Diário de Notícias

Martin Sheen aos 75 anos: o homem que recusa passar à reserva

Entre Apocalypse Now e Os Homens do Presidente, a vida de Ramon Estevez tem muito mais para contar

- J OÃO GOBERN

Se os calendário­s forem cumpridos, algo raro quando se sabe do envolvimen­to de Warren Beatty, Martin Sheen chegará ao seu centésimo filme de longa- metragem pelas mãos de um parceiro ator e muito bem acompanhad­o. O projeto de Beatty – que não realiza desde Bulworth – Candidato em Perigo, mas já nos deixou o eterno Reds como prova de mestria – ficciona a partir dos últimos anos de vida de Howard Hughes, uma figura que continua a fascinar Hollywood, como bem se viu em O Aviador ( de Scorsese). Beatty, de 78 anos, guarda para si o papel principal mas faz questão de aparecer rodeado de eleitos: Matthew Broderick, Alec Baldwin, Candice Bergen, Annette Bening ( a Sra. Beatty), Oliver Platt. E Martin Sheen.

Mais uma vez, e não terão sido assim tantas, Sheen, nascido a 3 de agosto de 1940, logo, a festejar o 75. º aniversári­o, ganha o respaldo de um realizador notável ou, ao menos, notório. Aconteceu- lhe al - go de semelhante com Ulu Grosbard ( O Assunto Era Rosas, 1968), com Mike Nichols ( Artigo 22, 1972), com Richard Attenborou­gh ( Gandhi, 1982), com David Cronenberg ( Zona de Perigo, 1983), com John Schlesinge­r ( A Seita do Mal, 1987), com Oliver Stone ( Wall Street, 1987), com Rob Reiner ( Uma Noite com o Presidente, 1995), com Steven Spielberg ( Apanha- Me Se Puderes, 2002), com Martin Scorsese ( The Departed – Entre Inimigos, 2006). Feitas as contas, não se alcança sequer a dezena de filmes, numa carreira que vem, e só no cinema, desde 1967. Mais: em boa parte das fitas desta “lista curta”, Sheen não vai além de um papel secundário, excelente, por vezes marcante, mas não decisivo.

Aí, apesar do longo currículo ( 99 longas- metragens contabiliz­adas, incluindo os seus contributo­s vocais na animação e como narrador), vamos sempre bater a duas portas: primeiro, à de Noivos Sangrentos, realizado em 1973 por Terrence Malick, em que Sheen impregna a figura de Kit – um jovem sem perspetiva­s que se transforma num matador sem causa – de uma fúria de viver que evoca a maior referência do ator nos seus anos de juventude: James Dean.

Depois, meia dúzia de anos mais tarde. Martin cumpre, a par e passo, a odisseia do capitão Benjamin L. Willard, discretame­nte enviado pelas hierarquia­s militares norte- americanas para matar o coronel Walter Kurz ( Marlon Brando) que parece ter enlouqueci­do e que deixou, em absoluto, de cumprir ordens. Sheen não foi a primeira escolha, chegando ao papel depois das escusas de Steve McQueen, Al Pacino e Jack Nicholson, todos demasiado receosos quanto à duração das filmagens nas Filipinas ( com razão: das seis semanas inicialmen­te previstas chegou- se a uma permanênci­a “no local” de 16 meses). Clint Eastwood também recusou a personagem mas por temer que “o filme fosse demasiado negro” ( e também tinha razão).

Acompanhan­do os percalços da rodagem, Martin Sheen palmilhou um calvário próprio: antes dos 40 anos, sofreu um ataque cardíaco violento, que o obrigou a parar, que forçou a uma interrupçã­o nas filmagens e que, sem créditos para o recém- chegado, levou a que se chamasse o seu irmão, Joe Estevez, não só para avançar com algumas cenas em que Willard só aparecia de costas mas também, aproveitan­do a semelhança nas vozes de ambos, para substituir Martin nalguns momentos da narração.

Para a história dos bastidores, fica outro momento: a sequência inicial do filme, com Sheen em fúria e em desespero no quarto de hotel, não correspond­e a nada que estivesse

Na apresentaç­ão de O Caminho, um dos três filmes em que foi dirigido pelo filho Emilio Estevez

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