Soberania: partilhar ou usurpar?
NVIRIATO SOROMENHO- MARQUES inguém pode acusar Schäuble de falta de coerência. Depois de esmagada a rebelião helénica, eis que se propõe enfraquecer ainda mais a Comissão Europeia ( CE). É uma proposta duplamente ofensiva. Primeiro, ignora o murmúrio de Hollande sobre a criação de um diretório dos Seis. Não há pior humilhação em política do que ignorar as propostas dos nossos aliados. Em segundo lugar, é um aviso a Juncker para ter juízo e manter- se quieto. Alterar o papel da CE implicaria uma demorada revisão do Tratado de Lisboa. Mas Berlim quando quer alguma coisa impõe um novo Tratado Intergovernamental ( Tratado Orçamental, MEE, Fundo Comum de Resolução Bancária), ou então aplana as dificuldades fazendo assentar o seu peso em cima da dificuldade até esta ficar resolvida por esmagamento. Entrámos na União Económica e Monetária a pensar que estávamos a partilhar a soberania monetária e cambial, como primeira etapa de uma maior integração política e social europeia. É o que se lê na letra de forma dos tratados e dos compromissos. Afinal, a UEM cristalizou- se nas famosas “regras” que Berlim considera fins em si próprias, quando na verdade só deveriam ser meios para essa integração, social e democrática, da Europa. A zona euro ( ZE) já destruiu a Grécia, como economia e como Estado. A ZE é hoje um sistema fechado de produção de desigualdade e pobreza. A riqueza flui da periferia débil para o centro excedentário. Pior ainda, o euro divide os países, pois também aqui se estabelece uma cisão entre ganhadores e perdedores. Uma união de Estados em que a soberania em vez de ser partilhada por todos é usurpada pelo mais forte tem, inevitavelmente, um violento e catastrófico futuro à sua frente. Este é um tema que só um esquecimento doloso poderia afastar da campanha eleitoral.