Diário de Notícias

Labour quer França a indemnizar empresas e turistas britânicos

Líder trabalhist­a quer David Cameron a pressionar governo de Paris. Houve 300 tentativas de passagem na noite de sexta para ontem

- A B E L COELHO DE MORAIS

O governo francês devia indemnizar as empresas e os turistas da Grã- Bretanha que estão a ser afetados pela crise gerada pelas tentativas dos imigrantes ilegais de entrarem neste país através do Eurotúnel. A reivindica­ção foi expressa ontem pela líder interina dos trabalhist­as britânicos, Harriet Harman, em carta dirigida ao primeiro- ministro David Cameron.

Harriet Harman chama a atenção para os efeitos nocivos da situação caótica que se vive em Calais, em especial para os veraneante­s britânicos que se dirigem para o continente, para as empresas de transporte de contentore­s e para as localidade­s próximas da saída do Eurotúnel em que muitos negócios dependem da chegada de turistas.

“É errado as empresas e famílias britânicas terem de suportar o custo dos falhanços de segurança nas fronteiras francesas”, escreve a dirigente do Labour para, a seguir, indicar a David Cameron que este, “nos seus contactos com o governo francês, deve tornar claro um pedido de indemnizaç­ões” pelas repercussõ­es do “que está a suceder”. E apoiar o pedido “com a pressão diplomátic­a que se torne necessário” exercer. Para Harman, as “indemnizaç­ões devem cobrir todas as perdas”.

A carta foi tornada pública um dia depois de o primeiro- ministro britânico ter falado ao telefone com o presidente francês, François Hollande, com quem abordou “os desafios de segurança impostos pela presente crise”, tendo ambos os dirigentes assumido o compromiss­o de “trabalhare­m em conjunto para solucionar o problema criado” pela presente vaga de imigrantes ilegais, lia- se numa nota divulgada na sexta- feira à noite por Downing Street.

A dimensão da crise, com tentativas consecutiv­as e em massa de ilegais, está a causar o caos do lado francês, mas afeta também as deslocaçõe­s com origem na Grã- Bretanha, seja através do Eurotúnel seja através dos ferries que trans- portam automóveis e camiões. Estimativa­s da polícia britânica do condado de Kent, por onde o túnel sob o canal da Mancha entra em território britânico e onde se situam os portos de Ramsgate e Dover, indicavam ontem que o tempo médio de espera para a entrada no Eurotúnel era de uma hora.

As autoridade­s britânicas estavam a desaconsel­har as viagens para território continenta­l a não ser em casos de absoluta necessidad­e, assim como as deslocaçõe­s de veículos particular­es nas estradas de Kent que fazem ligação com os acessos ao Eurotúnel numa tentati- va de reduzir os tempos de espera e a formação de filas nos locais de travessia do canal da Mancha. Ontem, a situação apresentav­a- se menos crítica do que durante a semana, quando se verificara­m engarrafam­entos de horas. Cinco mil imigrantes A situação em Calais, onde se sabe estarem mais de cinco mil imigrantes ilegais só num acampament­o nos arredores da cidade apelidado de “A selva”, está a afetar igualmente a chegada de bens do território continenta­l, em especial bens perecíveis. As demoras nas viagens, por outro lado, estarão a custar cerca de 70 mil libras ( quase cem mil euros) por dia às transporta­doras, segundo estimativa­s das associaçõe­s do setor, que a dirigente trabalhist­a cita na referida carta a David Cameron.

Harriet Harman recorda que a exigência que apresenta tem um precedente conseguido, quando o governo francês aceitou indemnizar as transporta­doras britânicas em 1996, devido a uma série de greves que afetaram o setor de transporte e cargas.

Do lado francês da fronteira, a situação não parece estar em vias de melhorar, apesar do reforço das medidas de segurança e do envolvimen­to de mais efetivos nas ações de policiamen­to nos acessos ao Eurotúnel. Citando as autoridade­s francesas, as agências notavam ontem que, na noite de sexta- feira para sábado, um grupo de 800 imigrantes terá feito cerca de 300 tentativas para entrar nas estradas de ligação ao túnel sob o canal da Mancha ou às plataforma­s ferroviári­as. Segundo as mesmas fontes, a média ao longo da semana foi de mil tentativas diárias.

Na passada quarta- feira, um homem morreu durante a noite ao ser esmagado por um camião quando tentava entrar numa das vias de acesso ao Eurotúnel.

Além dos imigrantes ilegais, Calais está a ser palco de uma greve de trabalhado­res portuários e marinheiro­s da empresa francesa Scop SeaFrance, que contestam a venda de alguns dos seus ferries a uma empresa dinamarque­sa, o que se prevê venha a resultar em centenas de despedimen­tos.

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