Pequim recebe Jogos de 2022. Só falta mesmo arranjar a neve
Comité Olímpico escolheu a capital chinesa para sediar os Jogos de Inverno em detrimento de Almaty, no Cazaquistão. Orçamento previsto para a prova é de 2,7 mil milhões de euros
Pequim foi a cidade escolhida para receber os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022. Numa cerimónia realizada ontem em Kuala Lumpur, na Malásia, o Comité Olímpico Internacional escolheu a cidade chinesa em detrimento da outra concorrente, Almaty, no Cazaquistão. Entre rasgados elogios à organização vencedora, ainda assim, o Comité Olímpico Internacional ( COI) deixou um reparo negativo à candidatura: a falta de neve... natural.
A neve acabou por ser o tema de maior discussão na eleição de Pequim em detrimento de Almaty, onde a neve nunca seria um problema. Houve bastantes reservas por parte do COI em sediar o evento na capital chinesa, mas a delegação liderada pela vice- primeira- ministra Liu Yandong e Liu Peng, presidente do Comité Olímpico chinês, e na qual também esteve o ex- jogador de basquetebol Yao Ming, provou ter capacidade para fabricar neve artificial suficiente para organizar os Jogos de 2022.
A competição chinesa ficará dividida entre a capital e as áreas de montanha em Zhangjiakou, a 250 km de Pequim, e Yanqing, a 125 km, que são visitadas anualmente por mais de um milhão de amantes dos desportos de neve.
“Há muitos resorts de esqui que operam em Zhangjiakou e Yanqing há várias décadas. Pequim2022 provará a sua capacidade de suprir as necessidades do evento, mesmo que tenha de ser com neve artificial. A febre pelos desportos de inverno varre o nosso país. Há 20 anos a China tinha menos de dez resorts. Hoje temos mais de 500”, recordou Liu Peng, presidente do Comité Olímpico chinês.
Apesar da polémica da neve, o COI considera que esta eleição ( Pequim conquistou 44 votos, contra os 40 de Almaty) é a mais segura, isto depois de outras concorrentes iniciais ( Munique, Cracóvia, Graubunden, Estocolmo e Oslo) terem desistido por problemas financeiros. A organização chinesa apresentou também uma candidatura com um orçamento baixo para a grandeza do evento, com valores na ordem dos 2,7 mil milhões de euros, o que se pode explicar com a reutilização de parte das infraestruturas criadas para os Jogos Olímpicos de Verão de 2008.
Neste orçamento estão também já previstos os elevados custos de energia e água necessários à criação de neve artificial. “Sabemos quanto temos a gastar e sabemos que isso não será um problema. O COI já lidou com a nossa organização e tem plena confiança no nosso trabalho”, disse Liu Peng, que se orgulha também de que Pequim seja a primeira cidade na história a receber as edições dos Jogos de Verão e de Inverno e num espaço de apenas 14 anos. “Estamos orgulhosos com esse feito.”
A cidade de Almaty, no Cazaquistão, voltou a perder uma orga- nização, depois de ter visto a edição do ano passado realizar- se em Sochi, na Rússia. A cidade da Ásia Central tinha como principais argumentos na sua candidatura a maior proximidade das instalações desportivas e, claro, muito maior quantidade de neve natural do que as montanhas do Norte da China. Bombardear nuvens com mísseis Para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, a organização terá quase obrigatoriamente de fabricar neve artificial. “Alterar” condições meteorológicas, no entanto, não é algo novo para Pequim, que fez o mesmo nos JO de 2008. Os Jogos Olímpicos de verão desse ano estiveram quase sempre ameaçados pelas más condições atmosféricas, nomeadamente as cerimónias de abertura e encerramento e ainda as provas ao ar livre. Para combater esta contrariedade, o governo chinês colocou em marcha um programa de “modificação das chuvas”.
As autoridades colocaram ao serviço da organização sete mil canhões, quatro mil lança- mísseis, mais de 300 aviões e um supercomputador capaz de prever a cada hora as nuvens perigosas. Tudo para evitar um dilúvio durante os Jogos Olímpicos de 2008.
Mais fácil será criar a neve artificial. E dinheiro não é um problema, até porque o governo tem previsto gastar nos próximos anos 145 mil milhões de euros ( valores que não estão incluídos diretamente no orçamento para os JO de 2022) para reduzir a poluição na capital chinesa, problema que também afetou a organização dos JO de 2008 e que bastantes críticas levantou.