No “limite das rodas finas”, malabarista Filipe Cardoso conquista Sr. ª da Graça
Português dá recital a descer para terminar o dia com triunfo categórico em Mondim de Basto. Jóni Brandão consuma dobradinha da Efapel e põe em causa chefe de fila Alejandro Marque. Gustavo Veloso mantém amarela
A W52- Quinta da Lixa, do camisola amarela Gustavo Veloso, controlou a corrida em ritmo lento até à subida final. Só no Monte Farinha a corrida animou Arriscou a descer, ganhou a subir. Filipe Cardoso demonstrou ontem que controla a bicicleta como ninguém no pelotão nacional e, a solo, arrancou na descida do Alvão para acabar com os braços no ar na quarta etapa da Volta a Portugal, cuja meta estava instalada na mítica Senhora da Graça, em Mondim de Basto.
Aquele a quem chamam Peter Sagan português – devido aos malabarismos que faz com a bicicleta – saltou do pelotão logo aos 22 ( de 159,4) quilómetros para integrar a fuga do dia, mas foi quando ultrapassou o Alvão que arriscou tudo e foi à procura do triunfo mais importante da carreira.
Chegou ao sopé do Monte Farinha, uma contagem de primeira categoria, isolado e geriu como pôde os quase cinco minutos de vantagem que acumulara para o grupo dos favoritos à vitória na “grandíssima”.
“O ciclismo é um desporto de risco. Como diz o ditado, quem não arrisca não petisca, e eu hoje [ on- tem] fui ao limite muitas vezes, ao limite da aderência das nossas rodas finas”, afirmou Filipe Cardoso, ainda em êxtase com o triunfo que o deixou – palavras suas – autenticamente “vazio”.
Estava cumprido um objetivo que definira em criança, motivo pelo qual cruzou a meta com as mãos na cabeça, como quem não acredita naquilo que lhe está a acontecer. “Sonhar todos sonham, realizar é que nem sempre é possível”, reforçou o corredor de 31 anos, natural de Santa Maria da Feira.
Mesmo tendo andado escapado quase 138 quilómetros, primeiro com a companhia de Oscar Brea ( Efapel), do líder da montanha, Bruno Silva ( LA- Antarte), Jim van der Berg ( Parkhotel Valkenburg), Johannes Weber ( Team Stuttgart), Sten van Gucht ( Verandas Willems), Joeri Calleeuw ( Verandas Willems) e Timur Maleev ( ISD Continental Team), e depois a solo, Cardoso completou a exigente jornada a uma média de 35,07 quilómetros por hora, num total de 4.26.14 horas para ligar Alvarenga à Senhora da Graça. Filipe Cardoso diz que
vencer a etapa da Senhora da Graça era um sonho de criança
Apesar de imune ao que se passava mais atrás e sempre de dentes cerrados, o ciclista acabou por chegar ao cume do Monte Farinha com o colega de equipa Jóni Brandão e com o camisola amarela, Gustavo Veloso, nas suas costas.
A tática conservadora das equipas lusas, à imagem das da Astana no Giro e da Movistar no Tour – conformaram- se em ter dois corredores no pódio ao invés de lutarem pelo primeiro –, permitiu que a W52- Quinta da Lixa, formação do líder da corrida, controlasse a seu bel- prazer a corrida, com o sprinter Samuel Caldeira a puxar pelo pelotão no duríssimo Alvão.
Durante os oito quilómetros da ascensão final, a vantagem ( e o conforto) de Filipe Cardoso ia diminuindo, embora só a quatro quilómetros da meta a Rádio Popular- Boavista, de Rui Sousa, tenha “incendiado” a corrida, afastando das decisões José Gonçalves ( Caja Rural), até ontem terceiro na geral.
De seguida, entrou ao trabalho a LA- Antarte, em nome do trio Amaro Antunes, Hernâni Broco e Sérgio Sousa, ao passo que Sandro Pinto ( Louletano- Ray Just Energy) tentou saltar do grupo a dois quilómetros. Ricardo Mestre, vencedor da edição da Volta em 2011, começava a ceder e perdia o contacto com o grupo, caindo para 15. º da classificação, a 1.43 minutos da liderança, graças aos 58 segundos que perdeu para Veloso e Brandão.
Também Rui Sousa pagou caro o atrevimento da sua formação e descolou já no final da subida. Amaro Antunes agitou ainda mais a corrida e provocou uma resposta veemente de Jóni Brandão, ao qual só Veloso respondeu prontamente e ao centímetro. A organização creditou- os com o mesmo tempo do vencedor do dia, tendo Amaro Antunes chegado quatro segundos volvidos, na companhia do braço direito de Veloso, Delio Fernández.
O espanhol segurou o segundo posto na geral, a 17 segundos do chefe de fila, enquanto Brandão está a 35. Mais atrasado, a 55 segundos, está o chefe de fila da Efapel e vencedor da Volta em 2013, Alejandro Marque.
Hoje, a terceira categoria na chegada a Viana do Castelo, Santa Luzia, e promete novo embate entre os favoritos. A etapa começa em Braga e tem 169,4 quilómetros.