Diário de Notícias

Em caso de Atenas queria fiscalizar alemães da Siemens, Lidl e Allianz

Objetivo seria “aumentar o custo da rutura” para os credores. Ex- diretor dos impostos acredita que regresso à dracma ainda é opção

- HELENA T E C E DEI RO

Afinal, o ex- ministro das Finanças Yanis Varoufakis não era o único a ter um plano B em caso de grexit. Segundo o jornal grego Efimerida Ton Syntakton, citado pelo francês La Tribune, caso os credores empurrasse­m a Grécia para fora da moeda única, o governo de Alexis Tsipras tinha oficialmen­te uma estratégia de nacionaliz­ações e medidas agressivas de luta contra a corrupção. O alvo principal destas? Empresas alemãs com presença em solo grego como a Siemens, o Lidl ou a seguradora Allianz.

O objetivo do plano, garante o jornal, era “aumentar o custo da rutura” para os credores. Uma “pressão defensiva” para usar a linguagem do basquetebo­l. Quanto às nacionaliz­ações, uma das empresas abrangidas devia ser a OPAP, que detém o monopólio dos jogos sociais e foi privatizad­a em 2013.

Ontem também, mas no Protothema, surgiram mais pormenores do agora famoso plano B de Varoufakis. Primeiro, o governo grego ia proibir a circulação de produtos e todas as importaçõe­s ficariam sujeitas a aprovação do Estado. Depois iria parar todas as transações financeira­s e só permitiria o uso de uma moeda digital. Os bancos iriam cortar todos os depósitos e uma moeda paralela, que deveria ser a velha dracma, passaria a circular com o euro.

Tsipras disse que seria “ingénuo” se não tivesse uma alternativ­a

Ao mesmo jornal, Harry Theoharsi, antigo diretor- geral dos impostos agora deputado do centrista To Potami, não só garantiu que a estratégia para deixar a moeda única esteve em cima da mesa “desde o primeiro dia” do governo Syriza, como admitiu ter “dúvidas” de que esteja totalmente afastada, mesmo depois do acordo entre Atenas e os credores para iniciar negociaçõe­s para um terceiro resgate alcançado na longa cimeira europeia de 12 de julho.

Varoufakis já veio confirmar que estava de facto a preparar um plano alternativ­o para o grexit. E o próprio primeiro- ministro Alexis Tsipras ad- mitiu ter conhecimen­to desta estratégia, tendo sublinhado no Parlamento que seria “muito ingénuo” da sua parte não estar preparado caso os parceiros europeus seguissem mesmo a proposta do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, para uma saída da Grécia do euro – mesmo que temporária.

Segundo as fontes do Protothema, o Ministério das Finanças grego já teria contactado as Casas da Moeda de países fora da União Europeia para imprimir a sua moeda. A ideia de um regresso à dracma fora defendida por Varoufakis – que se demitiu a 10 de julho – ainda antes da vitória do Syriza nas eleições de 25 de janei- ro. E o líder da Plataforma de Esquerda, a ala mais radical do partido, o ex- ministro Panagiotis Lafazanis, chegou mesmo a apresentar um Manifesto pela Dracma, posição que apenas terá vindo reforçar a sua rutura com Tsipras. Perigo de se tornarem a Grécia Numa entrevista a ser publicada hoje, mas cujos excertos o El País já antecipava ontem, Varoufakis sublinha a necessidad­e de “recuperar o significad­o de ser europeu e encontrar maneiras de recriar o sonho de combinar prosperida­de com democracia”.

Ao diário espanhol, o ex- ministro das Finanças garante que “punir uma nação para instigar medo noutra não é o que a Europa devia ser”. E deixou o alerta aos espanhóis, que apenas pediram ajuda financeira internacio­nal para salvar os seus bancos: “O perigo de se tornarem a Grécia está sempre lá. E vai materializ­ar- se se repetirem os erros que impuseram aos gregos.” Bolsa e negociaçõe­s Para amanhã está prevista a reabertura da Bolsa de Atenas, encerrada desde 26 de junho, quando o governo impôs o controlo de capitais. Também amanhã, os responsáve­is do governo grego voltam a sentar- se à mesa das negociaçõe­s com representa­ntes dos credores ( a antiga troika, agora transforma­da em quarteto: Fundo Monetário Internacio­nal, Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Mecanismo de Estabilida­de Europeu). Apesar de admitirem ainda estar “numa fase inicial” e de permanecer­em divergênci­as sobre assuntos como a reforma fiscal, as privatizaç­ões, a recapitali­zação dos bancos e os cortes nas pensões, o objetivo é chegarem a um documento que possa ser apresentad­o no Eurogrupo de dia 11 deste mês.

Atenas precisa de garantir o terceiro resgate a tempo do pagamento de 3,2 mil milhões ao BCE no dia 20. Mas as dificuldad­es são tais que já se fala na hipótese de a Grécia receber um novo financiame­nto- ponte para evitar o default enquanto as negociaçõe­s prosseguem.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal