Diário de Notícias

Nova estrela do Labour: deputado, ativista e sex symbol involuntár­io

Aos 66 anos, Jeremy Corbyn trouxe uma lufada de ar fresco à corrida à liderança dos trabalhist­as. E as sondagens já o dão como favorito a suceder a Ed Miliband em setembro

- HELENA TECEDEIRO

Quando em junho Jeremy Corbyn anunciou a candidatur­a a líder do Labour para dar aos militantes uma “verdadeira escolha à esquerda”, poucos acreditava­m que o deputado por Islington tivesse hipóteses de vencer as primárias de setembro. Mas em menos de dois meses, este vegetarian­o de 66 anos, ativista antiauster­idade e amigo do falecido Hugo Chávez tornou- se numa verdadeira estrela, com direito a clube de fãs feminino. Ah, e já lidera as sondagens.

Deputado desde 1983, Corbyn pertence à ala mais à esquerda do Partido Trabalhist­a. Antigo sindicalis­ta, o candidato surge como contrapont­o aos adversário­s mais moderados: os ex- ministros Yvette Cooper e Andy Burnham, e a ministra sombra para a Terceira Idade, Liz Kendall ( ver caixa). Uma posição que já lhe valeu o apoio dos sindicatos. Ontem foi a vez de o CWU, que representa os trabalhado­res do setor das comunicaçõ­es, vir dizer que Corbyn é “o antídoto” contra o “vírus dentro do Labour”. Um vírus que o CWU associa à influência do ex- primeiro- ministro Tony Blair .

Numa sondagem privada a que o Daily Mirror teve acesso, Corbyn surge com 20 pontos de avanço sobre Cooper ( 42% contra 22,6%). Burnham é terceiro, com 20%, seguido de Kendall, com 14%. Apesar de não se conhecerem pormenores do estudo, a começar por se terá sido encomendad­o por uma das campanhas, a verdade é que vem confirmar a tendência que já se registava no último estudo do YouGov. Este dava Corbyn à frente com 43%, seguido de Burnham com 26%, Cooper com 20% e Kendall com 11%. A diferença é que se na sondagem do Mirror, Corbyn é eleito na última ronda ( os candidatos vão sendo eliminados até um ter mais de 50% dos votos, com cada militante a assinalar a segunda opção no boletim e os votos a serem redistribu­ídos) com 51% contra 49% de Cooper, na sondagem YouGov Cooper acabaria por derrotar Burnham.

Esta é a primeira eleição para líder do Labour desde a introdução de novas regras: todos podem votar desde que se inscrevam, paguem 3 libras e se comprometa­m a apoiar os valores trabalhist­as. Um método que gerou acusações de que os sindicatos estão a inscrever os membros para votar em Corbyn. Harriet Harman, que assumiu a liderança interina do partido após a demissão de Ed Miliband na sequência da derrota do Labour nas eleições de 7 de maio, já veio garantir que as inscrições estão a ser fiscalizad­as. Antiauster­idade Empenhado em acabar com as medidas de austeridad­e impostas pelo governo de David Cameron, Corbyn promete construir uma economia forte através da cobrança de impostos que ficam por pagar e do aumento das taxas aos mais ricos. O deputado promete ainda acabar com os submarinos nucleares do país. Quanto à União Europeia, viu- se forçado a esclarecer a sua posição, dizendo ser favorável à manutenção do Reino Unido, mas numa UE reformada.

Eleito como “a melhor barba do Parlamento” cinco anos consecutiv­os, Corbyn conta com um apoio inesperado: o das mulheres do Mumsnet, um fórum online que esta semana debateu o tema: “Corbyn é sexy?”. E as respostas foram unânimes, com umas utilizador­as a destacarem o seu visual de “velho lobo do mar”, outras a com- pará- lo antes ao professor Dumbledore, de Harry Potter.

Mas o estilo deste autodenomi­nado “republican­o” e “socialista” não agrada a todos. E a sua candidatur­a gerou um debate feroz dentro do Labour, com Tony Blair a alertar num discurso para o perigo de os trabalhist­as “passarem 20 anos fora do poder se virarem à esquerda”. Uma referência clara ao favoritism­o do deputado de Islington da parte do homem que chefiou o governo britânico entre 1997 e 2007, colocando os trabalhist­as ao centro com o New Labour. E àqueles a quem “o coração diga” para votar em Corbyn em setembro, Blair recomendou que façam “um transplant­e”.

Filho de dois ativistas que se conheceram na Guerra Civil de Espanha, Corbyn entrou na política muito jovem. Representa­nte de Islington há mais de 30 anos, é um dos deputados mais ativos e mais rebeldes do Parlamento britânico. E não hesitou em votar contra o próprio partido em temas tão importante­s como a guerra do Iraque.

Adepto do Arsenal, Corbyn vive em Finsbury Park com a terceira mulher. Pai de três filhos do segun- do casamento, com a chilena Claudia Bracchita, o casal separou- se devido a uma desavença sobre a escola para onde queriam mandar o filho. É muitas vezes visto a andar de bicicleta por Londres, até porque não tem carro. Futuro E enquanto os militantes do Labour esperam pela chegada dos boletins de voto – a 14 de agosto – há quem já pense no futuro. O The Times apresentav­a há dias uma teoria segundo a qual a eleição de Corbyn como líder abre portas ao regresso de David Miliband – o exministro dos Negócios Estrangeir­os derrotado pelo irmão Ed em 2010. Como? Simples: sob incentivo de Blair, David pode voltar de Nova Iorque para Londres ainda este ano para assumir um lugar de deputado. E, explica o jornal, quando Corbyn falhar na tarefa de unir o partido, o ex- chefe da diplomacia teria a sua oportunida­de para tomar as rédeas do Labour. Resta saber se os mesmos sindicatos que lhe negaram a vitória há cinco anos, estariam agora dispostos a elegê- lo como líder...

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Corbyn foi eleito “a melhor barba” do Parlamento durante cinco anos consecutiv­os

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