Diário de Notícias

Joe Biden ameaça entrar na corrida contra Hillary

Vice- presidente já terá tido reuniões para planear a entrada na corrida à Casa Branca. Sondagens revelam que americanos o consideram “mais honesto” do que a ex- primeira- dama

- HELENA TECE DEIRO

Vice- presidente de Obama cumpre um pedido do filho, antes de morrer. Sondagens põem Hillary Clinton em dúvida.

Se foi o pedido do filho Beau antes de morrer ou se é por as últimas sondagens mostrarem que Hillary Clinton pode não vencer as primárias no Iowa e em New Hampshire não se sabe, mas a verdade é que o vice- presidente Joe Biden parece estar mesmo a pensar entrar na corrida à nomeação democrata para as presidenci­ais de 2016 nos EUA. Segundo o The New York Times ( NYT), o número dois de Barack Obama já começou a contactar doadores e líderes do partido que ainda não se compromete­ram com a campanha da ex- primeira- dama ou que procuram uma alternativ­a.

A decisão final só deve ser conhecida em setembro, mas se for positiva resta saber se Biden ainda vai a tempo de bater a bem oleada máquina de campanha de Hillary.

Segundo a colunista do NYT Maureen Dowd, Biden tem tido reuniões na sua casa de Washington para “explorar a ideia de desafiar Hillary no Iowa e em Hampshire”. Estes dois estados são os primeiros a organizar primárias, logo no início de 2016, e são vistos como um teste às hipóteses dos candidatos. Nas últimas semanas, Hillary – hiperfavor­ita quase incontesta­da à nomeação democrata – tem- se deparado com o aumento de popularida­de do senador do Vermont Bernie Sanders, um autodenomi­nado socialista que conseguiu levar multidões até aos seus comícios naqueles estados.

Segundo o NYT, Steve Ricchetti, o chefe de gabinete de Biden, iniciou as consultas nos últimos meses de vida de Beau. O procurador- geral do Delaware, que em maio, aos 46 anos, morreu devido a um cancro no cérebro, tentara convencer o pai a avançar para que a Casa Branca não voltasse para as mãos de um Clinton e para dar aos EUA “os valores dos Biden”. Um incentivo apoiado por Hunter, o outro filho do vice- presidente.

Biden, que garante “estar concentrad­o na família e imerso no emprego que tem”, deverá anunciar a decisão no final do verão. Mas caso opte mesmo por avançar, tem vários – e grandes – desafios pela frente. A começar pelo desejo de muitos democratas de ver uma mulher na Casa Branca. Já para não falar no atraso que tem em relação a Hillary Clinton em termos de fundos recolhidos, com a ex- secretária de Estado a levar- lhe milhões de avanço.

Mas não são só os adversário­s que o vice- presidente deve temer durante uma campanha; é também ele próprio e a sua conhecida tendência para as gafes. E nem o seu futuro “patrão” escapou à sua falta de tato, quando em plena campanha para as presidenci­ais de 2008 Biden disse que Obama era “o primeiro afro- americano comum a ser articulado e inteligent­e e limpo”. Nada que impedisse Obama de convidar Biden para seu vice- presidente. E não parece estar arrependid­o. Ainda na semana passada afirmava ter sido “a melhor decisão política” que já tomou. Prudente, o presidente tem evitado o apoio público à campanha da sua antiga secretária de Estado, recusando também pronunciar- se sobre uma entrada de Biden na corrida.

A confirmar- se a candidatur­a do vice- presidente, os democratas ver- se- iam confrontad­os com uma escolha entre duas tradições. É que se nos primeiros anos após a independên­cia era muitas vezes o secretário de Estado a suceder ao presidente – James Madison, James Monroe ou John Quincy Adams são exemplos –, mais tarde tornou- se comum ser o vice a suceder ao presidente – Calvin Coolidge, Harry Truman ou George Bush pai.

Aos 72 anos, Biden já tentou por duas vezes a nomeação democrata – em 1988 e 2008 –, mas 2016 pode ser a sua última hipótese de realizar o sonho de ser presidente. E a última sondagem do instituto Quinnipiac não só o mostra com tantas hipóteses quanto Hillary frente aos principais adversário­s republican­os – Jeb Bush, Scott Walker ou Donald Trump –, como revela que os americanos o consideram “mais honesto e de confiança” do que a mulher do ex- presidente Bill Clinton.

Nascido na Pensilvâni­a, mas criado no Delaware por um pai vendedor de automóveis, Biden estudou Direito, apesar de gostar mais de futebol americano e de festas do que de estudar. Eleito para o Senado em 1972, pouco depois perdia a mulher e a filha de 1 ano num acidente de automóvel que deixou os outros dois filhos do casal gravemente feridos. Foi no hospital, ao lado das camas onde Beau e Hunter recuperava­m, que tomou posse. E desde então passou a fazer viagens de comboio diárias entre o Delaware e Washington para estar perto da família. É casado em segundas núpcias com a professora Jill Jacobs, com quem tem uma filha, Ashley.

Biden, de 72 anos, tentou nomeação democrata em 1988 e 2008

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Na campanha de 2008, Obama foi alvo de uma das frases polémicas de Biden, mas o presidente garante que convidar o antigo adversário para vice foi “a melhor decisão política” que já tomou

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