Censura é outra coisa
QNUNO SANTOS ue temos há muito tempo nas t elevisões privadas de si nal aberto comentadores alinhados com a área política do governo, mesmo que livres de espírito como Marcelo Rebelo de Sousa e Marques Mendes, é matéria de f acto. Que a RTP tenha deixado de ter agentes políticos a fazer comentário é também um dado factual. E uma boa decisão!
Que nos canais de cabo ( ao contrário dos jornais) haja mais comentadores alinhados à direita ( de Ferreira Leite a Santana Lopes, de Bagão Félix a Paulo Morais) é passível de ser discutido, mas parece ser outro dado a ter em conta.
Que Augusto Santos Silva era uma voz contra esta corrente e, defendendo a atual liderança do PS, que aliás apoiou, está sobretudo conotado com os tempos hoje malditos de José Sócrates é outro dado da equação. Que o espaço de opinião que tinha ( um espaço de autor na visão do próprio e interpretando o contrato) sofria demasiadas oscilações de horário, sobretudo em comparação com outros do mesmo canal, pode ser tido em conta.
Ora, sendo tudo isto elementos para a reflexão e podendo a TVI ter esclarecido, junto do próprio e publicamente, o assunto mais cedo ( e não t er sobretudo prolongado um segmento de grelha que por causa da “má educação” não queria) a verdade é que Santos Silva clamou ter sido censurado.
Sejamos claros – a censura é outra coisa e o ex- ministro, um sociólogo reputado e académico com provas dadas, sabe isso muito bem. Os agentes políticos deviam ser os primeiros a ter cuidado com as palavras em vez de as usarem de acordo com a sua conveniência.
Com a saída de cena de Augusto Santos Silva, e apesar da escolha certeira de Fernando Medina, perde- se uma voz contra o sistema e um opinion maker contundente que, aliás, era presença assídua na TVI há vários anos. Nesta espécie de campeonato em que políticos e canais participam é provável – não certo, mas provável – que Augusto Santos Silva apareça noutro ecrã em breve.
A TVI24, que tem vindo a crescer e fechou com a ajuda do futebol o mês de julho a par da SIC Notícias, vai tentar manter um equilíbrio instável: por um lado ter comentadores fixos que fidelizam público e são ótimas âncoras de programação; por outro responder à atualidade não hesitando por isso em desmontar a grelha. É uma tarefa difícil num pequeno país como Portugal, mas é a melhor solução e a mais consistente no trilho que o canal tem vindo a percorrer para se tornar mais surpreendente e, dessa forma, mais competitivo.