Diário de Notícias

“Gostei muito da atitude de Ronaldo quando estive doente”

- GONÇALO LO PE S

O antigo internacio­nal francês venceu a batalha contra um cancro no fígado, doença que lhe foi detetada em 2011. A vontade de voltar aos relvados deu- lhe a força necessária para superar a fase mais complicada. E o ex- jogador também não esquece aqueles que sempre o apoiaram

O que significa para si a fundação Eric22Abid­al? Foi a forma que encontrei para poder ajudar os mais novos e de sensibiliz­ar as pessoas para esta luta que é o cancro. O facto de ser conhecido também pode servir para ajudar mais as pessoas nesta condição, e entendi que uma fundação seria um veículo importante para chegar a mais pessoas. Ajudamos os jovens com estas doenças, mas também os seus pais. Nunca nos podemos esquecer de que esta doença, além de afetar fisicament­e, afeta, por vezes, ainda mais quem está mais próximo, como os pais e os filhos. Não nos esquecemos também desses casos. Foi a batalha que teve contra um cancro no fígado que o mudou? Não, felizmente sempre fui assim, ganhei dinheiro suficiente para poder ajudar. O cancro, claro, fez- me ver outras coisas, mas sempre tive esta necessidad­e, esta vontade de ajudar quem mais precisa. Penso que todos temos de dar o que podemos, seja em valor monetário, seja apenas um sorriso. Há muito egoísmo no futebol, o dinheiro faz que muitos não sejam humildes, mas felizmente há muitos outros com vontade de ajudar. Como foi lutar contra uma doença como esta? Complicado. Por mais dinheiro que se tenha, por mais amor que tenhamos da nossa família e dos nossos amigos, é sempre um choque saber que temos uma doença destas. Penso que nada nem ninguém nos pode preparar para um cancro. Felizmente, fui sempre muito bem acompanhad­o, soube sempre de tudo, aprendi a lidar com a situação e consegui ser forte. Mediático, jogador na altura do Barcelona, sentiu sempre muito apoio nessa fase entre o mundo do futebol? Sim, claro, bastante mesmo, muita solidaried­ade. Recebi milhares de cartas, muito apoio do mundo do futebol, não posso dizer que o futebol me tratou mal nesse sentido. E foi também isso que me deu ainda mais força. Quando soube que tinha a doença também nunca duvidei de que iria voltar a jogar futebol, tinha essa mentalidad­e. Foi duro, tive muitos meses debilitado, mas posso dizer que agora estou mais forte. Tenho de fazer exames regu- larmente, mas agora posso dizer que estou bem. Retirou- se no final do ano passado dos relvados, na altura a meio da temporada ao serviço do Olympiacos da Grécia. Estava cansado do futebol? Sinceramen­te terminei por motivos pessoais. Já não era novo [ 34 anos] para jogar muitos mais anos, pelo que preferi estar mais perto da família. Foram eles os principais prejudicad­os ao longo destes anos da minha carreira. Penso que dei o meu melhor contributo pelo futebol e sinto- me satisfeito com a carreira que tive. Depois de tantos anos ligado ao desporto- rei, qual a noite de futebol que mais saudades lhe traz? A final da Liga dos Campeões em Wembley, pelo Barcelona. É, sem dúvida, aquela que mais gosto de recordar, foi um título especial, tal como outros que felizmente alcancei, mas esse é o que escolho, tinham passado poucos meses depois de se ter sabido da minha doença e levantar aquela taça foi muito especial. O gesto de Puyol [ como capitão deveria ter sido ele a levantar a taça mas deu o privilégio ao francês] foi algo indescrití­vel. São coisas que não se ensinam, terá sido o maior gesto que vi no futebol e isso não posso esquecer. E o que prefere esquecer? O Campeonato do Mundo pela seleção francesa em 2010. Houve muitos episódios tristes, que nada tiveram que ver com futebol, que prefiro esquecer. Passou por cinco clubes, Mónaco, Lille, Lyon, Barcelona e Olympiacos. Qual o que mais o marcou? Todos me marcaram, mas claro que o Barcelona é um clube especial, estive lá durante seis anos, os melhores anos desportivo­s da minha carreira. Nos seus primeiros anos conheceu Costinha no Mónaco, depois Tiago no Lyon, Deco no Barcelona e finalmente Ricardo Carvalho e João Moutinho novamente no Mónaco. O que diz dos portuguese­s como jogadores? Grandes jogadores. O Costinha já estava no último ano no Mónaco, tinha uma atitude magnífica, era um professor para os mais novos. O Tiago sempre teve um enorme talento, daí a carreira que conseguiu fazer. Em Barcelona, o Deco demonstrou também o enorme jogador que foi, tecnicamen­te foi dos melhores com quem joguei. O Ricardo ainda é um senhor do futebol, um jogador inesgotáve­l, ainda um dos melhores na sua posição. O Moutinho também é fora de série, um jogador muito inteligent­e. Só posso dizer bem deles e desejar- lhes muita sorte. Cristiano Ronaldo conheceu- o ainda no campeonato espanhol, como rival do seu Barcelona. É também da opinião que é muito egocentris­ta, como dizem os principais rivais? Não digo isso. É um bom rapaz, sempre nos respeitámo­s dentro do campo e fora dos relvados. Gostei muito da atitude dele quando estive doente. Recebia muito apoio dele através do Benzema [ seu compatriot­a e colega da seleção francesa]. É um dos melhores do mundo dentro de campo e fora dele não posso dizer muito, comigo sempre foi super. Jogou muitos anos com Lionel Messi. Entre o argentino e o internacio­nal português, quem prefere? São os dois extraordin­ários. Cada um com as suas qualidades, não são jogadores idênticos. Claro que para mim o Leo é o melhor, pois joguei com ele durante muito tempo, mas neste momento o Bola de Ouro é Ronaldo. São os dois incríveis. E o que conhece do futebol português? Muito pouco. Claro que conheço as equipas como o Benfica, FC Porto e Sporting, sei que o Benfica tem dominado, que o FC Porto tem sempre grandes equipas, mas não acompanho muito, sinceramen­te, só os jogos europeus que passam na televisão. E, claro, sei que encontram sempre grandes jogadores e vendem muito caro. Isso é notícia nos últimos anos.

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