Diário de Notícias

Todo o ano à espera do campo de férias que termina em musical

Têm entre 10 e 17 anos. Estão de férias mas, durante todo o dia, dançam, cantam e tocam música. Tudo para que hoje o musical Sonho de Uma Noite de Verão suba ao palco

- MARI A NA PE R E I R A

A quinta em Valada do Ribatejo recebe trinta novos “inquilinos” no domingo, que ali chegam para uma semana de formação em música, dança e teatro na Academia de Artes da Lisbon Film Orchestra Há uma quinta onde, de manhã cedo, 70 crianças e jovens, entre os 10 e os 17 anos, têm acordado nestas férias de verão para ir dançar, representa­r ou integrar uma orquestra. Não há propriamen­te uma morada. Chegamos a Valada do Ribatejo e perguntamo­s pela quinta da música. Fácil. É Francisco Santiago, que com o maestro Nuno de Sá dirige a Lisbon Film Orchestra ( LFO), quem abre o portão. Estamos em plena Academia de Artes da orquestra que, desde 2006, tem interpreta­do os grandes temas que, hoje e ao longo do tempo, fazem as bandas sonoras do cinema.

Estas são duas semanas em que, pelo sétimo ano consecutiv­o, de manhã ao final do dia, os jovens têm, consoante a área que escolheram, aulas de música, dança ou teatro. Todas as horas tiveram em vista um fim: levar esta noite ao palco o musical Sonho de Uma Noite de Verão, que parte da peça de William Shakespear­e. Todas as horas, entenda- se, são aquelas que pertencem à labuta. As outras são passadas a jogar voleibol, em passeios que levam à praia fluvial ou em festas de final de tarde como aquela que, horas após a nossa visita, teria lugar.

Era final da manhã, à esquerda, na sala de teatro: Margarida Encarnação, a voz da canção Já Passou na versão portuguesa do filme Frozen ( que qualquer criança não hesitará em cantar). Está ali como professora de técnica vocal. À sua frente, jovens atores que vão dando vida ao Sonho de Uma Noite de Verão. Gonçalo, de 15 anos, é Puck, o duende. Em 2011 veio apenas uma semana – outra modalidade da Academia, apenas com aulas, sem espetáculo final –, no ano seguinte faria as duas semanas e, desde então, regressari­a todos os anos.

“Só faço teatro aqui”, lança o estudante de artes visuais na Escola António Arroio, em Lisboa. “É aquilo que eu gosto mesmo de fazer: o teatro musical. Nos outros anos não foi baseado numa peça, foi inventada uma história por nós ou pelos professore­s, usávamos músicas de musicais já existentes e depois adaptávamo­s.” Pouco depois chegaria a sua irmã gémea, Margarida, que pouco tempo antes encarnava Helena, numa tensa cena entre esta e Hérmio, Lisandro e Demétrio encenada pelo professor de teatro Simon Frankel.

Na sala ao lado, a professora Laura Póvoa dirige os jovens bailarinos que se haveriam de juntar ao musical quando, mais logo, fizessem um ensaio corrido, com todos.

“É maravilhos­o ter uma orquestra a tocar, em vez de gravações”, comenta uma das bailarinas, a Sara, durante a pausa da manhã. Quando a encontramo­s já tinha uma hora e meia de ballet clássico cumprida e preparava- se para mais três entre dança contemporâ­nea e a coreografi­a. “Nos primeiros dias é um bocadinho complicado, especialme­nte no segundo. Quando acordamos, temos muitas dores. Andar custa, fazer qualquer coisinha que era fácil para nós custa. Mas depois habituamo- nos ao ritmo.”

A alguns metros, um jovem saxofonist­a e outro violonceli­sta jogam pingue- pongue. Ambos se chamam João e têm 17 anos. Estudam no Conservató­rio Nacional de Música, Lisboa. Ali, tinham acabado o ensaio da orquestra, conduzido pelo maestro Nuno de Sá, que assina todas as orquestraç­ões do musical.

O que é que os faz, sob dias de mais de 30 graus e quando a maioria dos seus amigos estarão na praia, passar o dia a tocar? “Ficamos o ano todo à espera disto. É um mundo completame­nte diferente. A amizade que existe aqui é brutal. É uma maneira de estar a fazer coisas que gostamos, no meu caso estou a tocar violoncelo e estou com amigos”, responde João Fernandes. O treino intensivo torna “a evolução muito maior”.

As risadas que intervalam os ensaios, as camaratas desarrumad­as, a proximidad­e do rio, a rede de voleibol no pátio e o cão que por ali se passeia fazem a paisagem do campo de férias que é a Academia de Artes da LFO. A música que vem da sala de convívio – onde a orquestra ensaia –, o bailarino que passa ou a voz de um jovem ator são pistas do musical em que tudo desemboca.

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