Diário de Notícias

DIARIAMENT­E

- Esta coluna vai a banhos. Regressa no dia 29

Ferreira Fernandes Joel Neto João Lopes

Digamos que o programa eleitoral da coligação está na linha da reforma de Estado apresentad­a por Paulo Portas: algo tão vago que foi esquecido horas depois de ser apresentad­o. Mas há alguns detalhes importante­s, contudo. E o diabo, bem o sabemos, está nos detalhes.

Há uma razão bem mais simples do que as apontadas, como já está estar tudo no programa de estabilida­de e cresciment­o ou se apontar para a simples continuaçã­o do que se fez, para o programa eleitoral ser uma mão- cheia de nada: é não se querer pura e simplesmen­te dizer o que se quer fazer. E a razão para nada se querer dizer, é que se se dissesse, o próprio eleitorado tradiciona­l do PSD ficaria muito preocupado.

Apesar disso, há os tais detalhes que não enganam, os que apesar de muito disfarçado­s estão lá.

Trazer o plafonamen­to horizontal, a “liberdade” de escolha na saúde ou na educação indica um caminho. E, diga- se, um caminho defensável e que permitiria um debate sério na sociedade portuguesa. Defender que a partir dum determinad­o nível de salário, um cidadão pode optar por o esquema de pensão do Estado ou dum qualquer fundo privado, ou que se deve apostar mais no ensino privado do que no público, são opções ideológica­s que merecem debate e que são até o cerne de opções fundamenta­is para a comunidade. Mais, um debate desse género permitiria que ficassem absolutame­nte claras as opções dos partidos da coligação. Sobretudo em política, não há mal nenhum em querer. Agora o que não é admissível é não dizer o que de facto se quer escondendo- o dos eleitores. E parece claro que é o que este PSD está a fazer. Estes temas são demasiado importante­s para serem abordados com a ligeireza, com a vacuidade que este programa mostra.

Há, no entanto, a perceção por parte dos dirigentes atuais do PSD de que o seu eleitorado tradiciona­l está muito longe de querer que o sistema de pensões seja em parte privatizad­o ou que a educação pública seja posta em causa. É por isso que se fala de plafonamen­to, mas não se fala a partir de que valor é que se pode optar por um sistema privado. Ser, por exemplo a partir de 2000 ou próximo ou 10 000 euros é radicalmen­te diferente, e no primeiro caso faria que a solidaried­ade entre mais ricos e mais pobres praticamen­te desaparece­sse,

Temos uma espécie de Tea Party à portuguesa que rodeia o primeiro

- ministro

ne Observador.

A questão é que manda neste PSD são os segundos. Gente que quer impor uma agenda e uma ideologia que nada tem que ver com a história, com os valores e com o eleitorado tradiciona­l do PSD ( não confundir com o aparelho, esse não se preocupa com essas coisas mesquinhas como ideologia ou valores, mas apenas poder). E, sabendo- o, não dizem ao que vêm.

Para o país era muito importante saber o que de facto o governo quer. Não se propõem mudanças radicais na maneira como a comunidade está organizada – financiame­nto da Segurança Social, educação, saúde – não explicando exatamente ao que se vem.

Não se pode também ignorar que o PSD é fundamenta­l na nossa democracia. É assim da maior importânci­a saber o caminho que está a tomar. É que a tomada de poder em curso – e que se consolidou nos últimos quatro anos – pode transformá- lo definitiva­mente em algo que ele nunca foi. Estará em causa até a sua sobrevivên­cia como partido central no nosso sistema político.

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