Diário de Notícias

Cheerleade­rs

- ANDRÉ MACEDO

Logo a seguir à apresentaç­ão do programa eleitoral da coligação PSD- CDS perguntara­m ao deputado Telmo Correia o que ele achava de algumas medidas. Habituado a palco televisivo, onde tem lugar cativo há anos – como tantos outros políticos –, Telmo não se atrapalhou. Fez um sorriso amigável e reconheceu, como se fosse a coisa mais natural do mundo, que não lera as 149 páginas do documento. Vira apenas algumas partes, não conhecia os detalhes, embora subscreves­se naturalmen­te o que lá vinha escrito. Deve ser isto a famosa disciplina partidária. No dia seguinte, outro deputado, desta vez do PSD, admitiu a mesma fraqueza com idêntica candura. Não lera o programa, ainda não tivera tempo, o calhamaço fora apresentad­o apenas na véspera, embora logo a seguir o defendesse com unhas e dentes e o consideras­se um trabalho não só valioso para o debate público como talvez até fosse capaz de ajudar a convencer os portuguese­s a votar na coligação. Para muitos eleitores isto não passará de um pormenor. Afinal, quase ninguém acredita em programas eleitorais, nem sequer em programas de governo, nem sequer nos políticos, por isso esta superficia­lidade assumida não provoca estranheza ou o mínimo de consternaç­ão. É simplesmen­te assim que o sistema partidário funciona e não apenas entre os partidos da maioria. Um grupo de mentes brilhantes pensa e redige as ideias que os partidos vão apresentar. E depois os deputados com maior visibilida­de televisiva ocupam as suas trincheira­s mediáticas para repetir os chavões que acabam por marcar a agenda. Tudo pela rama, tudo com muita convicção – um estupendo foguetório. Já foi dito que nunca como nestas eleições houve tanta informação, tantos números e tanto assunto para discutir. É uma grande oportunida­de cívica. Os deputados dizem que sim, mas ( muitos) comportam- se como

Fazem entretenim­ento, julgam que é política.

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