Dirceu preso na Lava- Jato por repetir crimes do Mensalão
Polícia diz que a corrupção na Petrobras começou quando o antigo braço direito de Lula estava no governo e com as mesmas práticas do escândalo anterior. Defesa nega tudo
Braço direito de Lula “persistiu nos subornos mesmo depois de sair do governo”, disse Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava- Jato, e não põe de parte a hipótese de o ex- presidente ser investigado.
José Dirceu foi ontem detido pela Polícia Federal durante a 17. ª etapa da Operação Lava- Jato. O antigo ministro da Casa Civil do governo Lula da Silva, de quem foi braço direito, está tão envolvido no Petrolão, o esquema de corrupção em torno da petrolífera Petrobras, co - mo no Mensalão, esquema de compra de deputados revelado em 2005 pelo qual cumpre ainda prisão domiciliária, acredita o Ministério Público. O advogado de Dirceu nega o envolvimento do cliente. A detenção de um dos seus mais históricos militantes é um golpe para o Partido dos Trabalhadores ( PT) da presidente Dilma Rousseff e principal sustentáculo do governo.
“Não são os operacionais que dizem ‘ faça’, estes esquemas obedecem a uma estrutura piramidal, foi José Dirceu quem colocou Renato Duque e Paulo Roberto Costa [ dois diretores da Petrobras envolvidos no Petrolão e que assinaram entretanto acordo de delação premiada] nos cargos, a partir daí o DNA é o mesmo, da mesma forma que determinou a realização do Mensalão, determinou a do Petrolão, agora não mais com fim partidário mas com fim de enriquecimento pessoal”, disse o procurador Carlos Li - ma nas horas após a detenção.
“Era a José Dirceu que competia distribuir cargos na administração Lula da Silva”, prosseguiu o magistrado. E a seguir, questionado sobre se Lula também poderia vir a ser investigado, afirmou que “nenhuma pessoa está livre de o ser, muitas investigações seguem andamento sob sigilo”. Por outro lado, Sérgio Moro, que conduz a Lava- Jato, disse que “Dirceu persistiu nos subornos mesmo depois de sair do governo”.
Delatores como Milton Pasco - wich, intermediário do processo, e Ricardo Pessoa, presidente da construtora OAS, citaram o nome de Dirceu nos seus depoimentos.
Operação Pixuleco A detenção de Dirceu fez parte da 17. ª etapa da Operação Lava- Jato, chamada Pixuleco, gíria brasileira para uma pequena gratificação e, de acordo com os investigadores, o termo que João Vaccari Neto, também detido no âmbito do Petrolão, usava para se referir aos subornos do esquema.
A Operação Pixuleco começou às 06.00 de ontem, cumpriu 40 mandados judiciais, sendo três de prisão preventiva, incluindo a de Dirceu, cinco de prisão temporária, 26 de busca e apreensão e seis de condução coercitiva ( obrigação de depoimento). No total, 200 agentes foram necessários para a executar. O Ministério Público pediu entretanto o bloqueio de 20 milhões de reais, cerca de seis milhões de euros, das contas dos investigados.
Dirceu, 70 anos, foi detido em ca - sa em Brasília, onde cumpre prisão domiciliária desde novembro, con- denado por corrupção ativa a sete anos e 11 meses em 2013 no escândalo do Mensalão, a compra de deputados em troca de subornos pagos pelo estatal Banco do Brasil.
À partida, o ex- ministro de Lula e preso político durante a ditadura militar deve ser transferido para Curitiba, a cidade de onde o juiz Sérgio Moro conduz a Lava- Jato. Até lá fica numa cela de uma esquadra em Brasília, de seis metros quadrados com sanitário e chuveiro. Se for condenado neste processo, perde o direito à prisão domiciliária que obteve no caso do Mensalão. Segundo a Globo News, o investigado não disse uma única palavra no percurso de casa à esquadra.
Além de Dirceu, também o seu irmão Luiz Eduardo de Oliveira e Silva foi detido porque, acusam os investigadores, era a ele que competia ir às empresas pedir os valores envolvidos. Os dois eram sócios na JD Consultoria, empresa suspeita de receber 39 milhões de reais, equivalente a perto de 11 milhões de euros, por serviços que não foram executados. Defende o Ministério Público brasileiro que a JD era um dos canais por onde passavam os subornos da Petrobras.
Roberto Podval, o advogado de Dirceu que havia pedido há um mês um habeas corpus para o cliente, entretanto recusado, não se pronunciou ainda. Noutra ocasião, dissera que Dirceu está inocente de todas as acusações.
Governo blindado A ordem no Palácio do Planalto a partir de agora é blindar Dilma Rousseff e o governo porque Dirceu, que antecedeu a atual presidente na Casa Civil sob as ordens de Lula e que estava na calha para substituir o líder como candidato às eleições de 2010 antes do Mensalão, é das figuras mais facilmente associadas ao PT. “A prisão de um dos símbolos do partido coloca o partido de novo na mira da Lava- Jato”, defende Igor Gielow, colunista do jornal Folha de S. Paulo.
Ordem no Planalto agora é para blindar Dilma e evitar contágio da prisão de Dirceu