Diário de Notícias

Menos processos reduz em 15 milhões receitas da justiça

Apesar de o acesso aos tribunais estar mais caro do que há dez anos, os dados mais recentes apontam para uma descida: em 2013 foram cobrados 222 milhões de euros em taxas

- FILIPA AMBRÓSIO DE SOUSA

O Estado cobrou menos 15 milhões de euros em taxas de justiça, os montantes que os cidadãos têm de pagar quando recorrem aos tribunais. Segundo os dados mais recentes divulgados pela Direção- Geral de Política de Justiça ( DGPJ) – relativos a 2013 – nesse ano foram cobrados a quem recorreu aos tribunal 222 milhões de euros. Uma descida face aos 237 milhões do ano anterior ( 2012). Uma das explicaçõe­s para esta redução das verbas cobradas pode estar no número de ações judiciais a decorrer nos tribunais de primeira instância: se em 2012 eram 1,7 milhões, 12 meses depois ultrapassa­vam os 1,5 milhões.

Segundo a advogada Sofia Martins, da sociedade de advogados Miranda Law Firm, vários fatores podem estar na base desta descida. “Menos ações intentadas nos tribunais como decorrênci­a, nomeadamen­te, do aumento dos custos associados, designadam­ente a título de taxa de justiça. Já no ano de 2014, por exemplo, no qual se registou uma nova, se bem que ligeira, quebra face a 2013, a mesma aparece justificad­a pelo problema gerado em torno da inoperacio­nalidade do Citius no início do ano ju- dicial, o que naturalmen­te gerou um menor número de ações entradas em juízo, o que nos parece uma explicação razoável, pelo menos em certa medida”, adianta ao DN.

A advogada diz que o único dado concreto que existe sobre esta matéria é que “desde a entrada em vigor do Regulament­o das Custas Processuai­s, há dois anos – que veio trazer um aumento sensível do custo da justiça – houve uma quebra na receita cobrada. Será impossível concluir com total certeza as causas desta quebra sem aprofundar uma análise estatístic­a dos dados de que não dispomos, nomeadamen­te o número e valor médio das ações entradas em juízo nestes anos”.

Luís Menezes Leitão, professor na Faculdade de Direito de Lisboa, acrescenta outra explicação: “A principal razão desta descida parece- me ser o aumento das dificuldad­es económicas, o que leva a que muitas pessoas beneficiem de apoio judiciário, o que reduz o valor das custas judiciais.” Os números oficiais comprovam- no. Só no primeiro semestre do ano em análise ( 2013), a Ordem dos Advogados ( OA) já tinha recebido mais 19 831 pedidos de defesas oficiosas comparativ­amente ao último semestre do ano anterior. No total, foram pedidos 123 014 advogados oficiosos e no último semestre de 2012 registaram- se 103 183. Uma despesa que fica única e exclusivam­ente a cargo do Estado, pelo menos nos casos em que estes arguidos ou réus acabam condenados. João Moreira, advogado, diz que há cada vez mais “uma consciênci­a coletiva de que existem meios alternativ­os de resolução de litígios”, ou seja, julgados de paz, arbitragem e mediação, que permitem aos cidadãos usar outras vias extrajudic­iais. “Muitas delas bem mais baratas”, diz o advogado. Luís Menezes Leitão acrescenta: “Tem- se assistido a um grande desenvolvi­mento da arbitragem, o que tira muitos processos dos tribunais.” Vieira recusa- se a pagar No final de 2013, o Tribunal Constituci­onal ( TC) deu razão ao presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que se recusou a pagar uma taxa de justiça de 118 mil euros, cobrada apesar de este ter desistido do pro- cesso. Em causa estava uma ação de pedido cível por ofensas ao bom nome e reputação, mas de que o dirigente desportivo acabou por desistir. Isto porque o Regulament­o das Custas Processuai­s define que o montante das taxas de justiça cobrado é calculado em função do valor da ação, mesmo que as diligência­s tenham sido reduzidas.

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