Diário de Notícias

Cresciment­o do turismo fez um milionário em Portugal

Começou há 40 anos e hoje está no top 10 dos mais ricos de Portugal, com uma fortuna superior a 500 milhões de euros, criada a partir do maior grupo hoteleiro nacional

- SÉRGIO PIRES

Passa os fins de semana em casa, com a família. “O resto do tempo é para trabalhar”, diz

Atrás dos já habituais Américo Amorim, Alexandre Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo, um nome saltou à vista na lista dos empresário­s mais ricos de Portugal divulgada pela revista Exame na última quarta- feira. Dionísio Pestana, presidente do Grupo Pestana, o maior império nacional no setor do turismo, teve entrada direta no top 10. A fortuna avaliada em 506,6 milhões de euros coloca- o no oitavo lugar.

Uma fortuna construída ao longo das últimas quatro décadas. Mais precisamen­te desde que, em 1976, Dionísio, acabado de se formar em Gestão e Administra­ção de Empresas na Universida­de de Natal ( hoje KwaZulu-Natal), na cidade de Pietermari­tzburg, decidiu trocar a África do Sul pela ilha da Madeira.

Dionísio veio para ajudar o pai, que quatro anos antes deixou a vida de emigrante na África do Sul para investir as poupanças na sua terra natal. Regressou ao Funchal para construir um hotel capaz de concorrer com o trio de luxo da época – Reids, Savoy e Hilton. Com um investimen­to de 1,5 milhões de euros ( com recurso ao crédito bancário) e através de uma parceria com a cadeia Sheraton, ergueu uma unidade de 300 quartos com vista para o oceano Atlântico.

Assim que concluiu os estudos, Dionísio foi viver para a Madeira, para ajudar a salvar o Sheraton Funchal da falência. Ele, que considerou um futuro profission­al na banca, acabou por tornar- se um empresário do turismo e fez crescer o negócio: na década de 1980, apostou no time sharing, desafiando o amigo sul- africano Peter Both para o ajudar no negócio.

Com o retorno que teve, expandiu a sua rede de hotéis com a compra do luxuoso Casino Park Hotel, por sete milhões de euros ( mais tarde viria a recuperar quase todo o investimen­to com a venda de apenas 25%).

A partir da Madeira, os Pestana partiram à conquista do país e do mundo. Hoje, o grupo tem presença em 15 países através de 50 unidades hoteleiras; detém ainda 15 empreendim­entos de habitação periódica, seis campos de golfe e a concessão de jogo para a Madeira e São Tomé e Príncipe, além de participaç­ão numa companhia de aviação charter e num operador turístico. A tudo isto soma- se ainda a gestão da rede de Pousadas de Portugal ( atualmente 37 unidades), desde 2003. Há muito que o objetivo de abrir um hotel por ano tem sido superado. Depois dos primeiros investimen­tos em Moçambique e da aquisição do cinco estrelas Rio Atlântica, no Rio de Janeiro ( 1999), que marcou o arranque da expansão da rede para o Brasil, a internacio­nalização tem sido imparável. Em Londres, Berlim, Barcelona, Miami, São Paulo, Buenos Aires, Caracas, Bogotá ou Casablanca é possível ficar alojado num hotel do grupo português.

Outras grandes cidades se seguem. O Luanda Bay correspond­e a um investimen­to de 250 milhões de euros e tem inauguraçã­o prevista para 2017, o mesmo ano em que está prevista a abertura de um hotel de quatro estrelas em Nova Iorque, com 176 quartos, próximo de Times Square.

“O campeonato dos Estados Unidos é forte porque há muita procura por parte dos investidor­es e a oferta quando aparece no mercado provoca uma luta séria e agressiva. Conseguimo­s construir um hotel em Nova Iorque, que é um êxito para quem é hoteleiro e investidor”, disse no início deste ano Dionísio Pestana, numa altura em que alterou a estrutura da sua holding hoteleira, nomeando José Theotónio para CEO ( presidente executivo) e José Roquette para CDO ( chief developmen­t officer), responsáve­l pela área de desenvolvi­mento estratégic­o do grupo.

O râguebi é uma inspiração

Aos 63 anos, o presidente do grupo continua a envolver- se na gestão diária dos negócios, a ponto de vistoriar pessoalmen­te os hotéis, acompanhan­do obras e testando serviços. Inspira- se nos tempos em que jogava râguebi na universida­de para sublinhar a importânci­a do trabalho de equipa; fotografa e tira notas com ideias de decoração nas viagens que faz. Ainda assim, apesar da intensidad­e da vida profission­al, não descura a relação familiar.

Tem quatro filhos com Margarida Pestana – Carlota, Lourenço, Manuel e Vasco –, incentiva- os a trabalhar nos tempos livres para darem valor ao dinheiro, e considera a gestão de tempo com a família como “o segredo para ter uma carreira de sucesso”: “Consigo estar com os meus filhos e dedicar- me aos negócios. Faço questão de passar os fins de semana em casa e não faço almoços de negócios, porque valorizo esses momentos para estar com a família. O resto do tempo é para trabalhar.”

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Diante do Pestana Palace de Lisboa, o empresário que treinou o trabalho em equipa jogando râguebi, na universida­de
 ??  ?? O Grupo Pestana, presidido por Dionísio Pestana, gere cerca de dez mil quartos e tem ao seu serviço mais de sete mil colaborado­res. O Brasil, com nove hotéis, é o país onde a cadeia tem a maior oferta fora de Portugal
O Grupo Pestana, presidido por Dionísio Pestana, gere cerca de dez mil quartos e tem ao seu serviço mais de sete mil colaborado­res. O Brasil, com nove hotéis, é o país onde a cadeia tem a maior oferta fora de Portugal

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