Delia Velculescu: a enviada do FMI ao centro do furacão grego
Economista romena é a nova representante do fundo. Mas este foi já avisando que só entrará numa segunda fase quando houver reformas e, da parte dos credores, perdão de dívida
Passados mais de cinco anos sobre o primeiro pedido de resgate, os credores internacionais estão de regresso a solo grego para negociar um terceiro programa no valor de 86 mil milhões de euros com o governo dominado pelo Syriza. Mas agora a troika é um quarteto: além dos representantes do Fundo Monetário Internacional, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu, inclui ainda técnicos do Mecanismo Europeu de Estabilidade. E o FMI, que o primeiro- ministro Alexis Tsipras tentou, sem êxito, que ficasse fora do terceiro resgate, também terá um novo rosto na Grécia: Delia Velculescu, economista romena, conhecida pela dureza com que dirigiu as negociações com Chipre no âmbito do programa de assistência da pequena ilha. Delia chegou na quinta- feira à noite à Grécia e são de esperar embates violentos entre o governo do Syriza e a mulher a quem os media europeus já chamaram de tudo um pouco: desde “Draculescu” a “versão morena da diretora- geral do FMI Christine Lagarde”, passando por “dama de ferro”.
“Ela tem uma reputação muito negativa em Chipre”, declarou ao jornal britânico The Guardian o economista Alexander Apostolides, da Universidade Europeia de Chipre. “Nós somos uma sociedade dominada por homens e o facto de ela ser uma mulher suscitou questões”, admitiu Apostolides, que foi conselheiro presidencial. Admitindo que Delia Velculescu até “é uma pessoa disponível para ouvir as ideias alternativas dos outros”, o também historiador sublinha que “desde que ela se foi embora a relação entre o FMI e Chipre tornou- se um pouco mais suave”. A romena, que vai para a Grécia substituir o indiano Rishi Goyal, viu o seu lugar na missão cipriota ocupado pelo americano Mark Lewis. Segundo o jornal grego Protothema, a dada altura das discussões o presidente de Chipre, Nicos Anastasiades, terá levantado uma cadeira na direção de Delia Velculescu, uma informação que o líder cipriota nega.
“A sua nomeação é um sinal de como os bancos na Grécia vão ser tratados. Devemos esperar que ela insista numa forte recapitalização dos bancos pois não vai aceitar que os esforços de recapitalização anteriormente feitos sejam considerados suficientes”, avisou o econo-
Delia Velculescu, natural da Roménia, chegou na quinta- feira à noite a Atenas mista Apostolides. Atenas tem de pagar, a 20 de agosto, um reembolso de 3,2 mil milhões de euros ao Banco Central Europeu, relativo aos anteriores resgates ( até hoje, os vários governos gregos fizeram dois pedidos de assistência financeira de 240 mil milhões de euros). As três próximas semanas serão por isso de discussões intensas, com o Syriza mais dividido pelo acordo obtido com os credores. E Tsipras a tentar fazer um controlo de danos ou então a decidir anteci- par as eleições legislativas ( as últimas foram a 25 de janeiro). O chefe do governo grego propôs na quinta- feira um congresso extraordinário do partido em setembro.
Com um mestrado em Economia, tirado na Universidade Johns Hopkins, no Maryland, EUA, Velculescu entrou no FMI em 2002. Sete anos mais tarde, antes de o ex- primeiro- ministro grego George Papandreou ter pedido o primeiro resgate em abril de 2010, a economista romena assinou um review sobre a economia grega. Entre 2012 e 2014 representou o FMI nas negociações com Chipre, o quarto país da União Europeia e da zona euro a pedir um resgate ( depois de Grécia, Irlanda e Portugal, a Espanha só pediu para os bancos).
Pouco mais se sabe sobre o rosto do fundo em Atenas e, apesar de pedida mais informação, o gabinete de imprensa do FMI disse ao DN que “só partilha os perfis dos membros e gestores seniores”. Segundo os media romenos, citados pelo jornal britânico The Guardian, Delia Velculescu estudou na cidade romena de Sibiu, na Transilvânia, tendo tido aulas extracurriculares de Física com o atual presidente da Roménia, Klaus Iohannis.
Além da Grécia e de Chipre, a economista romena também já analisou as economias de outros países como Itália e Islândia, sublinhou a Bloomberg. Velculescu chegou à capital grega na quinta- feira à noite rodeada de fortes medidas de segurança. Segundo escreveu o jornal grego Protothema, veio acompanhada de 20 seguranças e ficou no hotel Hilton. Apesar da sua presença em Atenas, o FMI já avisou que participa nas negociações mas só decidirá entrar num terceiro resgate numa segunda fase, quando a Grécia tiver concordado com um conjunto de reformas e depois de os credores da zona euro terem concordado com a reestruturação da dívida do país.