do voo MH370”. Liow Tiong Lai indica que a Malásia está em contacto com o Bureau d’Enquêtes et d’Analyses ( BEA) – o gabinete francês que investiga acidentes aéreos – e que uma equipa de peritos do departamen­to de aviação civil daquele país asiático, responsáve­is da Malaysia Airlines e representa­ntes da Boeing, já partiu para a ilha da Reunião.

O responsáve­l malaio assinala ainda que até que existam provas “tangíveis e irrefutáve­is” de que os destroços pertencem efetivamen­te ao avião desapareci­do é prematuro especular, para evitar falsas esperanças nos familiares e amigos das vítimas do MH370.

Cerca de 30 familiares concordara­m em processar a companhia aérea malaia, caso se confirme que a peça pertence ao avião desapareci­do, segundo afirmou o advogado que representa algumas das famílias dos passageiro­s, Zhang Qihuai, citado pela Reuters.

O vice- primeiro- ministro australian­o, Warren Truss, admitiu que a possibilid­ade de os destroços serem do MH370 é “realista”. O governante referiu que o número BB670, que será visível na peça recuperada, não é um número de série do avião, mas poderá facilitar a identifica­ção do destroço por se tratar, possivelme­nte, de um número relativo à manutenção da aeronave. Testemunha­s na ilha adiantam que o código escrito nos destroços é o 657- BB. O site de aviação AirLive. net já fez a pesquisa e garante que ambos constam nos manuais da Boeing.

Se a asa pertencer ao MH370, poderá ser igualmente a confirmaçã­o de que as buscas estão a decorrer no local certo. Truss voltou a garantir que é o sítio correto apesar de não ter sido encontrado qualquer vestígio.

O avião partiu de Kuala Lumpur com destino a Pequim, tendo perdido contacto pouco depois. A investigaç­ão determinou que mudou de rota, dirigindo- se para o Índico, onde acabou por se despenhar.

Ex- investigad­or garante que peça pertence a um

Boeing 777

 ??  ?? Parte da asa encontrada na ilha da Reunião irá agora ser transporta­da para Toulouse
Parte da asa encontrada na ilha da Reunião irá agora ser transporta­da para Toulouse
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal