Diário de Notícias

O dentista do leão foi visto no túnel da Mancha

- FERREIRA FERNANDES Jornalista

Aviso: esta crónica tem imagens perigosas. Vejam Walter Palmer, imigrante louro do Winsconsin, que procura entrar clandestin­amente no túnel de Calais. Na aldeia natal de Walter, a guerra civil entre dentistas e protésicos obrigou este pai de família a fugir. Walter, que pertence à tribo dos dentistas, juntou um pequeno pecúlio para a viagem, o boat people eo resto. Como podem ver, ele agacha- se entre os carris dos vagões do comboio da Eurostar, segura o arco e as flechas e tem no bolso um maço de 50 mil dólares para pagar aos pisteiros que o levam à coutada. Calais fica na zona protegida, onde não só é proibido o abate de leões como já não há leões. O imigrante clandestin­o tem de passar pelo túnel da Mancha, até atingir Folkestone, já na savana onde vive o símbolo e orgulho local: o leão das armas reais do Reino Unido. Nas armas reais há também um unicórnio. Mas Walter prefere abater o leão, que é raro mas ainda existe, enquanto o preço do unicórnio deve estar pelas horas da morte porque ninguém lhe põe a vista em cima. Foi em Calais que Walter percebeu que havia muita gente como ele. Afinal, o conflito entre dentistas e protésicos não era só na sua aldeia. Mas isso é lá com eles, aqueles milhares de imigrantes clandestin­os entre carris... Walter Palmer só quer ter a juba do leão e mandar a foto do troféu para a sua aldeia. É como eu dizia, se duas notícias destas acontecem na mesma crónica, este mundo está mesmo perigoso.

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