Hello! disse Richie. E toda a gente viajou até aos anos 80
Concerto do americano terminou com We Are the World, música que compôs em 1985 com Michael Jackson. Mas o ponto alto em Oeiras aconteceu com a sequência Say You Say Me e Dancing on the Ceiling, com a primeira a pôr o Parque dos Poetas a cantar e a segund
Bebeu, brincou, pulou, dançou e cantou que se farta, indiferente aos 66 anos feitos no mês passado. Primeiro Lionel Richie disse “Hello” e só mais tarde lançou em inglês o “Boa noite Lisboa”, que ninguém no Parque dos Poetas em Oeiras levou a mal. Mas desde o primeiro momento do concerto, iniciado já passava das 22.30 de quinta- feira, houve o convite para a assistência entrar numa espécie de máquina do tempo e viajar até aos anos 80. E por isso imitou a voz e os gestos de Stevie Wonder, desafiou as mulheres presentes a entrarem num dueto com ele como se fossem Diana Ross (“40 mil Dianas Ross” a cantar Endless Love, disse com manifesto exagero) e não deixou de falar do “amigo” Michael Jackson, com quem compôs We Are the World, a mítica música que fechou o concerto, mesmo em cima da meia- noite.
Richie atrasou- se a entrar em palco para este último espetáculo da sua digressão europeia, depois de uma primeira parte pelos portugueses Cais do Sodré Funk Connection. E chegou a ouvir- se alguns assobios pela demora, seguidos de uma salva de palmas que por fim trouxe o artista para o palco. Com gente dos oito aos oitenta a assistir – mas a dar a estranha sensação a quem tem 43 anos de estar na metade mais jovem do público – a vontade de relembrar a década de 80 era tanta que as pazes com o músico americano foram quase imediatas.
Quando cantou Easy Like Sunday Morning, o terceiro tema da noite, já toda a gente estava embalada, a repetir o refrão, alguns até a letra completa. E a boa disposição de Lionel Richie ajudou a cativar a assistência. Cada vez que levava o copo à boca, e foram umas quatro ou cinco vezes, perguntava o que era aquilo, “disgusting” exclamava depois, e logo repetia um trago. “É um vinho rosé”, “não, é Red Bull” – as opiniões dividiam- se na assistência.
Quando chega a vez de Say You Say Me, ouve- se milhares de vozes no Parque dos Poetas- Estádio de Oeiras, um dos cenários do EDP Cool Jazz, a acompanhá- lo. “Já vi que sabem cantar. Agora vamos ver se sabem dançar”, desafiou Richie e com Dancing on the Ceiling f oi a l oucura. “Não via ninguém dançar assim desde 1984”, tinha já brincado o músico, sabendo que não faltava vontade de que o seu concerto funcionasse como máquina do tempo, transportando até essa época em que Ronald Reagan era presidente da América, ainda havia União Soviética, Carlos Lopes ganhava a maratona olímpica e Portugal estava prestes a entrar para a CEE, mas sobretudo brilhavam as vozes de Michael Jackson, Prince e Lionel Richie.
“Sempre preferi o Prince mas o Richie é também um senhor”, comenta Bruno, professor de 45 anos, que trouxe o filho adolescente “para lhe mostrar os tempos em que a música era boa, a sério”. Teresa, uma empresária de 40 anos e “grande admiradora” de Richie, arrastou o marido, que tendo começado por desejar chuva para tudo acabar mais depressa ( e chegou a cair uns pingos em Oeiras), a meio do concerto já dançava, abanando até o bastão luminoso que a EDP distribuía à entrada.
Logo de início Richie prometeu ao público o máximo de músicas. “Pelo menos todas aquelas de que ainda me consigo lembrar”, acrescentou com humor o homem nascido em Tuskegee, Alabama, que vai já em meio século de carreira. Mas acabou por aceder a um só encore, esse We Are the World feito a meias com Michael Jackson em 1985 e cheio de boa vontade e humanismo.
O público em Oeiras encantou- se e cantou. E bateu palmas e mais palmas à espera de mais, afinal a promessa de Richie foi All Night Long. Mas o regresso ao presente era inevitável. Foi bom, comenta- se, mas soube a pouco.
Richie imitou Stevie Wonder, simulou dueto com Diana Ross e lembrou Michael Jackson