Diário de Notícias

146 medalhas sob desconfian­ça

- NUNO F E R NANDES

A um ano dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro rebentou um escândalo de dimensões ainda difíceis de prever. Uma grande investigaç­ão do jornal The Sunday Times e da televisão alemã ARD, que tiveram acesso a mais de 12000 testes sanguíneos de 5000 atletas, revela que cerca de um terço das medalhas em Mundiais e Jogos Olímpicos entre 2001 e 2012 ( um total de 146, entre elas 55 de ouro) foram conquistad­as por atletas que apresentar­am testes sanguíneos com valores anormais e que a Federação Internacio­nal de Atletismo ( IAAF) decidiu esconder.

A Agência Mundial Antidoping já anunciou que na sequência destas graves denúncias vai alargar a investigaç­ão que tem em curso em relação à Rússia ( o país como mais casos suspeitos), assumindo estar “muito alarmada” com a situação. Já a IAAF, que durante anos manteve estes dados em segredo nos seus escritório­s sediados no Mónaco, disse estar “consciente das graves acusações contra a integridad­e e a eficácia do seu programa antidopage­m” e lembrou que as acusações são “baseadas em dados médicos privados e confidenci­ais da IAAF, obtidos sem o seu consentime­nto”.

O The Sunday Times ouviu dois dos maiores especialis­tas mundiais em questões de doping e ambos conside- ram a situação “extremamen­te grave”, destacando que existem 800 casos em que os testes sanguíneos são anormais e indiciam claramente que os atletas podiam estar sob o efeito de doping. Michael Ashenden, que deu o seu test emunho no caso de Lance Arm - strong, considera “uma traição vergonhosa” o facto de a IAAF, que devia controlar este tipo de situações, ter optado ocultar estes dados.

Nas reportagen­s que denunciara­m o caso não são referidos os atletas suspeitos. O The Sunday Times, contudo, revela que os campeões Usain Bolt ( Jamaica) e Mo Farah ( Reino Unido) estão limpos, mas que existe uma atleta britânica de topo que apresenta índices altamente suspeitos.

As federações da Rússia e do Quénia, países que estão entre os que apresentam um maior número de casos de atletas suspeitos, já rejeitaram as denúncias de uso generaliza­do de subs - tâncias dopantes. O ministro russo dos Desportos, Vitaly Mutko, relacionou as acusações de doping com a luta pelo poder no seio da Federação Internacio­nal de Atletismo. “Não podemos ceder ao pânico. Atualmente, ninguém dirige verdadeira­mente a IAAF. Parece um imenso bazar.”

Já a federação queniana considerou o documentár­io emitido pela televisão alemã “calunioso”, por lançar “acusações graves sobre a utilização de doping” e pôr em causa “a integridad­e de antigos e atuais dirigentes”.

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