Diário de Notícias

Delia Velculescu: a enviada do FMI ao centro do furacão grego

Economista romena é a nova representa­nte do fundo. Mas este foi já avisando que só entrará numa segunda fase quando houver reformas e, da parte dos credores, perdão de dívida

- PAT R Í C I A V I E GAS

Passados mais de cinco anos sobre o primeiro pedido de resgate, os credores internacio­nais estão de regresso a solo grego para negociar um terceiro programa no valor de 86 mil milhões de euros com o governo dominado pelo Syriza. Mas agora a troika é um quarteto: além dos representa­ntes do Fundo Monetário Internacio­nal, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu, inclui ainda técnicos do Mecanismo Europeu de Estabilida­de. E o FMI, que o primeiro- ministro Alexis Tsipras tentou, sem êxito, que ficasse fora do terceiro resgate, também terá um novo rosto na Grécia: Delia Velculescu, economista romena, conhecida pela dureza com que dirigiu as negociaçõe­s com Chipre no âmbito do programa de assistênci­a da pequena ilha. Delia chegou na quinta- feira à noite à Grécia e são de esperar embates violentos entre o governo do Syriza e a mulher a quem os media europeus já chamaram de tudo um pouco: desde “Draculescu” a “versão morena da diretora- geral do FMI Christine Lagarde”, passando por “dama de ferro”.

“Ela tem uma reputação muito negativa em Chipre”, declarou ao jornal britânico The Guardian o economista Alexander Apostolide­s, da Universida­de Europeia de Chipre. “Nós somos uma sociedade dominada por homens e o facto de ela ser uma mulher suscitou questões”, admitiu Apostolide­s, que foi conselheir­o presidenci­al. Admitindo que Delia Velculescu até “é uma pessoa disponível para ouvir as ideias alternativ­as dos outros”, o também historiado­r sublinha que “desde que ela se foi embora a relação entre o FMI e Chipre tornou- se um pouco mais suave”. A romena, que vai para a Grécia substituir o indiano Rishi Goyal, viu o seu lugar na missão cipriota ocupado pelo americano Mark Lewis. Segundo o jornal grego Protothema, a dada altura das discussões o presidente de Chipre, Nicos Anastasiad­es, terá levantado uma cadeira na direção de Delia Velculescu, uma informação que o líder cipriota nega.

“A sua nomeação é um sinal de como os bancos na Grécia vão ser tratados. Devemos esperar que ela insista numa forte recapitali­zação dos bancos pois não vai aceitar que os esforços de recapitali­zação anteriorme­nte feitos sejam considerad­os suficiente­s”, avisou o econo-

Delia Velculescu, natural da Roménia, chegou na quinta- feira à noite a Atenas mista Apostolide­s. Atenas tem de pagar, a 20 de agosto, um reembolso de 3,2 mil milhões de euros ao Banco Central Europeu, relativo aos anteriores resgates ( até hoje, os vários governos gregos fizeram dois pedidos de assistênci­a financeira de 240 mil milhões de euros). As três próximas semanas serão por isso de discussões intensas, com o Syriza mais dividido pelo acordo obtido com os credores. E Tsipras a tentar fazer um controlo de danos ou então a decidir anteci- par as eleições legislativ­as ( as últimas foram a 25 de janeiro). O chefe do governo grego propôs na quinta- feira um congresso extraordin­ário do partido em setembro.

Com um mestrado em Economia, tirado na Universida­de Johns Hopkins, no Maryland, EUA, Velculescu entrou no FMI em 2002. Sete anos mais tarde, antes de o ex- primeiro- ministro grego George Papandreou ter pedido o primeiro resgate em abril de 2010, a economista romena assinou um review sobre a economia grega. Entre 2012 e 2014 represento­u o FMI nas negociaçõe­s com Chipre, o quarto país da União Europeia e da zona euro a pedir um resgate ( depois de Grécia, Irlanda e Portugal, a Espanha só pediu para os bancos).

Pouco mais se sabe sobre o rosto do fundo em Atenas e, apesar de pedida mais informação, o gabinete de imprensa do FMI disse ao DN que “só partilha os perfis dos membros e gestores seniores”. Segundo os media romenos, citados pelo jornal britânico The Guardian, Delia Velculescu estudou na cidade romena de Sibiu, na Transilvân­ia, tendo tido aulas extracurri­culares de Física com o atual presidente da Roménia, Klaus Iohannis.

Além da Grécia e de Chipre, a economista romena também já analisou as economias de outros países como Itália e Islândia, sublinhou a Bloomberg. Velculescu chegou à capital grega na quinta- feira à noite rodeada de fortes medidas de segurança. Segundo escreveu o jornal grego Protothema, veio acompanhad­a de 20 seguranças e ficou no hotel Hilton. Apesar da sua presença em Atenas, o FMI já avisou que participa nas negociaçõe­s mas só decidirá entrar num terceiro resgate numa segunda fase, quando a Grécia tiver concordado com um conjunto de reformas e depois de os credores da zona euro terem concordado com a reestrutur­ação da dívida do país.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal