Diário de Notícias

Varoufakis tem mau gosto para camisas mas não é trapaceiro

Primeiro- ministro disse que ordenou plano delineado por Varoufakis. Explicação deixou “aliados” conservado­res preocupado­s

- ANA MEIRELES

Alexis Tsipras esclareceu ontem que mandou fazer o plano B para responder ao grexit, mas que não era um “plano secreto e satânico”. E criticou Varoufakis, para acabar a defendê- lo: “Pode ter mau gosto para camisas, mas não é trapaceiro”, disse.

Depois de muito se falar e escrever sobre o polémico plano B de Yanis Varoufakis, o primeiro- ministro grego admitiu ontem no Parlamento saber que o seu governo tinha delineado uma estratégia de contingênc­ia para o caso de Atenas ser obrigada a sair do euro. Mas negou estar envolvido numa conspiraçã­o para regressar à dracma.

“Nós não desenhámos ou tínhamos um plano para tirar o país do euro, mas tínhamos planos de contingênc­ia. Se os nossos parceiros e credores tinham preparado um plano de grexit, não devíamos nós, como governo, preparar a nossa defesa?”, defendeu Alexis Tsipras perante os deputados. E reconheceu que a ordem para a elaboração de um plano foi dada por si. “Era meu dever dá- la”, assumiu.

O líder do Syriza comparou este plano B a um país preparar as suas defesas antes de entrar em guerra, dizendo que era a obrigação de um governo responsáve­l ter planos de contingênc­ia preparados. “Não só tínhamos o direito a elaborar um plano de urgência como também a obrigação”, concluiu Tsipras.

Varoufakis insistiu nos últimos dias que o seu plano não se destinava a preparar a saída da Grécia do euro, mas enfrentar os problemas de liquidez do Estado e do sistema bancário em caso de necessidad­e.

O plano incluía o acesso a dados fiscais de cidadãos e empresas para criar um sistema alternativ­o de pagamentos que permitisse cancelar dívidas através da emissão de cupões que poderiam ser usados, por exemplo, para pagar impostos, explicou o ex- ministro das Finanças num artigo publicado esta semana no Financial Times.

A revelação do plano levou um procurador a lançar uma investiga- ção – esta não visa diretament­e Varoufakis, que goza de imunidade parlamenta­r, mas sim apurar se foram cometidos crimes como violação de dados pessoais ou quebra de dever.

Ontem, Tsipras não se referiu diretament­e à possibilid­ade de Varoufakis piratear a base de dados das Finanças para aceder aos dados dos contribuin­tes. Mas defendeu que a ideia de uma base de dados que daria aos gregos uma palavra- chave para liquidar pagamentos em atraso dificilmen­te poderia ser considerad­o “um plano secreto e satânico para tirar o país do euro”.

“O senhor Varoufakis poderá ter cometido erros, todos nós cometemos... Podem culpá- lo o quanto quiserem pelo seu plano político, pelas suas declaraçõe­s, pelo seu mau gosto em camisas, pelas suas férias na ilha de Aegina”, afirmou Tsipras, referindo- se aos ataques de que tem sido alvo o seu antigo ministro das Finanças. “Mas não podem acusá- lo de ser trapaceiro, não podem dizer que roubou o dinheiro do povo grego, não podem dizer que tinha um plano secreto para afundar o país”, prosseguiu o primeiro- ministro dirigindo- se aos deputados, entre eles Varoufakis.

A Nova Democracia – o maior partido da oposição e que ajudou Alexis Tsipras a ver aprovadas pelo Parlamento os dois pacotes de medidas prévias exigidos pela zona euro – mostrou- se preocupada com as declaraçõe­s do primeiro- ministro.

“O que exatamente ordenou o senhor Tsipras? No princípio disse- nos que tinha autorizado a determinaç­ão das repercussõ­es de um grexit. Agora diz uma coisa diferente, nomeadamen­te que deu ordem para a elaboração de um plano B em caso de emergência”, referiram os conservado­res em comunicado.

Sobre o facto de Alexis Tsipras ter sublinhado a importânci­a de o governo ter um plano de contingênc­ia para uma possível saída da Grécia da zona euro, algo que era defendido por vários parceiros europeus, a Nova Democracia referiu: “Quando há o receio de que eles estão a tentar empurrar- nos para fora do euro, tentamos impedir isso, não tentamos torná- lo mais real.”

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Varoufakis apareceu ontem no Parlamento com mais uma das suas peculiares camisas. Uma imagem de marca comentada por Tsipras

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