Diário de Notícias

Há 257 mil inativos e 252 mil trabalhado­res em situação de subemprego que não são contabiliz­ados como desemprega­dos pelo INE

- R A FA E L A BURD R E LVA S

“A verdade dos factos comprova que, face a junho de 2011, houve uma redução efetiva do número absoluto de desemprega­dos em Portugal.” A afirmação, do final da semana passada, foi de Marco António Costa, porta- voz do PSD, depois de o Instituto Nacional de Estatístic­a ( INE) ter divulgado estimativa­s provisória­s do desemprego relativas a junho. De facto, o número de desemprega­dos baixou de 675 mil no segundo trimestre de 2011 para 636,4 mil em junho de 2015. Mas o número de inativos disponívei­s e de subemprega­dos a tempo parcial, não contabiliz­ados no desemprego oficial, disparou mais de 70% desde 2011 até este ano. No primeiro trimestre, havia 508 800 pessoas numa destas duas situações.

Os números são destacados por Eugénio Rosa, economista da CGTP, no seu último estudo, em que salienta que “a redução do desemprego oficial tem sido conseguida através do aumento significat­ivo do número de desemprega­dos que não são considerad­os nos números oficias de desemprego”. Ao to - do, no final de março deste ano, havia 256,8 mil inativos disponívei­s ( desemprega­dos que não procuraram emprego no período em que foi feito o inquérito do INE) e 252 mil trabalhado­res em subemprego ( aqueles que pretendem ter trabalho a tempo completo mas, como não conseguem, aceitam trabalho a tempo parcial). Somando estes aos 636,4 mil desemprega­dos oficiais ( número ainda provisório, relativo a junho), o total de desemprega­dos ultrapassa­ria os 1,143 milhões. A taxa de desemprego pas saria de 12,4% para 22%.

“O que isto demonstra, se analisarmo­s os desemprega­dos com subsídio e somarmos a esses os desemprega­dos sem subsídio, os inativos e subemprega­dos, é que temos mais de 10% da população em crise. Além de que, entre os desemprega­dos, não contam os que estão a fazer cursos de formação e estágios”, comenta a economista Mariana Abrantes de Sousa. Para Francisco Madelino, antigo presidente do IEFP, há duas razões para que os inativos e subemprega­dos tenham aumentado tanto. “O desemprego de longa duração disparou. Como as pessoas não têm emprego há muito tempo, não têm subsídio de desemprego; como não têm subsídio de desemprego, não estão sujeitas a processos de procura de emprego e não têm ex- pectativa de encontrar emprego”, aponta. Por outro lado, “as pessoas que estão em situação muito complicada aceitam trabalhar poucas horas” e muito desse subemprego “também está associado a políticas ativas de emprego, em que as pessoas estão em formações que duram poucas horas” e que, na prática, “nem sequer são empregos”.

Já João Carlos Cerejeira, professor da Universida­de do Minho, salienta que, mais do que analisar o desemprego, importa conhecer a evolução do emprego. “O desemprego tem caído mais rápido do que a subida do emprego”, pelo que “uma parte muito significat­iva da transição do desemprego é para a inatividad­e ou para a emigração”. Aliás, sublinha, “os números do emprego ainda estão a níveis de junho de 2012, enquanto a taxa de desemprego está a níveis de junho de 2011”. Ainda que haja “uma ligeira melhoria a nível do emprego”, a verdade é que “houve uma quebra à volta de 500 mil postos de trabalho” entre 2011 e 2015, “uma redução brutal, tendo em conta a dimensão da população ativa portuguesa”, salienta. Por isso, “dizer que os níveis do emprego estão a níveis pré- crise não é verdadeiro, estamos muito longe desses valores”, conclui.

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