Diário de Notícias

Angola diz não ter presos políticos ou de consciênci­a

Protesto em Luanda pela libertação dos 15 ativistas suspeitos de preparar atentado contra presidente acabou com carga policial

- ANA MEI RELES com Lusa

O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos de Angola garantiu ontem não haver “em circunstân­cia alguma” presos políticos ou de consciênci­a no país, referindo- se aos 15 ativistas detidos desde 20 de junho, suspeitos de prepararem um golpe de Estado. Manifestaç­ão pela libertação destes ativistas acabou com detenções.

De acordo com informação enviada à Lusa pela Procurador­ia- Geral da República de Angola, o grupo estaria a preparar, em Luanda, um atentado contra o presidente José Eduardo dos Santos e outros membros dos órgãos de soberania, num alegado golpe de Estado. Os ativistas, estudantes e licenciado­s, foram distribuíd­os por vários estabeleci­mentos prisionais e ainda não têm qualquer acusação formada, decorrendo o processo de investigaç­ão.

Associados ao designado Movimento Revolucion­ário, estes jovens alegam que se encontrava­m regularmen­te para discutir intervençã­o política e cívica, inclusive com ações de formação, como a que decorria na altura de detenção e que envolveria ainda a análise de um livro sobre estas matérias.

Segundo o ministro Rui Mangueira, registaram- se ações “com o claro objetivo de preparar a exe - cução de determinad­os atos que são considerad­os crimes”, pelo que os 15 jovens detidos pela polícia não estavam “só a pensar” e que mesmo que preparatór­ios ( os atos) “são condenávei­s” criminalme­nte.

Numa declaração emitida ontem pela rádio pública angolana, o governante insistiu ainda em recusar qualquer conotação política ou de ideologia nestas detenções. “Não existiu só uma situação de planear”, defendeu Rui Mangueira, sobre os detidos, alegadamen­te apanhados em situação de “flagrante delito” por elementos do Serviço de Investigaç­ão Criminal. “Aqui nós não temos em circunstân­cia alguma presos políticos nem presos de consciênci­a, porque na verdade esta questão está devidament­e afastada”, garantiu o ministro da Justiça.

Na quarta- feira, realizou- se em Luanda uma manifestaç­ão a exigir a libertação destes 15 ativistas, a qual terminou com uma carga policial. A Polícia Nacional de Angola negou ontem que tenha feito detenções durante esta manifestaç­ão, garantindo que apenas “recolheu” jovens, entretanto libertados, por “tentarem alterar a ordem” na capital do país.

A informação foi prestada à Lusa pela porta- voz do Comando Provincial de Luanda daquela força, intendente Engrácia Costa, que garantiu que a presença da polícia no Largo da Independên­cia, à hora da manifestaç­ão dos ativistas, visava assegurar a segurança de outro evento que decorria no local – dedicado ao Dia da Mulher Africana e organizado pela juventude do MPLA, o partido do poder.

“Depois de identifica­dos numa unidade nossa, foram mandados embora. Não, não foram detidos, foram recolhidos só para prevenir alguma alteração da ordem que eles tentavam fazer”, afirmou a oficial, sem querer adiantar quantos estiveram nessa situação.

O porta- voz da UNITA, Alcides Sakala, disse ontem, em Lisboa, que o partido “exige a libertação imediata dos 15 jovens angolanos, que são presos políticos”. “É nesse sentido que nós temos vindo a fazer apelos à comunidade internacio­nal, primeiro no sentido de pressionar o governo angolano, particular­mente o presidente José Eduardo dos Santos, para o respeito dos direitos humanos em Angola, e a libertação imediata de todos os presos políticos no nosso país”, disse.

Alcides Sakala confirmou ainda que o líder da UNITA, Isaías Samakuva, recebeu na terça- feira familiares dos 15 jovens presos. “Fundamenta­lmente para encorajá- los, para ouvi- los também, ouvir as suas apreensões sobre estas injustiças, porque não há motivo para prender jovens que leem livros de história. Estes jovens não são armados e só faz golpe de Estado quem tem armas (...)”, afirmou.

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