Diário de Notícias

A redenção de De Mateos: da expulsão por agressão à vitória em Bragança

Há um ano, o ciclista espanhol foi expulso da prova portuguesa após uma troca de agressões numa etapa. Ontem venceu na ligação de Pinhel a Bragança, mas Gaetan Bille conservou a camisola amarela

- J OÃO RUEL A

Desta vez, Vicente de Mateos usou os braços apenas para festejar. O ciclista espanhol, um dos protagonis­tas do episódio mais negro da Volta a Portugal de 2014, venceu ontem a primeira etapa da 77. ª edição da competição, ao ser o mais rápido na ligação entre Pinhel e Bragança.

O ciclista de 26 anos, que corre pela Louletano- Ray Just Energy, redimiu- se da melhor forma das cenas de pugilato que dividiu com o dinamarquê­s Asbjorn Kragh, na sexta etapa do ano passado, um episódio que terminou com a expulsão dos dois corredores.

Ao sexto ano como profission­al, De Mateos alcançou a primeira vitória da carreira, ao cumprir os 196,8 quilómetro­s da etapa de ontem em cinco horas, dez minutos e quatro segundos. Um triunfo extremamen­te renhido, fruto do sprint de “loucos” que envolveu o português Samuel Caldeira, segundo classifica­do, e o italiano Davide Vigano, que fechou o pódio da primeira etapa da Volta a Portugal – a camisola amarela continua na posse do belga Gaetan Bille, vencedor do prólogo.

Bragança não recebia uma etapa da Volta a Portugal há 15 anos, mas a espera valeu a pena pela emoção e disputa da vitória na etapa até ao último suspiro. “Foi um sprint louco. No último quilómetro estava toda a gente nervosa. Parece que não viram bem onde estava o risco na primeira passagem pela meta e começaram a arrancar. Eu mantive- me calmo e saltei só quando vi a placa da meta”, relatou De Mateos, que foi 6. º classifica­do no campeonato de estrada de Espanha.

Em 2014, De Mateos já tinha revelado as suas qualidades de sprinter, mas em Viseu foi notícia por outros motivos. Na 6. ª etapa, ganha por Phil Bauhaus, vários ciclistas envolveram- se num aguerrido sprint pela vitória, mas as rodas das bicicletas do espanhol e do dinamarquê­s Kragh tocaram uma na outra, o que provocou um desequilíb­rio, embora sem quedas. Seguiram- se cenas de pugilato, captadas em direto pela RTP, e a expulsão dos dois corredores, embora De Mateos tenha alegado legítima defesa.

“No final, já depois de cortar a meta, as nossas bicicletas choca-

Vicente de Mateos festeja a primeira vitória da sua carreira numa prova de ciclismo ram. Ele não gostou e atingiu- me. E eu respondi e defendi- me”, justificou. Mas o que o Colégio de Comissário­s viu foi um episódio que não poderia ser alheio a consequênc­ias disciplina­res. Desta vez, De Mateos, que adora devorar li- vros de ciclismo e ler obras biográfica­s de grandes nomes da modalidade, foi notícia por motivos bem mais compensado­res.

O português Samuel Caldeira, que em abril ascendeu à liderança da Associação Portuguesa de Ci- clistas Profission­ais e colocou- se na luta pelo estatuto de “ciclista do ano”, foi quem mais próximo esteve de evitar a vitória de De Mateos, enquanto Davide Vigano ( Idea 2010 ASD), o campeão dos pontos no ano passado, foi 3. º classifica­do.

Na geral, Samuel Caldeira está também na terceira posição, a 15 segundos de Gaetan Bille, que ontem foi 13. º na etapa. O 2. º posicionad­o é o espanhol Gustavo Veloso, que conquistou a Volta em 2014 e é, para muitos, o mais forte candidato à festa final na chegada a Lisboa, marcada para 9 de agosto. Ontem, Veloso ficou na 14. ª posição, sendo que foi atribuído o mesmo tempo do vencedor aos 39 primeiros classifica­dos da etapa.

Para hoje está agendada uma contagem de primeira categoria, no ponto mais alto de Montalegre, com partida em Macedo de Cavaleiros e destino à serra do Larouco. Será o primeiro grande teste para os candidatos à vitória na Volta de Portugal, antes do fim de semana que incluirá a mítica subida à Senhora da Graça.

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