Schäuble: Comissão Europeia está politizada e deve ter menos poder
Conduta de Juncker nas negociações com Atenas aumentou descontentamento do ministro alemão. FMI adia apoio a novo resgate
O ministro das Finanças alemão quer que sejam retirados poderes a Bruxelas e defende que a ideia de uma Comissão Europeia mais política, como quer o seu presidente, não é compatível com as suas funções originais. A instituição respondeu a estas intenções com vários tratados.
Segundo o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung ( FAZ), Wolfgang Schäuble advoga que as áreas da Concorrência e do Mercado Interno sejam retiradas à Comissão Europeia e entregues a organismos politicamente independentes. Na opinião do ministro das Finanças, a ideia de uma Comissão Europeia política, como defende o atual presidente Jean- Claude Juncker, não é compatível com as suas funções originais, de “guardiã” dos tratados.
De acordo com o FAZ, Wolfgang Schäuble terá mesmo apresentado estas propostas de alterações na reunião dos ministros das Finanças da União Europeia ( ECOFIN) do passado dia 14. E que o ministro das Finanças holandês e presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, quer colocar este tema na agenda da presidência da Holanda do Conselho da União Europeia, no primeiro semestre de 2016.
O desentendimento de Schäuble quanto às competências da Comissão Europeia ter- se- á agudizado durante os últimos cinco meses de negociações com a Grécia, com o alemão a ter ficado desagradado com a intervenção no processo de Jean- Claude Juncker, considerando que foi mais política e menos técnica.
As competências da Comissão Europeia poderão também vir a ser debatidas na preparação do referendo sobre a saída ou permanência do Reino Unido na UE.
O primeiro- ministro David Cameron quer várias concessões por parte dos parceiros europeus em troca da defesa da permanência britânica na UE e uma dessas pode ser menores competências da Comissão, pelo que Schäuble estará à espera de apoios de Londres às suas propostas.
A Comissão Europeia citou ontem os tratados da União Europeia quanto à abrangência das suas competências como reação à alegada intenção do ministro das Finanças alemão de retirar poderes à instituição liderada por Juncker.
A porta- voz Mina Andreeva defendeu o papel cada vez mais políti- co da Comissão com a “nova realidade institucional”, justificando que “pela primeira vez”, desde as eleições europeias de 2014, há uma “ligação direta entre as eleições e a escolha e nomeação do presidente da Comissão Europeia”. Programa abrangente Em Atenas, começaram esta semana as negociações para o terceiro resgate, mas o Fundo Monetário Internacional não parece disposto a dar “luz verde” a curto prazo a um novo empréstimo.
Um oficial da instituição liderada por Christine Lagarde disse ontem que o FMI só poderá aprovar novos empréstimos depois de a Grécia chegar a um acordo com os governos europeus que garanta que Atenas possa pagar as suas dívidas.
“O FMI apenas poderá apoiar um programa que seja abrangente”, disse fonte do fundo, acrescentando que “levará algum tempo” até que a Grécia e os seus credores europeus consigam alcançar as bases necessárias para um novo programa do fundo.
Mesmo assim, o oficial do FMI garantiu que a instituição irá participar ativamente nas negociações e que a administração do fundo autorizou ontem as discussões sobre um novo programa de ajuda à Grécia.
De recordar que o FMI defende como imperativa uma reestruturação da dívida grega e a criação de leis que supervisionem a economia helénica.