Portugal tem 32 casos suspeitos. Tantos como os Estados Unidos
Presidente da Federação Portuguesa de Atletismo rejeita números apontados na investiThe Sunday Times e diz ter a certeza de que 99,99% dos atletas portugueses não se dopam
A comitiva portuguesa que participou nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres. Jéssica Augusto diz ao DN que em Portugal existe um apertado controlo de testes feitos aos atletas Portugal é apontado na investigação publicada no jornal The Sunday Times como tendo 32 casos de atletas com análises sanguíneas anormais, o que corresponde a 8% do total do nosso país. Curiosamente, este número, 32, também se verifica... nos Estados Unidos, uma das maiores potências do atletismo mundial e com um número incomparavelmente superior de atletas. A Rússia é a indesejada “campeã” nesta tabela, com um total de 30% de análises duvidosas, seguida de muito perto pela Ucrânia, com 28%.
Jorge Vieira, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo ( FPA), mostra- se muito crítico relativamente a esta investigação tornada ontem pública pelo The Sunday Times e pela televisão alemã ARD. “Só esse dado de Portugal ter tantos casos suspeitos como os EUA é revelador de total falta de fiabilidade. Basta analisar o atletismo mundial, lembrar os casos que houve nos dois países e ter em conta a dimensão de um e outro país”, começa por referir ao DN, não escondendo a sua indignação e lançando a suspeita: “Essa reportagem foi em parte feita por ingleses e já se sabe que quando eles não ganham lançam sempre suspeitas sobre os vencedores”.
O responsável pelo atletismo nacional faz questão de frisar que “é muito subjetivo falar em valores suspeitos e a partir daí fazer- se a transposição para o doping”. E dá um exemplo verificado numa outra modalidade: “Na época em que o Boavista foi campeão nacional de futebol [ n. d. r.: 2000/ 01] lançou- se a ideia de que os seus jogadores estavam no limite legal dos valores de cafeína, mas a verdade é que estes não foram ultrapassados. Afinal de contas, o que é isso de estar quase dopado? É algo que não existe, é o mesmo que dizer que uma mulher está quase grávida!”
Jorge Vieira acusa que “quem está de facto dopado são muitos daqueles que dizem que há doping no desporto”, realçando que “não existe atividade tão escrutinada em matéria de doping como o desporto e que foi o própria modalidade a estabelecer regras de controlo, para premiar os que jogam dentro das regras e punir aqueles que as quebram”.
O presidente da FPA está seguro de que “99,99% dos atletas portugueses não se dopam” e garante que poucos países estão mais avançados em matéria de controlo. “O passaporte biológico [ ver entrevista ao lado a Luís Horta] é seguríssimo e em Portugal há um controlo que chega a ser quase absurdo, pois a qualquer momento uma brigada antidopagem pode irromper pela casa de um atleta”, destaca. Por outro lado, “se um atleta se atrasar uns minutos que seja no envio de um formulário a indicar a sua localização, para efeitos de controlo antidoping surpresa, é automaticamente punido com uma suspensão que pode ir de um a dois anos”. E dá mesmo o exemplo de Elias Leal, antigo recordista nacional do dardo, que “devido a um atraso na entrega dos formulários foi suspenso”. Refira- se que na base da pena de um ano aplicada a este ex- atleta do Sporting estiveram quatro incumprimentos por ausência de envio, dentro do pra- A capa do The Sunday Times que revela o escândalo no atletismo zo legal, ou seja, no espaço de um ano e meio, da sua localização. De acordo com a ADoP ( Autoridade Antidopagem de Portugal), Elias Leal “foi devidamente notificado em relação a cada um dos incumprimentos”.
Contactado pelo DN a propósito das revelações que apontam para um número exagerado de atletas com índices suspeitos, Nélson Évora, o mais conceituado nome do atletismo português da atualidade, campeão olímpico e mundial, referiu que não comenta especulações. Já Jéssica Augusto, que participou nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 e Londres 2012, e em vários campeonatos do mundo, confessa não ter a certeza se estas análises ao sangue consideradas suspeitas correspondem efetivamente a casos de doping. “Sinceramente não sei, mas acho muito bem que se faça o maior número de testes e controlos, porque não pode haver o campeonato dos dopados e o campeonato dos que seguem as regras”, referiu ao DN.
Jéssica Augusto confirma que os atletas são constantemente controlados em Portugal. “Só durante a minha gravidez [ foi mãe há cerca de mês e meio] isso aconteceu por quatro vezes e ao longo da minha carreira foram inúmeros os controlos”, refere.