Ribeiro e Castro critica listas e diz que falta à coligação “confiança mútua”
Ex- presidente do CDS acusa Paulo Portas de ter escolhido o seu “presépio” de candidatos sem ouvir o partido. E insiste que o partido devia ter cabeças de lista às legislativas de outubro
O ex- presidente do CDS Ribeiro e Castro enviou uma carta ao último Conselho Nacional do CDS onde critica o processo de escolha dos candidatos a deputados do partido e considera que falta à coligação Portugal à Frente “o alto grau de de confiança mútua” que seria expectável após quatro anos de governação conjunta.
Na missiva endereçada ao presidente do conselho nacional centrista, Telmo Correia, e a todos os vice- presidentes do partido ( e a que o DN teve acesso), o deputado censura o facto de a escolha dos candidatos ser feita pela direção do partido sem qualquer auscultação aos militantes ou aos conselheiros nacionais.
“Ora a coligação não pode servir de desculpa para tudo, reduzindo todas as escolhas à quota do presidente [ Paulo Portas] e à construção do seu presépio.”
Ribeiro e Castro reforça a ideia de “doença funcional” do partido, ao dizer que até o acordo de coli - gação para as legislativas não foi aprovado pelo CDS, que apenas votou a declaração bilateral assinada por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, no dia 25 de abril.
Depois de se ter autoexcluído das listas de candidatos às legislativas e chegado ao final da legislatura com a intenção de se manter afastado da política ativa, o ex- dirigente centrista lamenta a inexistência de cabeças de lista do CDS no acordo celebrado com o PSD.
Admite que, aplicando as regras de Hondt, o seu partido não tem direito a encabeçar nenhum círculo, porque em nenhum deles foi mais votado do que os sociais- democratas nas legislativas de 2011. “Mas a Ribeiro e Castro afastou- se
da política ativa coligação ganharia em credibilidade e consistência – e, portanto, força de atração – se pontualmente os houvesse”.
Na sua opinião, só assim não aconteceu porque “a coligação foi frágil e tremeliques na alta direção em vários momentos cruciais da legislatura” e porque, nessa mesma onda, as listas conjuntas foram tar- diamente decididas. “E, por conseguinte, a coligação não desenvolveu aquele grau de entrosamento e de confiança mútua que seria expectável e saudável que tivesse desenvolvido entre quem governou durante quatro anos”, refere Ribeiro e Castro na carta apenas anunciada e anexada à ata do conselho nacional do CDS.
E numa nova farpa ao líder do partido, o centrista elogia a decisão de Passos Coelho e Paulo Portas andarem lado a lado na campanha que se avizinha, para de seguida lembrar: “Não me lembro de ver o ministro de Estado/ vice- primeiro- ministro uma só vez ao lado do primeiro- ministro nas dezenas de debates quinzenais, alguns muito duros e difíceis, que houve ao longo da legislatura – o que esteve mal e errado.”
Ainda sobre as listas, Ribeiro e Castro recorda que Paulo Portas não teria direito a ser número dois na de Lisboa, embora a considere uma “solução certa” e com precedentes no passado.
Este exemplo reforça a sua ideia de que se poderia ter ido além do mero método de Hondt na distribuição dos lugares de candidatos. Diz que se poderia ter optado por manter Passos e Portas como cabeças de lista em Vila Real e Aveiro, repetindo 2011; ou seguir a fórmula escolhida pelos líderes em Lisboa e atribuir um cabeça de lista ao CDS, por exemplo Assunção Cristas em Leiria.
“Isso só não acontece nem se avalia porque, infelizmente, como sempre critiquei, a coligação não aprofundou nem consolidou, infelizmente, aquele grau de alta confiança mútua que seria expectável, devido e desejável”, escreve o deputado.
O ex- presidente do CDS, que perdeu a liderança do partido para Portas em 2007, anunciou em final de junho a sua intenção de se retirar da vida política ativa. Eleito pela primeira vez em 1976, Ribeiro e Castro mostrou- se na altura profundamente desiludido com o sistema partidário e com o CDS. “O CDS devia ser um sinal de diferença para melhor. Infelizmente, é para pior. Tem um fraquíssimo funcionamento interno, não há participação, vivemos em plena ‘ consumadocracia’”, disse então.