Diário de Notícias

Parlamento já está preparado para receber deputada cega

PS apresenta candidata em lugar elegível. Será a primeira vez que um deficiente se sentará nas bancadas parlamenta­res

- MI GUEL MARUJO

O Parlamento já está preparado para receber uma deputada cega, como provavelme­nte acontecerá depois das eleições legislativ­as, uma vez que Ana Sofia Antunes concorre em lugar elegível nas listas do PS por Lisboa.

Em resposta ao DN, o secretário- geral da Assembleia da República, Albino de Azevedo Soares, confirmou que, “desde 1997”, o Parlamento “tem vindo a adaptar o Palácio de São Bento, de forma a cumprir o regime legal da acessibili­dade aos edifícios e estabeleci­mentos que recebem público”.

Segundo o responsáve­l do Parlamento, “atualmente, é cumprida a legislação em vigor ( decreto- lei n. º 163/ 2006, de 8 de agosto), nomeadamen­te no que respeita à sinalética”, nos elevadores, nos corredores e noutros espaços, mas também para “assegurar os demais direitos das pessoas com necessidad­es especiais”.

É este decreto que “aprova o regime da acessibili­dade aos edifícios e estabeleci­mentos que recebem público, via pública e edifícios habitacion­ais”, classifica­ndo ainda as “pessoas com necessidad­es especiais” como aquelas que têm a “mobilidade condiciona­da”. Ou seja, as “pessoas em cadeiras de rodas, pessoas incapazes de andar ou que não conseguem percorrer grandes distâncias, pessoas com dificuldad­es sensoriais, tais como as pessoas cegas ou surdas”, entre outras que “se apresentam transitori­amente condiciona­das”. E é no anexo ao diploma que se explicam as “normas técnicas para melhoria da acessibili­dade das pessoas com mobilidade condiciona­da” estabelece­ndo- se ao pormenor aquilo que deve estar previsto na arquitetur­a dos edifícios e no espaço urbano.

Albino de Azevedo Soares explicou que o próprio “website da Assembleia da República também já está adaptado para pessoas com necessidad­es especiais ( através de um software próprio, readspeake­r, que “lê” os ecrãs)”.

Ao navegar em www. parlamento. pt, é possível ao utilizador selecionar a opção “versão áudio”, que lê toda a página. No entanto, esta opção não está disponível em todo o site, nomeadamen­te quando se abre documentaç­ão que é disponibil­izada em Word ou PDF com projetos de lei ou relatórios.

Neste capítulo, Ana Sofia Antunes pode socorrer- se do seu computador. Como explicou na entrevista ao DN, a 25 de julho, a presidente da Associação dos Cegos e Amblíopes e provedora dos utentes da EMEL ( colocada no 19. º lugar da lista socialista em Lisboa) usa “um computador portátil perfeitame­nte normal mas que tem um software de leitura de ecrãs”, um “programa que converte textos escritos em voz”.

Com um teclado “absolutame­nte normal” ( cega de nascença, Ana Sofia Antunes fez um curso de datilograf­ia), a única dificuldad­e que a eventual futura deputada pode encontrar no Parlamento tem que ver com “os formatos de disponibil­ização da informação”, ou seja, “se são acessíveis ou codificado­s”. Neste caso, explicou ao DN a candidata independen­te pelo PS, “poderá haver um trabalho adicional”, que a ocupará “nos primeiros dias e depois será resolvido com os serviços administra­tivos”.

Com a provável eleição de Ana Sofia Antunes ( só um péssimo resultado eleitoral do PS a afastaria de São Bento), será a primeira vez que o Parlamento terá uma pessoa com deficiênci­a sentada nas suas bancadas. “Uma alegria mas também uma tristeza: porquê só agora?”, confessou ao DN em julho. Ana Sofia Antunes é cega

de nascença. Usa no computador um software

que lê ficheiros

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