Cheerleaders
Logo a seguir à apresentação do programa eleitoral da coligação PSD- CDS perguntaram ao deputado Telmo Correia o que ele achava de algumas medidas. Habituado a palco televisivo, onde tem lugar cativo há anos – como tantos outros políticos –, Telmo não se atrapalhou. Fez um sorriso amigável e reconheceu, como se fosse a coisa mais natural do mundo, que não lera as 149 páginas do documento. Vira apenas algumas partes, não conhecia os detalhes, embora subscrevesse naturalmente o que lá vinha escrito. Deve ser isto a famosa disciplina partidária. No dia seguinte, outro deputado, desta vez do PSD, admitiu a mesma fraqueza com idêntica candura. Não lera o programa, ainda não tivera tempo, o calhamaço fora apresentado apenas na véspera, embora logo a seguir o defendesse com unhas e dentes e o considerasse um trabalho não só valioso para o debate público como talvez até fosse capaz de ajudar a convencer os portugueses a votar na coligação. Para muitos eleitores isto não passará de um pormenor. Afinal, quase ninguém acredita em programas eleitorais, nem sequer em programas de governo, nem sequer nos políticos, por isso esta superficialidade assumida não provoca estranheza ou o mínimo de consternação. É simplesmente assim que o sistema partidário funciona e não apenas entre os partidos da maioria. Um grupo de mentes brilhantes pensa e redige as ideias que os partidos vão apresentar. E depois os deputados com maior visibilidade televisiva ocupam as suas trincheiras mediáticas para repetir os chavões que acabam por marcar a agenda. Tudo pela rama, tudo com muita convicção – um estupendo foguetório. Já foi dito que nunca como nestas eleições houve tanta informação, tantos números e tanto assunto para discutir. É uma grande oportunidade cívica. Os deputados dizem que sim, mas ( muitos) comportam- se como
Fazem entretenimento, julgam que é política.