Diário de Notícias

Vai haver debates?

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PAULO BALDAIA

Parece que vivemos todo o tempo a enganar- nos uns aos outros e a enganar- nos a nós próprios. Esta longa pré- campanha começou com a promessa de ser a mais esclareced­ora de sempre. Promessas quantifica­das, propostas escrutinad­as, contas feitas, tudo muito bem explicado para que ninguém tivesse dúvidas na hora de decidir. Aqui chegados, vamos de férias e parece que tudo se resume a uma questão de fé. Quem nos oferece mais confiança? Passos ou Costa? Propostas, ideias, qual o quê? O que importa é quem! E este “quem” tende a reduzir- se aos dois de sempre. Há centenas de milhares de eleitores indecisos e nós presumimos que, quando decidirem, vão escolher apenas entre Costa e Passos. Assim se constrói uma bipolariza­ção forçada que, por ter uma componente artificial e mediática, contribui para cansar os eleitores e os afastar do voto.

O pior é que a novela dos debates vai longa e ninguém consegue garantir que eles vão acontecer. Há acordo para quase tudo, menos para o mais importante. Olhemos para o mais mediático: há compromiss­o entre todas as partes para haver dois frente- a- frente Passos- Costa ( um nas rádios e outro nas televisões) e um debate entre os líderes das quatro candidatur­as com assento parlamenta­r. Pelo meio ainda haverá espaço para os restantes duelos. Falta fechar as datas para os dois frente- a- frente. Sem isso, tudo acontecerá no dia- de- são- nunca- à- tarde, e o pior que nos podia acontecer a todos era terminar esta novela sem debates e no jogo do passa culpas.

Com potencial para encalhar os debates está também a questão da participaç­ão de Portas. Eu entendo que deve ser observado o espírito da lei, que fala em representa­ntes das candidatur­as com assento parlamenta­r, e, por isso, a TSF fez com a OTOC uma grande conferênci­a sobre fiscalidad­e em que estiveram Pedro Passos Coelho, António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, mas para a qual Paulo Portas não foi convidado. Mas percebo os argumentos contrários. Em primeiro lugar, a lei também prevê a inclusão dos critérios editoriais dos órgãos de comunicaçã­o social que organizam esses debates. Ora, se é possível lá incluir Marinho e Pinto ou Rui Tavares, que não têm representa­ção parlamenta­r, porque não pode ser incluído o CDS, que já tem e vai continuar a ter bancada na Assembleia? Se a coligação vier a perder as eleições, é até muito importante perceber o que vai fazer o CDS. Qual a sua política de alianças? Quer uma redução fiscal mais rápida do que propõe a coligação? Que política defende para garantir a sustentabi­lidade da Segurança Social? Se estiver disponível para responder a estas e a outras perguntas, acho muito bem que participe nos debates. Se for para fazer eco, mais vale não ir.

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