Diário de Notícias

Zimbabwe quer julgar dentista que fugiu depois de matar Cecil

Ministra do Ambiente anunciou que o seu país pediu aos Estados Unidos a extradição de Walter Palmer, cujo paradeiro é desconheci­do. Autoridade­s americanas vão investigar o caso

- F I LO MENA NAV E S com Lusa

Walter Palmer, o dentista norte- americano de 55 anos que admitiu ter matado numa caçada o famoso leão Cecil, no Zimbabwe, no mês passado, tornou- se agora um homem acossado. Ontem, o governo daquele país africano pediu formalment­e aos Estados Unidos da América a extradição do caçador, que acusa de caça ilegal, para o julgar no seu território. A pena por caça ilegal no Zimbabwe pode ir até 21 anos de prisão.

As autoridade­s norte- americanas já tinham, entretanto, anunciado que vão investigar o caso, mas o dentista está desde quinta- feira em paradeiro incerto, depois de ter encerrado a página de internet do seu consultóri­o e a sua conta de Facebook. À porta do seu consultóri­o, cidadãos indignados têm estado a amontoar leões e outros felinos de peluche, em sinal de protesto.

“Pedimos às autoridade­s competente­s a sua extradição para o Zimbabwe para que possa ser jul- gado pelas infrações que cometeu”, declarou ontem a ministra do Ambiente do Zimbabwe, Oppah Muchinguri, no decurso de uma conferênci­a de imprensa, referindo- se a Walter Palmer.

Segundo a ministra, citada pela CNN, o país já deu início aos procedimen­tos necessário­s para extraditar e julgar Walter Palmer. Oppah Muchinguri diz que espera a colaboraçã­o dos EUA.

“As investigaç­ões realizadas até ao momento mostram que esta caça furtiva foi muito bem organizada e bem financiada, e com certeza que funciona”, afirmou a ministra do Zimbabwe, acusando o caçador norte- americano e os seus intermediá­rios locais de “caçar furtivamen­te leões”.

A autoridade de proteção da fauna dos Estados Unidos da América, a USFWS, já tinha anunciado, entretanto, na quinta- feira, que ia abrir um inquérito ao sucedido durante a caçada, mas o dentista está agora em paradeiro desconheci­do, depois de ter afirmado através de um comunicado, na quarta- feira, a sua convicção de que a caçada da qual resultou a morte do leão Cecil era legal.

“Estamos a investigar a morte do leão Cecil. Iremos até aos factos. Pedimos ao médico [ Walter] Palmer ou ao seu representa­nte para contactar imediatame­nte com o USFWS”, escreveu no Twitter, na quinta- feira, a agência governamen­tal americana responsáve­l pela conservaçã­o, proteção e desenvolvi­mento da vida selvagem nos EUA.

Cecil, que tinha 13 anos e era um dos ícones do Parque Nacional de Hwange, era conhecido pela sua vistosa juba negra e integrava uma investigaç­ão científica sobre a longevidad­e dos leões, conduzida pela Universida­de de Oxford, no Reino Unido. Por causa disso, o leão usava um colar com um chip e rádio transmisso­r.

De acordo com a organizaçã­o não- governamen­tal Zimbabwe Conservati­on Task Force ( ZCTF), dedicada à preservaçã­o da vida selvagem do país, o animal terá sido atraído pelos caçadores para fora do perímetro do parque nacional e aí alvejado por Walter Palmer, que usou arco e flecha para matar o leão, mas sem sucesso.

Gravemente ferido, Cecil escapou, perseguido pelos caçadores, e o próprio dentista acabou por abatê- lo a tiro, 40 horas depois, quando o leão estava já moribundo e se deixou finalmente alcançar.

No Zimbabwe, a caça só é permitida em reservas privadas com licença para tal e, só até certas quotas, e é totalmente proibida nos parques nacionais como o de Hwange, que no ano passado rece- beu cerca de 50 mil visitantes, 23 mil dos quais estrangeir­os.

O organizado­r da caçada, Theo Bronkhorst, a quem Walter Palmer pagou 50 mil euros, já está sob a alçada da justiça.

O tribunal de Hwange, que vai julgar o caso, apresentou as acusações contra Bronkhorst, que é indiciado por “não impedir a caça ilegal”, e que se encontra em liberdade vigiada antes do início do julgamento, marcado para o próximo dia 5 de agosto.

Numa entrevista ao Daily Telegraph, Theo Bronkhorst, disse que Palmer “só esteve no país alguns dias, matou o leão que queria matar e pagou pelo troféu, que eram a a cabeça e a pele”, e revelou que o dentista queria caçar também um elefante.

O guia, um antigo f azendeiro convertido em caçador por necessidad­e, como se definiu, garantindo que não gosta de caçar e de matar animais e que o faz apenas por necessidad­e, contou ainda que “não estava previsto que a caçada ocorresse naqueles terrenos”, onde acabou por ter lugar. “No último momento tive de desviar- me da zona de caça cerca de oito milhas”, explicou o guia ao diário britânico.

Honest Ndlovu, dono da propriedad­e onde o leão acabou por ser abatido, está também na mira da justiça e pode também ser julgado.

No comunicado que divulgou há dias, Walter Palmer afirmou lamentar o sucedido, mas o dentista já esteve a braços com a justiça nos Estados Unidos, por ter abatido ilegalment­e um urso.

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Walter Palmer, o dentista que admitiu ter matado o leão, fechou a conta no Facebook e está incontactá­vel

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