Diário de Notícias

Abre temporada lírica do São Carlos sob a batuta de Patrick Dickie

O inglês Patrick Dickie é o programado­r- convidado do Teatro São Carlos para a vertente lírica até ao final da próxima temporada. O DN falou com ele, numa altura em que o Teatro divulgou as suas atividades para 2015- 2016

- B E R NARDO MARI A NO

“Programado­r- convidado”, começa por dizer Patrick Dickie quando lhe perguntamo­s a nomenclatu­ra oficial das suas funções no São Carlos. O que “traduzido” significa que ele é “responsáve­l artístico apenas pela temporada lírica 2015- 16”. Uma prestação de serviços de um ano, porque “o Teatro precisava que alguém desempenha­sse esta tarefa”.

Patrick é um conhecido produtor e programado­r de ópera e teatro musical em Inglaterra, estando ligado a instituiçõ­es como a English National Opera ( ENO, onde conheceu Joana Carneiro) e ao Festival de Aldeburgh, de que é consultor artístico – “são trabalhos muito flexíveis, felizmente, senão não teria podido aceitar!” –, mas também ao londrino Almeida Theatre.

Nunca estivera antes no São Carlos e diz que “um sonoro uau!!” foi a sua primeira reação ao entrar na sala principal – “fiquei siderado!” Iniciou este desafio “em finais de maio, quando começou o planeament­o”. Demarca- se da figura do “diretor artístico que chega ao teatro com uma lista de óperas” que quer ver feitas – “isso seria desconside­ração”, diz.

O seu background de “colaboraçõ­es criativas e de formar equipas artísticas” fê- lo “levar em linha de conta os desejos que foram expressos pela excelente equipa do Teatro, da qual o encenador Graham Vick me disse coisas muito boas”. Acha que tem “um papel muito claro: trabalhar juntamente com os meus interlocut­ores no Teatro, sugerir títulos e recomendar produções, equipas artísticas e elencos”.

O resultado, isto é, a temporada “é uma fusão de novos projetos, que apontam para direções que poderão vir a ser exploradas no futuro, com a tradição mais forte deste Teatro: o repertório italiano”. Este “está no início e no fim, com a Butterfly e Nabucco” e naqueles “incluo as novas produções de Iphigénie – minha sugestão – e das Carmélites – sugestão do maestro João Paulo Santos”.

Das propostas mais excêntrica­s – O Canto da Europa e Carnaval – afirma que “é o género de coisas que eu proporia no Almeida ou na ENO [ a primeira] ou em Aldeburgh [ a segunda]”. Resta A flowering tree, de John Adams, encenação de Nicola Raab que Joana Carneiro dirigiu em Gotemburgo e que trará a Lisboa.

Já Nabucco está ligado à figura de

Patrick Dickie está a trabalhar na programaçã­o da próxima temporada desde finais de maio Elisabete Matos: “Era importante que ela integrasse a temporada. Ela fará um concerto com a orquestra e orientará masterclas­ses ao longo da temporada, numa espécie de residência artística sua em Lisboa.” Em relação ao título, “nós sabíamos que queríamos um Verdi e, pelo seu lado, ela nunca tinha cantado a Abigail em Lisboa, por isso foi simples. Ela está encantada!”

Olhando para o todo, Patrick pensa que “se criou um equilíbrio dos títulos entre si e, para mim, a sucessão Poulenc- Gluck- Adams é muito interessan­te do ponto de vista artístico”, o que o deixa feliz, pois “numa temporada pequena é importante haver projetos que se destaquem”. Um programa “do qual todo o Teatro se orgulha e que valoriza a aposta em cantores, compositor­es e encenadore­s portuguese­s”.

Agora que as escolhas estão feitas, “há outra parte muito importante do meu trabalho: eu gosto de pôr as mãos na massa, por isso irei estar sempre no trabalho de preparação e ensaios, colaborand­o ativamente com os artistas e os criativos, mormente nas novas produções”. Quanto ao resto, Patrick pensa que “o São Carlos tem potencial para se tornar um polo criativo para jovens compositor­es e encenadore­s nacionais, pois a equipa que lá trabalha percebe mesmo do ofício”. Nesse sentido, “já estamos a discutir a política de encomendas para os próximos anos e espero, pois só aqui estarei um ano, deixar um bom contributo nessa direção”. Do lado dos criadores, ele também conhece o potencial: “Veja, o Vasco Mendonça recebeu agora uma encomenda do Teatro La Monnaie [ Bruxelas] para 2017- 18.”

O seu tempo será curto, mas gostaria de “ajudar à descoberta de novos talentos e dar- lhes oportunida­de de se estrearem e aqui darem os seus primeiros passos” e, por outro lado, “deixar atrás de mim um Teatro feliz, onde todos retirem prazer do trabalho que fazem”. O que se liga à sua inclinação por “criar o novo a partir de um trabalho de equipa, no espírito de uma visão partilhada”. Patrick regressa a Lisboa “em setembro, para os ensaios de Butterfly” e anuncia já: “É uma belíssima produção, posso assegurá- lo!”

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