Diário de Notícias

“É como ir a Fátima”. Milhares de fãs voltaram a encher a mítica etapa da Volta a Portugal

Chegaram de todos os pontos do país e muitos até da Galiza. O objetivo não é só ver o pelotão passar. O convívio com febras, sardinhas, vinho e cerveja é já um ritual

- J OS É A NTÓNI O C A R DOSO

TRADIÇÃO “Já passaram os ciclistas?”, pergunta António, perto da uma da tarde, ainda meio ensonado, consequênc­ia de uma “noite de festa” que o fez acordar tarde. Viajou desde Alquiedão, em Leiria, para juntamente como uma dúzia de amigos se juntar aos milhares que ontem se deslocaram ao alto da Senhora da Graça para assistir à mítica etapa da Volta a Portugal.

Os visitantes do Monte Farinha, em Mondim de Basto, vieram dos mais variados pontos do País e da Galiza. O espanhol Pedro Ibarra diz que há mais de dez anos que vem ver esta etapa da Volta: “Viajo também pelo convívio com os muitos amigos portuguese­s que fiz ao longo dos anos. Não há melhor do que isto. Então o vinho...”

Toda a extensão da subida do Monte Farinha – cerca de seis quilómetro­s – está cheia de gente para ver o pelotão passar. E à hora do almoço o odor do frango de churrasco, das febras e das sardinhas mistura- se no ar. “Aqui ninguém passa fome. Trazemos tudo o que precisamos, desde comida a bebida”, diz Artur Santos, que viajou desde Peniche. Da Trofa chegaram Vítor Sousa e José Santos. “São 20 anos consecutiv­os a vir aqui. É como ir a Fátima. Habituamo- nos e agora só quando não pudermos andar é que não viremos”, dizem, soltando uma gargalhada.

Mas festa é noutro local da subida. Ali a música é ao vivo com um grupo de bombos. São mais de meia centena de indivíduos que sob o comando de Joaquim Sousa ali estão desta sexta- feira. “E só vamos embora esta segunda- feira”, garante o anfitrião enquanto assa as febras: “Eles comem muito, mas bebem bem mais. Desde ontem [ sábado] à noite já foram 602 cervejas. Isto fora o vinho.”

Mas não é só na subida da Senhora da Graça que se concentram os visitantes de Mondim de Basto. Na vila anfitriã da etapa são milhares os que aguardam pela passagem dos ciclistas. “É um investimen­to que a câmara faz e que atualmente já traz um retorno muito grande ao concelho. E não só neste dia, pois aos fins de semana e durante todo o ano milhares de ciclistas amadores nacionais e estrangeir­os tentam a subida. Para eles é um triunfo conseguire­m chegar ao topo, e obviamente quem ganha com isto é o comércio local”, afirma ao DN o presidente da câmara, Humberto Sequeira.

Quem tentou a subida de cerca de seis quilómetro­s pela primeira vez foi Diana, 27 anos: “Já pratico ciclismo há alguns anos e tinha este sonho de subir a Senhora da Graça. Já levo umas horas de subida, mas garanto que vou conseguir”, diz.

“Sou emigrante na Namíbia, onde sou chefe de cozinha num restaurant­e de comida portuguesa, mas marco sempre as minhas férias para poder vir à Senhora da Graça”, confessa Jorge D’Alte ao DN, acrescenta­ndo: “Passo aqui um dia maravilhos­o em convívio com os amigos de Famalicão. Não troco isto por nada.”

Ao início da tarde, enquanto uns se divertem e outros tentam recuperar da noite agitada, milhares de ciclistas amadores vão também eles fazendo a escalada, horas antes de o pelotão passar pelo local. O presidente da Câmara de Mondim de Basto é um dos espectador­es mais atentos e deixa uma promessa: “Enquanto eu puder, a etapa da Senhora da Graça na Volta a Portugal irá manter- se. Para já assinámos um contrato até 2017, depois se verá. Mas a manterem- se as mais- valias para o concelho, não tenho dúvidas de que vamos continuar a receber esta etapa. A Volta a Portugal sem a tirada da Senhora da Graça não tem graça nenhuma”, resume com um sorriso Humberto Sequeira.

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