Diário de Notícias

Narcos. Estreia do Netflix em espanhol, mas feita por brasileiro­s

Wagner Moura teve de aprender castelhano e engordar 20 quilos para interpreta­r o traficante de droga Pablo Escobar na nova série original do serviço de streaming . Club de Cuervos é outra das produções próprias da plataforma

- A NA R I TA GUERRA, L o s A n g e l e s

Dois dos responsáve­is por uma das produções originais mais esperadas do Netflix, Narcos, são bem conhecidos do público português e falam a língua de Camões. São os brasileiro­s José Padilha ( realizador de Tropa de Elite e RoboCop) e Wagner Moura ( o capitão Nascimento em Tropa de Elite), que interpreta Pablo Escobar – o maior traficante de droga de todos os tempos. “Eu nem sequer falava espanhol. Fui para a Colômbia e estudei na universida­de para poder interpreta­r Escobar”, revelou Wagner Moura numa mesa- redonda privada, durante a digressão da Television Critics Associatio­n ( TCA), em Los Angeles. “Foi a coisa mais difícil que alguma vez fiz na vida. Tive de aprender uma nova língua para um papel, é absurdo”, referiu. O realizador José Padilha concordou: “Eu devia estar completame­nte louco!”

Mas a loucura deu certo, mesmo obrigando Wagner Moura a engordar 20 quilos para encarnar o traficante colombiano, que entrou na lista da Forbes de homens mais ricos do mundo. “No final, tive de usar uma barriga falsa, não conseguia engordar aquilo tudo.” A série, com dez episódios de uma hora, conta ainda com o brasileiro André Mattos e o chileno Pedro Pascal – conhecido pelo papel de Oberyn Martell na série A Guerra dos Tronos. “Não precisamos de dragões. Temos cocaína”, brincou. Pascal interpreta o papel de Javier Peña, um agente que foi enviado à Colômbia para assassinar Escobar.

Esta série não é um documentár­io, mas tenta ser o mais fiel possível aos factos – motivo pelo qual são mantidas as línguas originais das personagen­s. “Queríamos ser autênticos. No mundo real, os americanos falavam inglês uns com os outros e os colombiano­s falavam espanhol. Num filme de um grande estúdio, duvido que permitisse­m isso. Mas o Escobar a falar inglês? Não conseguia fazer isso”, disse Padilha. Talvez seja por isso que o recente filme Escobar: Lost Paradise, com Benicio del Toro e Josh Hutcherson, tenha fracassado.

Uma das diferenças entre as séries originais do Netflix e as tradiciona­is é que é dada maior liberda- O brasileiro Wagner Moura ( ao lado), que vimos em Tropa de Elite, é o protagonis­ta da nova série do Netflix, Narcos. Em baixo, o ator ao lado do colega do projeto Pedro Pascal, que participou recentemen­te em A Guerra dos Tronos de aos criadores, porque não há “ditadura” das audiências. Cada série é pensada com um todo, sem pressão sobre o episódio- piloto, e quando estreia são lançados todos os episódios de uma vez. O Netflix tem 65 milhões de assinantes em todo o mundo – o serviço de streaming chega a Portugal em outubro – e cada vez aposta mais em programaçã­o original, porque tem dado frutos – não é só o sucesso estrondoso de House of Cards e Orange is the New Black, mas também de outros programas, que no total receberam 34 nomeações para os Emmys 2015.

Narcos faz parte desta estratégia. Mas mais ambicioso ainda, no que toca à língua, é Club de Cuervos, a primeira produção integralme­nte em espanhol da empresa norte- - americana. O realizador é o mexicano Gaz Alazraki, que explica como é trabalhar no novo modelo. “Assim que disse que isto era para o Netflix, tive acesso a talentos com os quais quis trabalhar a vida toda e a quem não interessa nada a não ser a oportunida­de de expressão artística que a plataforma te dá”, revelou, em entrevista ao DN.

A série parte de um clube, Cuervos de Nuevo Toledo, mas não é sobre futebol. “A irmã, que tem melhores qualificaç­ões, não pode liderar o clube por ser mulher. É uma mensagem importante sobre o que se passa na nossa cultura latina, o que damos por certo quando tomamos decisões”, refere Alazraki. Há também uma sátira mordaz à corrupção no futebol e à importânci­a que damos ao desporto rei. “É um jogo. Porque se importam? Porque investem tanto?”, questiona.

Já o ator Luis Gerardo Méndez, que interpreta o presidente do clube, Chava Iglesias, acrescenta: “Um dos temas mais interessan­tes é ver como o poder corrompe, o que acontece quando cai nas mãos erradas.”

A par destas produções, o Netflix prepara o lançamento de quatro minidocume­ntários da comediante Chelsea Handler, Chelsea Does, Jessica Jones, da Marvel, e Master of None , de Aziz Ansari, além dos que já começaram a ser exibidos, como o remake de Wet Hot American Summer. Primeiro filme estreou- se em junho O primeiro filme original do Netflix, What Happened, Miss Simone?, estreou- se no final de junho e tem recebido boas críticas. É um trabalho de Liz Garbus, conhecida por Love, Marilyn, que explora a vida e carreira da cantora afro- americana Nina Simone.

“Nina é uma das grandes artistas do século XX, mas não apreciada como tal”, disse Garbus. Se visse o que está a acontecer com as relações raciais na América, “seria a primeira a admitir que nada mudou”. Ativista e incompreen­dida, a cantora morreu em 2003.

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