Cameron diz que ilegais são “uma praga de pessoas” que vêm de África
Partidos da oposição e organizações de direitos humanos indignados com declarações sobre crise migratória de Calais
Foi no final de uma visita de Estado ao Vietname, esta quinta- feira, que o primeiro- ministro britânico classificou os refugiados de Calais como uma “multidão de pessoas que atravessa o Mediterrâneo em busca de uma vida melhor”.
David Cameron usou a expressão “swarm” que, numa tradução à letra, significa enxame. Já quando aplicada a pessoas pode significar “bando” e, num sentido mais pejorativo, pode também ser o equivalente a “praga.”
Ora, parece ter sido esta a interpretação dos partidos da oposição, já que uma palavra bastou para incendiar os ânimos políticos no Reino Unido. A líder em exercício do Partido Trabalhista ( recorde- se que o ex- líder Ed Miliband se demitiu na sequência da pesada derrota nas legislativas de maio) rapidamente veio a público condenar as palavras do governante.
Harriet Harman disse aos jornalistas que Cameron “não se deve esquecer de que está a falar de pessoas, não de insetos”, e acrescentou que a sua suposta mudança de atitude “aparenta ter como objetivo dividir e colocar as pessoas contra os migrantes de Calais”.
Até o atual líder do anterior parceiro de coligação, o Partido Liberal Democrata, Tim Farron, veio a público dizer que o líder do governo britânico “não tem noção do estado de desespero em que uma pessoa tem de estar para subir para a um camião ou para um comboio em busca de uma vida melhor”.
As palavras do primeiro- ministro originaram um coro de críticas também de organizações de direitos humanos e até de um representante das Nações Unidas, que disse que o Reino Unido não está a lidar com a crise dos imigrantes ilegais de Calais de forma responsável.
A polémica instalou- se no mesmo dia em que foi notícia que, pela terceira noite consecutiva, centenas de ilegais tentaram novamente invadir o Eurotúnel que liga a França ao Reino Unido por via ferroviária. Foi na madrugada de ontem. Desta vez, terão sido “apenas” 250, um número bastante abaixo do das noites anteriores – na segunda- feira à noite foram 2100 e na terça- feira 1500 – e que pode bem ser o reflexo do aumento da presença policial em Calais, na sequência do envio pelo governo francês de mais 120 agentes.
A crise com os refugiados em Calais atingiu um novo pico esta semana, depois de invasões diárias dos acessos ao Eurotúnel, que culminaram com a morte de um sudanês com cerca de 20 anos, na madrugada de quarta- feira.
Estima- se que nos campos em redor do porto de Calais vivam cerca de cinco mil ilegais vindos de países como Eritreia, Sudão e Síria. Chegaram à cidade fronteiriça francesa depois de muitos milhares de quilómetros percorridos, mas da França não querem nada. O seu objetivo é chegar a solo britânico porque acreditam que só aí conseguirão uma “boa vida”.
Mas Cameron garante que não vai deixar que o Reino Unido se torne um “paraíso para refugiados”. Para isso abriu os cordões à bolsa e no espaço de um mês a verba a investir no reforço da segurança em Calais já vai em 12 milhões de euros. Devido aos problemas ocorridos em Calais aquando da greve dos trabalhadores portuários, em junho, o governo rapidamente anunciou o investimento de dois milhões de euros na construção de uma nova zona de segurança para estacionamento dos camiões com destino ao Reino Unido. Foi ainda decidida a instalação junto ao terminal ferroviário de uma cerca de 2 km do mesmo tipo de vedação utilizado quando da última cimeira da NATO no País de Gales, em 2014, e nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Em virtude dos problemas desta semana, foi anunciado o investimento extra de mais dez milhões euros para aumentar a segurança sobretudo na entrada do Eurotúnel, em Coquelles, porque apesar das medidas de segurança alguns ilegais conseguem chegar a Inglaterra.