Diário de Notícias

Índios americanos chegaram todos juntos e há 23 mil anos

Segundo novos estudos, genética dos povos da Amazónia está mais próxima das populações da Austrália do que de África ou da Eurásia. Alasca foi porta de entrada

- JOÃO ALMEIDA MOREIRA, São Paulo

Ainda nem Pedro Álvares Cabral ou Cristóvão Colombo sonhavam nascer e já o Brasil e a América tinham sido descoberto­s por índios siberianos. Foi há 23 mil anos por uma única onda migratória de índios com a mesma ascendênci­a dos aborígenes australian­os, segundo o mais recente estudo genético realizado pela Universida­de de Copenhaga. O trabalho confirma ainda outros estudos que haviam concluído que a porta de entrada das populações foi o Estreito de Bering, ligação entre Alasca e Sibéria, que na época não estava submersa, e que é improvável que a sua origem seja africana ou eurasiana, como se previu.

Com base em dados genéticos de indivíduos antigos e modernos das Américas, da Sibéria, de África, da Oceânia e da Europa, o professor Maanasa Raghavan, da academia dinamarque­sa, e os seus colegas investigad­ores concluíram que os primeiros ameríndios chegaram da Sibéria todos de uma vez 21 mil anos antes de Cristo.

No artigo publicado na revista americana Science, é revelado que nos primeiros oito mil anos os migrantes ficaram pela região mais a norte das Américas, o Alasca e a Sibéria Oriental, antes de descerem para as regiões central e sul do continente americano.

As diferenças genéticas entre as populações ameríndias atuais, defende o estudo, não derivam de diversas correntes migratória­s mas sim de encontros ocorridos após a grande migração de há 23 mil anos.

Os académicos dinamarque­ses sublinham ainda a compatibil­idade genética entre os ameríndios e as populações da Ásia Oriental e os australo- melanésios, habitantes da Papua, das ilhas Salomão e do Sudeste asiático.

“Esta descoberta surpreende­nte indica que a população do Novo Mundo não ficou isolada do Velho Mundo após a sua migração inicial”, relata a pesquisa de Raghavan.

A conclusão não diverge do estudo complement­ar que os profes- sores da Escola de Medicina de Harvard, nos EUA, Pontus Skoglund e David Reich, publicaram na revista britânica Nature.

De acordo com Skoglund e Reich, que compararam o genoma de 30 populações ameríndias da América Central e do Sul com o de 197 pessoas de todo o mundo, alguns povos ameríndios da Amazónia seriam mais próximos dos primeiros indígenas da Austrália, da Nova Guiné e das ilhas Andamão, arquipélag­o na Índia, do que de euroasiano­s ou ameríndios.

Para os cientistas, estas relações genéticas ocorreram durante encontros posteriore­s à grande onda migratória inicial mas antes da chegada dos primeiros ameríndios à Amazónia. “Nosso estudo sugere novas contribuiç­ões, o que não contradiz os resultados de Maanasa Raghavan”, disse Skoglung à AFP, citado pela Globo.

As conclusões dos dois estudos são relevantes para as áreas da antropolog­ia e da arqueologi­a porque dá novas respostas a perguntas efetuadas durante décadas.

Até maio, pensou- se que os ameríndios tinham chegado de África ou da Eurásia. Mas desde que a descoberta arqueológi­ca de uma ossada escondida numa caverna a 40 metros abaixo do nível do mar, em Yucatán, no México, pertencent­e a um adolescent­e de 15 ou 16 anos morto há 12 mil anos, revelara um DNA semelhante aos dos povos siberianos antigos e não de africanos ou eurasianos, essa ideia tinha sido alterada.

Agora, depois de se saber que os ameríndios chegaram através da faixa que liga Sibéria e Alasca – o hoje em dia imerso Estreito de Bering – passa a haver provas de quando isso ocorreu e em quantas vezes ocorreu.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal